25 março 2025
Preço da adesão
O prefeito de Cairu, Hildécio Meireles (União), está mesmo disposto a deixar o grupo de ACM Neto (União) e migrar rumo à base do governo Jerônimo Rodrigues (PT). Para isso, o petista precisa cumprir com tudo que prometeu durante a visita que fez ao município, na segunda (03) de Carnaval. O pacote de obras anunciado para Morro de São Paulo, que envolve a construção de um novo aeroporto, um atracadouro para carga e descarga e pavimentação de quase 20 quilômetros de vias, além de outras ações em prol de Boipeba, vai custar quase R$ 90 milhões.
Sabor amargo
No início de fevereiro, Jerônimo recebeu Hildécio em Salvador, quando tiveram a primeira conversa em busca de uma aproximação política, apesar de tratarem basicamente de gestão. Logo depois desse encontro, o prefeito de Cairu se reuniu com ACM Neto, também na capital. Contou ao ainda aliado sobre as intervenções prometidas pelo governador no arquipélago. Embora nenhum dos dois tenha usado a palavra rompimento, o encontro teve um sabor amargo de adesismo para o líder da oposição.
Veto a Meireles
Quem está aborrecido com ACM Neto é o primo de Hildécio, o ex-vereador de Salvador Adriano Meireles (PSDB). No Carnaval, ele disse em um grupo de WhatsApp que, embora aliado do prefeito Bruno Reis (União), não vota no antecessor para governador. Recentemente, Adriano teria conversado com deputado estadual Sandro Régis (União) de olho em encabeçar um projeto de articulação partidária visando fortalecer o nome de ACM Neto na capital e no interior mirando 2026. Entretanto, a iniciativa não foi para frente. Segundo o ex-vereador, por falta de vontade do herdeiro do carlismo.
Desconfiança mútua
Segundo Adriano Meireles, o ex-prefeito sinalizou que preferiria um nome mais próximo, do próprio círculo de convivência, para cumprir a missão. Mas ficou de marcar uma agenda com o primo de Hildécio, o que nuca ocorreu. “Você acha que uma pessoa que está sem mandato hoje vai me incluir em alguma coisa se um dia virar governador? É claro que não”, disse Adriano à coluna. Ele garante que o fato de estar trabalhando com o deputado estadual Marcinho Oliveira (União) não é o motivo da desconfiança.
Queixa de Éden
A incorporação de Hildécio Meireles à base governista foi um dos motivos da nota queixosa enviada nesta terça (04) pelo presidente do PT da Bahia, Éden Valadares, na qual critica as tratativas envolvendo adesões de membros da oposição sem diálogo com o partido. No dia 6 de fevereiro, houve um encontro entre o dirigente, outros quadros do comando da sigla, o secretário estadual de Relações Institucionais, Adopho Loyola, e a bancada petista na Assembleia para fazer justamente esse alinhamento, que não tem ocorrido na prática, o que irrita principalmente os diretórios municipais.
Respeito à militância
“A articulação política do governo deve trabalhar para ampliar a base. Zero problema. Mas se não dialogar antes com o PT, erra. Por exemplo, mais de 70 prefeitos nos procuraram e só filiamos 16 ou 17 (antes das eleições). Porque definimos na Executiva e não ao sabor do governo ou do presidente de então, quem deveria se filiar. Aprovamos critérios e um deles era ter a aprovação dos diretórios locais do PT. A regra não deve valer para o governo? Não. Mas serve de parâmetro. Pelo menos no que tange o respeito à militância”, disse Éden Valadares à coluna.
Deixou escapar
Durante o Carnaval, Jerônimo deixou escapar, em uma entrevista, que coube a ele pedir ao líder do governo na Assembleia, Rosemberg Pinto (PT), que retirasse a candidatura a 1º vice-presidente Casa, evitando, assim, um confronto com o deputado Angelo Coronel Filho (PSD) e um racha na base que antecipasse 2026. O parlamentar petista costuma dizer que essa decisão coube a ele, numa articulação para acomodar o PSD e unificar o grupo aliado.
Mudança ao topo
Com a confirmação do afastamento do deputado Adolfo Menezes (PSD) do comando da Assembleia pela segunda turma do Supremo Tribunal Federal (STF), a deputada Ivana Bastos (PSD) se muda nesta quinta-feira (06) para a sala da presidência. A parlamentar vai levar toda a equipe de gabinete – mais de 90% dos assessores estão com ela desde o primeiro mandato, conquistado nas urnas em 2010, quando era do MDB. Um dos primeiros atos de Ivana será nomear o novo diretor administrativo da Casa.
Bola dividida
Angelo Coronel Filho não quis comentar se é a favor da permanência de Ivana Bastos na presidência da Assembleia sem novas eleições, posição consolidada no Legislativo. Apesar de ter apoiado a correligionária para a 1ª vice-presidência, cargo que cobiçou prevendo a queda de Adolfo, o pessedista sabe que, na “bola dividida” sobre a chapa de 2026, a colega de partido fica ao lado do governo e não do senador Angelo Coronel (PSD), apesar de torcer pelo aliado. Logo depois das eleições de 2010, Ivana deixou o MDB e mudou-se para a atual legenda justamente para não ser oposição.
Digital de Elmar
Políticos próximos de Adolfo Menezes acreditam que há digital do deputado federal Elmar Nascimento (União) no afastamento do pessedista da presidência da Assembleia. Por isso, avaliam, a decisão monocrática do ministro Gilmar Mendes, do STF, teria ocorrido enquanto o magistrado estava no Rio de Janeiro (RJ) e apenas sete dias após a eleição de Adolfo ao comando do Legislativo baiano. Por outro lado, teria faltado empenho do senador Jaques Wagner (PT) e do ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), no sentido de atuar junto ao STF para garantir um processo mais lento.
