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O cientista político Paulo Fábio Dantas Neto 10 de março de 2025 | 09:18

Entrevista – Paulo Fábio Dantas: “O PT da Bahia ganhou a eleição, mas a luta pela opinião pública foi perdida ali também ”

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O extrato da pesquisa Quaest/Genial que mostrou melhora na avaliação do governador Jerônimo Rodrigues (PT), mas que também capturou uma desaprovação histórica do presidente Lula (PT) na Bahia, embaralhou o tabuleiro eleitoral que está em montagem para 2026 e pode fazer o PT baiano ter de se reinventar.

Enquanto a aprovação de Jerônimo saiu de 54% para 61%, Lula foi desaprovado por 51% dos baianos. Pela primeira vez, o número dos descontentes supera os que aprovam a gestão federal. É diante desse cenário que o professor Paulo Fábio Dantas, respeitado cientista político, fala com exclusividade ao Política Livre, interpretando os sinais de origem e as consequências dessa conjuntura.

Segundo ele, esse quadro deve gerar impactos nas eleições ao governo do Estado, que sempre foram puxadas pelo fator nacional. “Eu não acredito que o PT na Bahia vai querer estadualizar a disputa, eu acho que é um risco que ele não vai correr, porque esse é um território que favorecerá a oposição”, analisa.

Doutor pelo IUPERJ (2004), professor do Departamento de Ciência Política e no Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e também pesquisador no Centro de Estudos e Pesquisas sobre Humanidades (CRH/UFBA), Paulo Fábio Dantas diz que a pesquisa alerta o PT de que não é possível mais ficar “escorado exclusivamente no prestígio de Lula”.

Leia a entrevista:

Qual sua leitura da pesquisa Quaest/Genial que mostrou uma desaprovação histórica do governo Lula na Bahia? Pela primeira vez, o número de baianos que desaprovam é maior do que os que aprovam.

É preciso logo de cara fazer uma observação: é uma desaprovação impressionante ao governo, mas isso não tem uma conexão total, imediata e direta com a figura de Lula. Claro que uma coisa está ligada à outra, sem nenhuma dúvida, mas acho que nós não devemos transferir uma desaprovação ao governo como se fosse a aferição de uma desaprovação à figura de Lula, intenção de voto ou qualquer coisa parecida. Porque a mesma pesquisa divulgou dados de intenção de voto, simulação de segundo turno (que têm pouco valor praticamente há um ano e meio da eleição), e as simulações de segundo turno mostram que há um vácuo, porque Lula permanece como uma alternativa, no caso da Bahia e de Pernambuco, nessa mesma pesquisa Genial/Quaest, com uma vantagem importante de segundo turno. Então o que eu vou dizer sobre a aprovação do governo não necessariamente vale como uma uma predição eleitoral, porque depende muito do cardápio dos candidatos e o que vai acontecer daqui pra lá.
Acho que o que está acontecendo surpreende pela velocidade. Surpreende o fato de que, num estado como a Bahia, a avaliação dos governos Lula costumavam ser muito carregadas pela popularidade de Lula, ela fazia com que o eleitorado de um modo geral fechasse os olhos para os problemas de governo. E o que está acontecendo agora é alguma desconexão. Não quer dizer que as pessoas deixem de gostar de Lula, de identificar Lula como alguém que merece eventualmente o seu voto, mas começa-se a perceber uma desconexão entre aquilo que os faz apoiar Lula e aquilo que o governo efetivamente é, para as pessoas.

“A ideia de que o Nordeste vai ser uma bolha é cada dia menos possível de se adotar ”.

 

Onde está a origem desse cenário mostrado pela pesquisa?

