3 novembro 2024
Eduardo Salles é engenheiro agrônomo com mestrado em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais. Está no seu terceiro mandato de deputado estadual e preside a Comissão de Infraestrutura, Desenvolvimento Econômico e Turismo, além da Frente Parlamentar em Defesa do Setor Produtivo. É ex-secretário estadual de Agricultura e ex-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Agricultura (CONSEAGRI). Foi presidente da Associação de Produtores de Café da Bahia e da Câmara de Comércio Brasil/Portugal. Há 20 anos é diretor da Associação Comercial da Bahia. Ele escreve neste Política Livre mensalmente.
A agropecuária, a indústria, a mineração, os serviços e o comércio baianos perdem muito em competitividade quando comparamos com outros estados e países porque há grave problema na logística responsável pelo escoamento do que é produzido no Estado. Conseguimos fazer um excelente trabalho “da porteira para dentro”, mas existe um entrave rodoviário e ferroviário que atrapalha o desenvolvimento do setor produtivo e, consequentemente, impede a geração de mais empregos.
Cito como exemplo a agropecuária, que tem investido muito em conhecimento e tecnologia nas últimas décadas. A Bahia possui uma das maiores produtividades do mundo na cultura da soja, do milho e do algodão. Avançamos muito na geração de energia sustentável, eólica a e fotovoltaica, possuímos portos de excelência com baías navegáveis, temos uma base industrial forte nas áreas petroquímica, química e automobilística, e o turismo tem se preparado para receber cada vez melhor e com sustentabilidade ambiental. Nosso Estado é o terceiro do país em mineração e possui um grande potencial de crescimento.
O setor produtivo tem feito a sua parte, mas, infelizmente, nossas rodovias e ferrovias ainda são um grande gargalo. As concessões à iniciativa privada que pareciam ser uma boa solução anos atrás não se mostraram eficientes porque os contratos foram mal elaborados e as empresas que exploraram o serviço causaram um dano imenso à economia baiana.
A ViaBahia, que dia 31 de dezembro deixa de explorar a BR-324 (Salvador-Feira de Santana) e BR-116 (Feira de Santana à divisa de MG), ganhou a concessão em 2009, explorou o pedágio por uma década e meia e não cumpriu o contrato. Duas das nossas principais rodovias federais fora abandonadas neste período. Além dos enormes prejuízos financeiros, as vidas perdidas nestas estradas são o saldo que a empresa deixará.
Agora a VLI (Valor Logística Integrada), responsável pela exploração da FCA (Ferrovia Centro-Atlântica), que presta um péssimo serviço há anos, mas explora uma rota ferroviária fundamental à economia baiana, ligando o Sudeste e o Centro-Oeste ao Nordeste, de Corinto, em Minas Gerais, a Campo Formoso, na Bahia, quer renovar sua concessão, mas deixar a Bahia sem o serviço.
O trecho da FCA que atravessa o território baiano é estratégico para o escoamento das exportações de grãos e fibras produzidas no Oeste. Ao invés de a Bahia perder esse trecho ferroviário, precisamos aumentar a velocidade dos trens e retirar os gargalos hoje existentes na malha, além de investirmos para ligá-la ao porto de Salvador e fazer a interseção com a FIOL (Ferrovia da Integração Oeste-Leste), o que vai aumentar o volume de cargas, diminuindo os custos e melhorando a competitividade.
As cargas existem, confirmam as associações dos setores de mineração, indústria e agropecuária. Mas precisam ter a malha ferroviária funcionando e com custos que ofereçam competitividade aos produtos.
Somada às dificuldades nas estradas e ferrovias, temos uma concessionária de energia elétrica que há 27 anos não realiza os investimentos necessários, impedindo o crescimento econômico baiano. Só agora, às vésperas da conclusão do contrato, A Neoenergia COELBA apresentou um cronograma de investimentos.
Tudo isso causa enorme revolta, principalmente porque muitas empresas detentoras destas concessões conseguiram recursos em bancos de investimento público, como o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), e contam com a negligência das agências nacionais de regulação.
Não acredito em um estado empresário e defendo que muitos serviços devem ser concedidos à iniciativa privada. Mas não é mais possível a leniência do Estado brasileiro com serviços tão ruins ofertados à população.
Não acredito que estatizar empresas seja a saída, que fique muito claro. Defendo que precisamos remodelar as agências de regulação e refazer os contratos mal elaborados para que o setor produtivo, maior empregador desse país, tenha as ferramentas necessárias para alavancar o desenvolvimento econômico brasileiro.
Só existe economia próspera com o setor produtivo forte. Mas é necessário que os serviços fundamentais cheguem à ponta. Não é mais admissível tanto esforço da agropecuária, da indústria, da mineração, do comércio e dos serviços em troca de tão pouco ofertado por concessionárias que exploram áreas muito importantes à economia brasileira.