Foto: Coala Ayo/Divulgação/Aquivo
Éden Valadares, presidente do PT na Bahia 13 de março de 2025 | 08:45

A séria crise sucessória no PT da Bahia e seu impacto em 2026, por Raul Monteiro*

exclusivas

Em 45 anos de fundação na Bahia, o PT vive sua primeira crise sucessória séria. Ela foi deflagrada pela decisão do presidente estadual, Éden Valadares, de anunciar que não mais concorreria à reeleição faltando apenas quatro meses para o pleito que renovará todas as instâncias do comando partidário – nacional, estaduais e municipais. Na verdade, é mais uma crise no seio do grupo de Éden, cujo grande líder é o senador Jaques Wagner, do que de todo o partido, onde nos últimos meses surgiu uma onda forte por mudança cujo crescimento o atual dirigente parece não ter percebido ou simplesmente ignorou, o que a tornou impossível de ser agora surfada por ele.

Com efeito, nunca se pode dizer exatamente do PT, mesmo da Bahia, que é um partido pacificado, desde que surgiu no universo político brasileiro. Mas da fricção entre suas várias correntes internas sempre brotou a energia que o manteve vivo e pulsante, mesmo depois de ter chegado ao governo. O que ocorre agora depois de seis anos de gestão do grupo atual à frente da sigla é um processo de desgaste sem precedente em sua história que, se não for bem administrado pelas várias forças que a integram, pode levar a uma ruptura. Líderes petistas relatam nunca terem assistido a tamanha rejeição a um presidente desde 1980.

De lá para cá, todos, um por um, passaram pelo comando da agremiação sem o carimbo de desapreço pelos rumos da legenda como Éden, pelo menos, segundo os petistas históricos. Sua ascensão ao comando partidário, em 2019, foi vendida por seu grupo, Wagner à frente, como um sopro de renovação no partido que não se concretizou. Agora, é natural que o quadro adverso venha sendo naturalmente potencializado pela oposição – e ela já conta com seis candidatos -, de forma a não permitir que Éden consiga sair das cordas nem muito menos apresentar um nome para sucedê-lo. Aí reside exatamente o problema do presidente e de seu grupo.

Tudo leva a crer que a desistência da reeleição não foi um ato planejado, mas decorreu da surpresa com a imensa rejeição com que as bases o cercaram. Há notícias, não confirmadas pelo presidente, de que uma pesquisa teria desaconselhado qualquer tentativa de enfrentar o desgaste, sob pena de um forte vexame. O que não se sabe hoje é se foi só a percepção de Éden que esteve todo este tempo obinubilada ou a de todo o seu grupo. Afinal, ninguém desiste em março de concorrer a uma eleição que ocorrerá em julho, ainda mais sem possuir um nome para apresentar à sucessão, sem arcar com as consequências de sua, digamos, imprevidência.

Éden, apesar de jovem, como a ele se refere até hoje Wagner, não é menino e sabe o jogo que se arma tendo a sucessão no PT como eixo. Quem assumir o comando da legenda vai dar as cartas nas eleições de 2026, ano em que Jerônimo Rodrigues precisará do partido para exercer o direito natural de concorrer à reeleição em meio a uma disputa cada vez mais forte por influência no governo e, por que não, na política baiana, dos aliados Wagner e Rui Costa, ministro chefe da Casa Civil do governo Lula. Pelo visto, esse controle, exercido de forma competente pelo senador na composição da chapa de 2022, já lhe escapou das mãos. Não se sabe se por culpa só de Éden.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

Raul Monteiro*
Comentários