Não deve haver muita surpresa, porque desde o início desse governo essa bola está cantada. Lula elegeu-se presidente da República por uma margem muito estreita de votos. Os seus votos do primeiro turno – pouco mais de 40% – já foram votos que em parte diziam respeito a gente que resolveu, desde o primeiro turno, votar nele por medo de Jair Bolsonaro. Apenas uma parte desses 40% pode ser identificada como um voto mais político, ou na personalidade de Lula, ou no PT, essas três coisas. O voto político da esquerda, o apoio ao PT e o carisma de Lula não somavam os 40% que ele teve no primeiro turno, porque ali já houve bastante gente que votou para se livrar do pior. Depois, no segundo turno, ele teve o apoio explícito de forças do centro, do centro liberal, para conseguir atingir a maioria. Quer dizer, um governo que tem um mapa eleitoral desse, que tem uma oposição aguerrida, ideológica e radical, cujo candidato teve mais de 40% dos votos, não poderia imaginar conservar uma imagem de governo do PT. Essa imagem é uma coisa demolidora dos índices de aprovação e desaprovação do governo. E isso é uma coisa cumulativa, porque embora a fraseologia do governo de Frente, do governo caminhando ao centro, continue presente em alguns discursos de Lula e em outros não; em alguns agentes do governo, e em outros não, o fato é que, do ponto de vista do comando real do governo, ele fica num circuito muito estreito, que envolve Lula e o PT. Então, frente a um eleitorado que é majoritariamente, no Brasil, e cada vez mais, conservador, isso não poderia dar em outro resultado. Porque não há, da parte do governo, uma política decidida, resoluta, no sentido de se aproximar da tendência geral do eleitorado brasileiro. Não quer dizer que todo o povo vote por razões diretamente políticas, mas quer dizer, sim, que a grande maioria do eleitorado brasileiro não tem mais, no seu universo de raciocínio, a “lógica” da mística da personalidade dele, nem a da mística do que o PT representou. Não tem mais isso. Então, a aprovação do governo depende daquilo que efetivamente o governo entregar. E aí nós vamos ter que considerar que os resultados até agora, do ponto de vista daquilo que toca de perto ao eleitorado, são resultados muito modestos. A ideia de que o Nordeste vai ser uma bolha é cada dia menos possível de se adotar. O modo como a comunicação se dá hoje, na política, o processo das redes, tudo isso contribui para dar uma repercussão geral às reações. Não quer dizer que as tendências regionais percam importância, mas cada dia menos é possível imaginar que qualquer estado do Brasil seja uma bolha, uma ilha separada da influência da política nacional, como um todo. Eu acho que a Bahia está entrando nessa onda. Isso é uma má notícia para o governo estadual, mas o que está nessa pesquisa não é discrepante daquilo que se identifica nacionalmente.

“O que há na Bahia é um processo evidente de deterioração do arranjo político que está funcionando afinal há quase duas décadas e não vem passando por renovação alguma”

 

Que recado essa pesquisa manda para o PT da Bahia?

Acho que não só essa pesquisa, mas esse processo todo, desses dois anos, esses indicadores que vão se acumulando, mandam um recado para o PT da Bahia e outro para o governo Lula. O recado para o PT da Bahia é de que não é possível manter o Estado sem um horizonte de política claro para sua população, escorado exclusivamente no prestígio de Lula. É preciso ter proposições, ação administrativa, para escapar dessa onda geral. O Estado precisa ter política, postura, atitude, ocupar e travar a luta pela opinião pública, que está perdendo. Ganhou a eleição, mas a luta pela opinião pública foi perdida ali também.
Mas ele manda principalmente um recado para Lula, o de que seu capital político, acumulado ao longo de décadas é fortemente depreciado, quando está hipotecado a arranjos políticos envelhecidos, inclusive como este arranjo político da Bahia. O que há na Bahia é um processo evidente de deterioração do arranjo político que está funcionando, afinal, há quase duas décadas e não vem passando por renovação alguma. O poder político na Bahia se mantém na mão dessa coligação comandada pelo PT, baseado em dois grandes pilares: um é a popularidade de Lula e o outro é o uso absolutamente não-econômico dos mecanismos da política tradicional, de pressão governamental, forte pelo fato de termos um Estado extremamente dependente com municípios muito pobres. E o PT venceu as eleições de 2022, fortemente, nessas duas coisas: na popularidade de Lula e na política tradicional. Isso ficou muito claro nas eleições de 2022 e isso não dá perspectiva de longo prazo a um grupo político.

E qual o recado para Lula?

