23 novembro 2024
João Carlos Bacelar é deputado estadual pelo PTN , membro da Executiva Nacional e presidente do Conselho Político do partido. Foi secretário municipal da Educação de Salvador e vereador da capital baiana. Escreve uma coluna semanal neste Política Livre aos domingos.
A ressignificação do ensino através do reconhecimento da própria identidade negra com informações sobre religiosidade, arte, música e divulgação da história de baianas e baianos que venceram apesar das negativas encontradas ao longo da trajetória é a educação pelo exemplo. Na rede municipal de ensino de Salvador ilustramos nossa caminhada retratando a vida de tantos que sabem o que querem e porquê querem. A Lei 10.639/03 está completando 10 anos e na semana da África nossos docentes foram convidados a participar de oficinas pedagógicas reforçando o que fazem nas salas de aula para disseminar o ensino da história e cultura afrobrasileira e africana.
As mudanças experimentadas a partir da aplicação da Lei na educação formal podem ser percebidas em variados aspectos. Entre os alunos e também entre os professores que absorveram melhor, com mais propriedade as questões raciais. É uma vocação da cidade onde 83% dos moradores são afrodescendentes.
Vale destacar que a própria Smed (Secretaria Municipal de Educação) tem produzido seu material didático-pedagógico e, a partir disso, trabalha especificamente com a formação dos docentes para que seja facilitada a autonomia da escola.
E as iniciativas recompensam o esforço conjunto. No ano passado, muitas delas participaram ativamente da elaboração de um calendário cultural no novembro negro que trouxe a público as atividades programadas que incluíam debates, exibição de filmes, desfiles, exposições, leitura de textos, a partir da perspectiva africana.
Em 2012 a reedição da “Cartilha Mulheres Negras – Uma história bem contada” reuniu 23 mulheres guerreiras, cada uma em sua área de atuação, trabalhadoras em busca de uma nova realidade para que se façam mais transparentes os saberes, etnias, culturas e costumes negros.
A Smed oferece uma pós graduação em Cultura Africana e Afrobrasileira aos docentes ampliando o conteúdo e a argumentação de quem tem a capacidade de gerar o efeito multiplicador do conhecimento. São eles que, dentro dos muros da escola, vão estimular o alunado a descobrir a importância de trazer no sangue um poderoso componente: o gosto pela luta em prol de um país mais justo e de iguais oportunidades para todos. .
Hoje temos uma equipe composta por mestres nessa área que fazem reverberar a intenção pelo ressignificado da prática ininterrupta do ensino da história da África, da nossa história e a de nossos antepassados.
Dez anos depois a Lei 10.639 é um divisor de águas pois os avanços são muitos nas escolas onde é adotada. Já agendamos para junho a preparação para a III Conferência Municipal de Promoção da Igualdade Racial que vai envolver unidades situadas em áreas distintas da cidade, incluindo as Ilhas pertencentes ao município.
Por tudo isso é que cada vez mais acreditamos em educação como responsabilidade e respeito coletivo às diversas formas de expressão e linguagem de todos nossos jovens.