14 dezembro 2024
Um dos maiores vitoriosos das eleições municipais, o ministro da Educação, Camilo Santana (PT), evita se colocar como sucessor natural do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Para ele, “ninguém está preparado” para a aposentadoria da maior liderança da esquerda brasileira. Admite, no entanto, que o Partido dos Trabalhadores (PT) precisa formar novos quadros.
Camilo Santana elegeu em Fortaleza, no Ceará, o único prefeito petista entre as capitais, Evandro Leitão (PT). A vitória, segundo aliados, empoderou o ministro, que já vinha ganhando moral junto a Lula que avalia positivamente suas ações na área da educação. Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, na última quarta-feira, 27, Santana afirmou que sua missão é no Ministério da Educação (MEC), mas deu recados ao partido.
“Acho que ninguém está preparado para aposentadoria de Lula). O Lula é um fenômeno e se transformou em uma referência histórica para várias gerações”, afirma. “Ele muitas vezes passa mais energia do que muita gente nova, mas é claro que o partido precisa se preparar e precisa construir novas lideranças municipais, estaduais e nacionais, novos quadros”.
Na última eleição, o PT ampliou o número de prefeituras em relação a 2020, passando de 183 para 252 neste ano. O partido, no entanto, perdeu espaço em locais de grande influência, como Araraquara, governada por Edinho Silva (PT), um dos petistas mais próximos de Lula. Além disso, o partido obteve vitória em apenas uma capital: Fortaleza.
Nesse contexto, o ministro da Educação defende que o partido se volte para suas bases e tente compreender o movimento do eleitor. Para isso, defende que o PT tenha “humildade” e faça pesquisas robustas sobre a mudança de comportamento do eleitorado. Diz ainda que o próximo presidente da sigla deve ter a missão de aproximar o partido do eleitor.
“O PT teve uma estratégia diferente da última eleição em 2020, resolveu apoiar muitos candidatos de outros partidos. Isso é um ponto importante a ser avaliado. Outro ponto é que onde o PT lançou o candidato perdemos um número muito grande de municípios, principalmente em alguns estados, como o Estado de São Paulo. É preciso ser feita uma autocrítica para entender o comportamento do eleitor em relação aos candidatos do PT, da esquerda, da centro-esquerda”, disse.
Em São Paulo, o PT teve o pior resultado de sua História, com apenas quatro prefeituras: Mauá, na região do Grande ABC, e Matão, Santa Lúcia e Lucianópolis, no interior.
Camilo Santana diz que o partido precisa se adaptar à nova realidade política e as aspirações dos jovens mudou. “A realidade de dez, vinte anos atrás é muito diferente da realidade de hoje, o PT precisa entender que o momento é outro. Não é a mesma juventude de antes do Lula, que não tinha universidade, poder aquisitivo. A juventude de hoje, com 18 anos, não viveu essa época. Então a expectativa dessas pessoas também são outras”.
O ministro desconversa sobre possibilidade de vir a se lançar como uma opção futura do PT para a presidência. “Eu nunca sonhei em ser governador do meu estado. Aliás, nunca imaginei ser. Sonhar, sonhava. Eu sou muito grato ao presidente, é uma honra ter sido convidado para o Ministério da Educação. O único pensamento que tenho é dar minha contribuição. Para mim, o nosso candidato à reeleição é o presidente Lula”, disse.
Paula Ferreira/Caio Spechoto/Estadão