Esse é um recado importante que vale para o PT da Bahia e vale para Lula também, porque é preciso que ele, como presidente da República, construa esquemas de apoio e de aliança nos estados que não sejam simplesmente comprometidos com a reprodução dos cartórios do PT e dos seus aliados próximos. A imagem de um governo federal controlado pelo PT não é uma boa imagem para uma situação como essa que citei anteriormente do eleitorado brasileiro e tudo mais. Acho que esses dois fatores estão se combinando, a falta de horizontes do governo em termos programáticos e em termos de atitude política, de alianças claras. Você não é capaz de dizer que aliados preferenciais o governo federal tem, fora do PT. Você não é capaz de dizer isso porque ele trata todo mundo de fora do PT e da esquerda como se fosse tudo igual. Lula e o PT, no governo, até repartem cargos, entregam ministérios, mas o poder decisório não é compartilhado com seus aliados, então você não tem, de fato, um governo de coalizão no Brasil. Tem um governo de Lula e do PT, com alianças ad hoc, alianças pontuais com lideranças do Congresso, com direções de partidos, também pontualmente. Você não sente um governo de coalizão. E acho que esse é um problema central para explicar essa debacle que está se vendo no país inteiro, na aprovação do governo. Então, para o conjunto da sociedade, fica um governo que está meio na contramão do sentido geral do eleitorado. Acho que isso está na raiz das dificuldades que o governo tem, do ponto de vista da aprovação e desaprovação.

“Não é possível esperar que a comunicação fabrique coisas que a política não está entregando”

 

A gente escuta o governo falar que o problema é de comunicação. De alguma forma ele está colocando sobre os ombros da comunicação um encargo que é essencialmente político?

Não subestimo a importância de uma comunicação eficiente numa política cuja competição é travada nas condições que nós conhecemos. Então, uma comunicação eficiente é algo essencial para qualquer governo, não considero isso apenas uma coisa complementar. Porém, Sidônio [Palmeira – ministro da Secretaria de Comunicação] não fará milagres. Eu não acredito que possa se colocar sobre os ombros da comunicação do governo a responsabilidade de reverter esse quadro, porque ele tem origem em outro lugar. Você precisa dar material para que a comunicação atue, ele tem que ser fornecido pelo governo e por sua política, não pode ser fabricado artificialmente pela comunicação. O que você vê é que o governo não tem horizonte, não tem política, não tem estratégia, não tem clareza a respeito de para onde quer levar o país. Ao mesmo tempo que ele coloca sua retórica em relação, por exemplo, à energia limpa e ao meio ambiente, concretamente ele também age no sentido oposto. Da mesma maneira que o presidente fala de democracia, ele tem também uma atitude ambígua em relação ao que existe de ditaduras ameaçadoras das nossas vizinhanças e no mundo inteiro. Da mesma maneira que o governo fala de aumentar a prosperidade do país, ao mesmo tempo está permanentemente em tensão com setores fundamentais do setor econômico com os quais precisa estar em entendimento permanente para assegurar essa prosperidade. Essas ambiguidades são levadas a uma potência tal que é muito difícil o trabalho da comunicação. Não é possível esperar que a comunicação fabrique coisas que a política não está entregando.
Um caso exemplar desse problema foi no episódio da substituição da ministra da Saúde. A doutora Nísia entrou com a missão de reconstruir um ministério que foi destruído pelo governo anterior. Esse trabalho de reconstrução institucional, de recuperação de políticas, de recolocação de diretrizes nos seus trilhos, a articulação com a sociedade civil, todas essas coisas implicam num tempo de maturação que é incompatível com o fornecimento de produtos imediatamente publicitários. O presidente não pode desconhecer que, para cumprir essa missão, a ministra da Saúde não podia ficar fabricando notícias para a área publicitária do governo anunciar. Porque ela estava concentrada numa missão que é incompatível com isso. Entretanto, o processo de fritura da ministra se deu também porque as próprias forças ligadas ao governo ficaram veiculando a ideia de que ela não estava sendo eficaz. A sua saída vai terminar tendo um efeito político duplamente negativo para o governo. Primeiro, ela sai com a sua imagem íntegra e a isso se soma mais uma decepção, mais um desencanto, mais uma frustração com as expectativas criadas em torno do governo. E, claro, joga-se a culpa disso na política. Tem gente que é de esquerda, que vota na esquerda ou que é progressista e que está neste momento profundamente decepcionada com o fato de Lula não ter segurado no cargo uma ministra como ela. Segundo, ainda vai sinalizar aos próprios aliados do governo no Congresso fora do PT que, na verdade, a ministra foi substituída não para produzir uma aliança, nem um entendimento mais amplo. Ela foi substituída para que o ministério se transforme numa máquina eleitoral do PT. Colocar nele alguém com o perfil partidário como o de Alexandre Padilha é o mesmo que acirrar os ânimos com a base que Lula pretensamente está querendo pacificar no Congresso. Isso para mim é um caso exemplar do que eu falei antes – a ideia de que a política não pode ser substituída pela comunicação.

