27 abril 2025
O deputado federal José Nelto (União-GO), vice-líder do governo na Câmara dos Deputados, afirmou ao jornal O Estado de São Paulo, nesta terça-feira, 15, que não recebeu orientação do líder José Guimarães (PT-CE) sobre como se posicionar em relação ao requerimento de urgência do projeto de anistia aos golpistas de 8 de janeiro de 2023. A adesão de Nelto ao requerimento da oposição pode custar o posto da vice-liderança ao parlamentar.
“Tentei falar com o líder do governo, não consegui falar. O governo não orientou. Esperei a orientação do governo, a orientação do partido, e não tive a orientação nem do governo, nem do partido”, declarou. “O governo não agiu. O governo sabia de todo o movimento, não conversou com os líderes partidários e não conversou com os vice-líderes”, continuou.
“O governo deixou a correia. A ministra do governo não conversou. O governo não articula com a Câmara. Cadê os articuladores? Ninguém conversa com ninguém. Cadê o líder do União Brasil? São 40 assinaturas do União Brasil”, afirma.
Procurado, o líder do governo afirmou que vai retirar o cargo de vice-liderança do deputado José Nelto. O petista, porém, não se manifestou em relação às alegações de Nelto de que o Executivo teria faltado com orientação sobre o pedido de urgência. O gesto, se concretizado, vai representar uma retaliação ao voto em favor do regime. Governistas têm dito que são contrários à anistia, mas sinalizam em favor de um consenso.
Nelto é um dos 262 signatários do requerimento de urgência protocolado na segunda-feira, 14, pelo líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ). Se houver aprovação da urgência, a tramitação da anistia poderá ser acelerada. No entanto, à reportagem, Nelto diz que apoiar a urgência não significa votar a favor do mérito da proposta.
“Eu assinei o regime de urgência, mas não significa o meu voto favorável à matéria”, declarou o vice-líder do governo. Ao ser questionado sobre a razão de ter apoiado a urgência, ele respondeu que “tem que acabar com essa história”.
Ele diz ser contrário à anistia dos autores do golpe, mas defende a discussão sobre a matéria e a revisão das punições. “Eu não concordo com as penas, com a dosimetria. Você não pode colocar penas iguais para todos”, disse.
O parlamentar também mencionou sinalização da ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, no sentido de chegar a um acordo com o Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a anistia. Ele diz não ter recebido cobrança do governo após a sua assinatura, mas afirmou que coloca o seu posto à disposição. “Não me amarro a cargo”, declarou.
O União Brasil é o partido da base com maior número de assinaturas em favor da urgência na Câmara. Os 40 signatários da legenda no requerimento representam 15,2% das 262 firmas. Além disso, o número equivale a 67,7% da bancada União Brasil na Câmara. A agremiação está à frente do Ministério do Turismo, com Celso Sabino, e deve indicar um substituto para Juscelino Filho no Ministério das Comunicações.
Victor Ohana/Pepita Ortega/Estadão