Adriano Peixoto

Relações de Trabalho

Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.

Apagão da mão de obra (ou para Horácio)

Quanto tempo leva para formar mão de obra qualificada de alto nível? Essa indagação tem uma origem certa, a provocação de um leitor da coluna da semana passada. Sua questão pode ser resumida da seguinte forma: com a economia crescendo existe uma grande pressão por profissionais capazes de suprir as atuais demandas do mercado, entretanto os baixos níveis de desemprego indicam que não temos muito mais espaço de onde recrutar pessoas para as vagas que estão sendo abertas. Sendo assim, onde encontrar profissionais de alto nível?

Para simplificar um pouco as coisas, vamos usar uma carreira acadêmica básica como exemplo ilustrativo dos problemas relacionados à questão da formação. Três anos no jardim de infância; onze anos na escola incluindo primeiro e segundo graus; quatro anos de graduação; um ano de especialização; dois anos de mestrado; quatro anos de doutorado. Resultado: pelo menos 25 anos ininterruptos alisando os bancos escolares, sem incluir tempo de experiência prática ou qualquer tipo de consideração sobre a qualidade da formação.

Alguém pode argumentar que dessa conta devem ser retirados os catorze anos de ensino médio e fundamental já que esse seria um patamar básico de formação para toda a população não caracterizando o tal alto nível. Sobram ainda onze anos.  Pode-se ainda levantar a questão de que o doutorado seria uma exceção, algo específico da carreira acadêmica e que as profissões (poli) técnicas e o já tradicional MBA (formação profissional em gestão) teriam um ciclo de formação mais curto. Ok, fora doutorado. Restam sete anos. Conclusão, formar mão de obra demora, e muito. Não vou nem entrar no mérito do custo….

Em outras palavras, os tais profissionais de alto nível que o mercado demanda hoje deveriam ter iniciado sua formação sete anos atrás!Já as necessidades do mercado são para agora!Esse descompasso entre oferta e demanda de mão de obra indicam que o dever de casa não foi feito de forma adequadaquando devido e queem alguma medida teremos que recorrer ao mercado externo para suprir as necessidades de diversos setores da economia.

O momento é de aproveitar a crise internacional para recrutar os melhores cérebros que estiverem disponíveis no mercado, transferindo para as economias desenvolvidas os custos de formação desses profissionais que devem, preferencialmente, ser fixados nas universidades públicas. Não há nada de novo nem de excepcional nessa estratégia. Os países desenvolvidos têm esse tipo de prática (um fenômeno conhecido como braindrain) já de há muito tempo, vide o exemplo do programa espacial americano construído com as melhores mentes alemãs.

Paralelamente, devemos aproveitar essa situação para reforçar os programas de internos de formação e qualificação profissional especialmente aqueles de nível técnico; estimular uma maior aproximação das universidades com as empresas; estimular o surgimento de centros de excelências nas diversas áreas do conhecimento; e estimular ações de treinamento, desenvolvimento e educação nos contextos de trabalho.

É fundamental que estas ações caminhem em paralelo. A ênfase isolada no mercado internacional nos levará a uma eterna dependência e submissão aos mercados externos. A ênfase isolada no desenvolvimento interno traz implícita a possibilidade de reinvenção da roda e da endogamia.  Tanto um quanto o outro, riscos a serem evitados.

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