“O governo e o PT não têm visões a respeito do que fazer com este país que está aí agora, com o qual perderam conexão”

 

Como o senhor viu notícias de que o senador Jaques Wagner poderia assumir a articulação política na segunda metade do Lula 3?

Eu acho que Wagner é um político não apenas com experiência, mas com qualidades e habilidades suficientes para ser talvez um dos quadros mais capacitados que o PT tenha para cumprir essa função de relações institucionais, sem nenhuma dúvida. Agora qual o papel que ele vai ter, que missão ele vai receber, nós ainda não sabemos. Porque a política, as estratégias governamentais não estão transparentes para o país. Elas estão sendo tratadas como assunto de cozinha. Ninguém sabe o que efetivamente o governo quer. É sempre uma interrogação se Lula vai caminhar na direção de tentar, daqui para 2026, reconstruir bases de entendimento com o centro, caminhar para a moderação do seu governo e para reconhecer que não pode ser um governo do PT. A gente não sabe se o caminho de Lula será esse ou o de apostar mais fortemente numa polarização ideológica e política com uma oposição que ele quer que exista com o figurino da extrema direita para poder facilitar a campanha eleitoral do governo. Então, os sinais são muito dúbios e a maioria deles vai, inclusive, nessa segunda direção, o que é péssimo.
Não acredito que Lula esteja sem orientação, acho apenas que a estratégia, os objetivos do governo não estão claros para o público, o que leva todo mundo a uma suspeição razoável de que sejam objetivos não fáceis de confessar em público. Porque se fossem, eles estariam explícitos. A impressão que eu tenho é que você tem uma quantidade muito grande de pessoas no país hoje que está simplesmente decepcionada, está simplesmente frustrada, está simplesmente descrente, está suspeitando que tem alguma coisa errada no governo e, por isso, deixa de aprová-lo, mas que ainda não está numa posição de ter passado para a oposição. Você não tem hoje claramente uma orientação, especialmente num estado como a Bahia, de que é a oposição que está por trás de tudo isso, não é. O governo está entregando à oposição um filé eleitoral, está se enrolando com suas próprias pernas. Esse é o problema que considero principal. Porque o governo Lula está vivendo um delírio. Qual é o delírio? De que o Lula 3 poderia reprisar o tipo de sucesso do Lula 1. Isso é um delírio porque o país é outro, muito diferente. E o governo e o PT não têm visões a respeito do que fazer com este país que está aí agora, com o qual perderam conexão. E precisam ter a humildade de entender que, para restabelecer essa conexão, precisam unir-se, de maneira firme, com outros segmentos da sociedade. Não quero nem discutir aqui o mérito do que é certo ou errado, mas é preciso se aproximar e não repelir, pautas que demonstram ter mais conexão com a população.

“Eu acho que o quadro é muito promissor para a oposição na Bahia, no seguinte sentido: um governo desaprovado majoritariamente no estado significa diminuir a capacidade da figura de Lula de transferir votos para os seus candidatos”

 

Há motivo para a oposição na Bahia, ainda que não esteja arranjada no cenário nacional do ponto de vista de quem será o seu presidenciável, soltar foguetes depois da desaprovação do presidente Lula?