Fileiras pedetistas
O possível retorno do PDT à base do governo o Estado tem movimentado os gabinetes da Assembleia. Há, pelo menos, três deputados que estariam sendo sondados ou que cogitam ingressar nas fileiras pedetistas se a adesão a Jerônimo ocorrer. Dois já foram da agremiação: Roberto Carlos (PV) e Euclides Fernandes (PT). O outro é Vitor Azevedo, que, embora esteja no PL, é aliado fiel do chefe do Executivo estadual. Hoje, além da reeleição do deputado Emerson Penalva, as principais apostas do PDT para concorrer ao Legislativo baiano são os ex-prefeitos de Euclides da Cunha e de Araci, Luciano Pinheiro e Silva Neto, respectivamente.
Reforma administrativa
Passado o Carnaval, Bruno Reis deve anunciar na segunda (10) novas mudanças no primeiro e segundo escalões do governo. Ele pretende confirmar o remanejamento de Décio Martins da Transalvador para o comando da Secretaria de Ordem Pública (Semop). Já o atual titular da Semop, Alexandre Tinôco, assume a Secretaria de Gestão (Semge), cujo interino, Daniel Ribeiro, que também é sub da Fazenda (Sefaz), retorna à superintendência de Previdência. Outra mudança que deve ser anunciada na segunda é Zilton Netto (PDT) na chefia da Ouvidoria Geral do Município (OGM).
Saldo positivo
Décio se despede da Transalvador com excelentes números no Carnaval. Houve, por exemplo, uma redução de 80% no número de acidentes de trânsito, apesar do aumento do fluxo de veículos pelos 15 portais montados pela Prefeitura – subiu de 229 mil ano passado para 410 mil em 2025. Outro grande acerto foi a criação de um espaço para embarque e desembarque de motos na Avenida Centenário. Antes de deixar o órgão de trânsito, Décio ainda deseja inaugurar a motofaixa na Avenida Bonocô.
Escolha do partido
Candidato número um de Bruno Reis nas eleições para uma cadeira na Assembleia em 2026, Igor Domingues pode não disputar o pleito pelo DC. Segundo apurou a coluna com pessoas próximas ao assessor especial do Palácio Thomé de Souza, ele ainda vai conversar com o prefeito e com ACM Neto sobre qual o melhor caminho partidário. A legenda, que era presidida na Bahia pelo próprio Igor até o final de janeiro deste ano (o comando retornou para Antonio Albino, em decisão consensuada), não tem deputados no Estado e precisa ser montada para disputar o pleito.
Cacá fica
Na disputa por uma cadeira na Câmara Federal, o preferido de Bruno Reis, o secretário de Governo e presidente municipal do PP, Cacá Leão, não cogita deixar o partido mesmo diante da possível adesão institucional da sigla à base de Jerônimo. A avaliação de Cacá é que, mesmo a legenda passando a ocupar cargos no Estado, isso não significa apoio automático ao petista em 2026. O secretário também tem feito duas apostas: a de que a adesão ao governador pode ser inviabilizada pela direção nacional do PP e, caso isso não aconteça, de que terá liberdade para apoiar ACM Neto.
Pitacos
* Aliados e até opositores sentiram falta da presença de ACM Neto no Carnaval deste ano em Salvador. Ele só compareceu na abertura oficial da folia, na quinta-feira (27), e no Furdunço, na chamada pré-folia, criado quando era gestor. O ex-prefeito optou por aproveitar o período para descansar em Portugal.
* Quem foi mais comedido na festa deste ano foi Bruno Reis. Apesar da correria durante o dia, à noite ele frequentou menos camarotes do que nas folias anteriores. Além disso, desfilou o tempo inteiro ao lado da primeira-dama Rebeca Cardoso.
* Nomeada recentemente como sub da Secretaria de Saúde de Salvador, Edriene Teixeira espera ser mantida no posto diante do “olho gordo” de setores do PSDB na cadeira dela.
* Quando Décio Martins deixou o comando da Saúde e foi para a Transalvador, em 2023, Edriene deu o maior chilique quando foi exonerada da mesma função. Ela confidenciou a colaboradores na secretaria que não deseja passar pelo mesmo trauma.
* Subiu no telhado a ida do chefe da Casa Civil do governo estadual, o deputado federal licenciado Afonso Florence (PT), à cadeira do falecido conselheiro Pedro Lino no TCE. Isso por conta das vitórias obtidas na Justiça pelos auditores, que pleiteiam a vaga.
* Aliás, sobre essa vaga, Adolfo Menezes brincou: “É a maior enrascada e ainda teve gente na imprensa que quis me botar nessa”. O deputado disse também que não tem interesse em assumir a cadeira de Antônio Honorato, que se aposenta em julho do TCE.
* Adolfo pensa em virar conselheiro em 2026, pois sabe que, como revelou em primeira mão o Política Livre, o lugar de Honorato deverá ser preenchido pelo deputado federal Otto Filho (PSD).
* Reservadamente, um influente petista baiano ouvido pela coluna avaliou como ruim a decisão do presidente Lula de nomear a deputada federal e atual presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR), para a Secretaria das Relações Institucionais.
* Segundo ele, a escolha acaba limitando o poder de articulação do Palácio do Planalto junto ao Congresso e pode até criar novas fissuras no relacionamento com os parlamentares, diante das posições mais radicais de Gleisi.
* Alheio às críticas do presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI), ao governo Lula, o deputado federal Cláudio Cajado, da mesma sigla, segue cada vez mais próximo de Jerônimo. Na segunda (03), acompanhou o governador na agenda em Cairu.