Eu acho que o quadro é muito promissor para a oposição na Bahia, no seguinte sentido: o governo federal desaprovado majoritariamente no estado significa diminuir a capacidade da figura de Lula de transferir votos para os seus candidatos. Diminui essa possibilidade e permite à oposição conquistar votos a partir da discussão do que está acontecendo na Bahia. A desaprovação do governo Lula neutraliza ou, pelo menos, diminui o poder de fogo que o poder nacional sempre teve nas eleições polarizadas aqui da Bahia. Não precisa nem que a oposição desqualifique Lula e entre na onda de ficar potencializando o desgaste do seu governo. Basta que esse desgaste esteja acontecendo para que a oposição possa navegar em céu de brigadeiro contra o governo do estado, porque o governo do estado já dá pauta de sobra para que ela nade de braçada. Então se o governador, esperado candidato à reeleição, perde o colchão protetor de uma boa imagem do governo federal e da figura de Lula, se esse colchão protetor entra em declínio, as chances de a oposição enfrentar o seu adversário tête-à-tête aqui e vencer aumentam. Vejo que essa pesquisa deve estar sendo bem recebida na oposição por causa disso, porque diminui o poder de fogo do fator nacional para desequilibrar a disputa estadual e permite que as críticas ao governo do PT possam ser assimiladas pelo eleitorado porque ele já não estará mais confiando em que Lula dará um jeito.

“Acho difícil que o governo da Bahia passe a ter agora um discurso oposto ao que vem tendo há anos, de que o sucesso do Estado depende do sucesso nacional”

 

A mesma pesquisa, por outro lado, mostrou aumento na aprovação ao governo Jerônimo, saindo de 54% para 61%.

Isso é um dado que deve preocupar a oposição, é sinal de que alguma coisa está sendo feita no plano do governo estadual para tentar reverter aquilo que parece ser o seu grande problema. Se isso estiver se revertendo no sentido positivo, aí você vai ter um elemento de sinal oposto a tudo isso que estou falando aqui. Se vai ser suficiente para compensar o quadro negativo que está vindo na situação nacional, é difícil dizer. Acho difícil que o governo passe a ter agora um discurso oposto ao que vem tendo há anos, de que o sucesso da Bahia depende do sucesso nacional. Se a comunicação do governo estadual começar a dizer que embora a situação do país seja ruim, na Bahia está tudo bem, seria, digamos assim, um freio de arrumação que acho improvável de acontecer. Quebra o discurso tradicional do grupo. A Bahia é um estado, como eu disse lá no começo, de política tradicional, o governo estadual tem recursos em mãos para tentar reverter, em parte, esse quadro. Mas é muito difícil que um quadro na eleição baiana fique imune ao que está existindo de importante no movimento da política nacional. Considero, sem nenhuma dúvida, que um elemento decisivo na vitória de Jerônimo em 2022 foi a impossibilidade de ACM Neto de estadualizar a disputa. Quando falo elemento nacional, não estou me referindo apenas à figura de Lula, à polarização ideológica de Lula, mas também ao fato de que, sendo um um grupo político que está no poder estadual usando os recursos do poder estadual e podendo também acenar para prefeitos e lideranças que, com a chegada de Lula ao governo esse poder aumentaria, essas condições materiais aumentariam, essa combinação deu à candidatura de Jerônimo a possibilidade de enfrentar a oposição com muito mais força. Então, o fator nacional foi duplamente importante, pela figura popular de Lula e pela expectativa de poder. Expectativa de poder que ACM Neto não podia oferecer porque a ideia que chegava ao eleitor era de que, fosse quem fosse o vencedor da eleição presidencial, ACM Neto não seria um político “de dentro”, fosse com Bolsonaro ou fosse com o Lula. Então, isso não dá expectativa de poder. Ele tentou estadualizar, tentou mostrar, com o seu exemplo como prefeito, que ele podia atuar bem com qualquer presidente e tudo mais. Mas a lógica vertical predominou. Isso derrotou ACM Neto, a meu ver. Permitiu que os recursos do governo estadual pudessem ser usados com a expectativa de ainda mais poder, depois. Porque também os recursos estaduais podem ser usados e serem em vão, como aconteceu na vitória de Wagner em 2006. O governo do estado estava na mão do carlismo, o carlismo ainda tinha os poderes para fazer isso e fez, Paulo Souto era um governador bem avaliado, entretanto, perdeu a eleição exatamente porque não conseguia construir a expectativa de poder, que estava toda com Wagner, porque Lula virou presidente da República e estava em processo de ascensão e tudo mais. Isso é decisivo nas eleições da Bahia, sempre foi, porque a Bahia é um estado conservador. Não acredito que o PT na Bahia vai querer estadualizar a disputa, acho que é um risco que ele não vai correr, mesmo que esse resultado (da pesquisa recente) lhe seja um pouco animador, porque a estadualização é um território que favorecerá a oposição.

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