Adriano Peixoto

Relações de Trabalho

Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.

De bicuda

Depois de muito refletir começo a achar que o brasileiro tem algum distúrbio de auto imagem com características similares ao do transtorno bipolar. Entretanto, ao invés de alternarmos episódios de mania e depressão nos movemos entre o complexo de vira latas (vide Nelson Rodrigues para maiores explicações) e o delírio de grandeza com impacto direto na nossa capacidade de lidar com questões concretas do cotidiano. Mais ainda, esse distúrbio parece ter atingido em cheio nossos governantes de plantão que se esforçam para demonstrar que vivem um processo crônico de auto engano. Não sou especialista na área de saúde/transtorno mental, mas do que me lembro das aulas que assisti na graduação tenho a impressão de que estamos diante um paciente “de manual”.

Vejamos os principais sintomas. O primeiro, e o que mais chama a atenção, é a total ausência de sentimento de doença. Não importa o péssimo desempenho da balança comercial, a fuga recorde de dólares e a desvalorização do real, a perda de competitividade da indústria, os monumentais atrasos nas obras públicas, os gargalos educacionais que impedem que postos de trabalho com mais qualidade sejam gerados, os saldos criados por manobras contábeis, e por ai vai. Nada disso é real, nada enseja uma mudança ou ajuste nos rumos da economia. São os críticos que não entendem que os números negativos na verdade são indicadores positivos!

Um segundo sintoma importante é o comportamento do tipo paranoide, com delírios persecutórios. Aqui as manifestações são ainda mais claras: qualquer crítica diante de um indicador político, econômico ou social negativo é logo entendida como um lance de guerra psicológica voltado para desestabilizar o grande governo popular que veio nos redimir de todo o mal.

O terceiro sintoma é óbvio: o próprio delírio de grandeza que acomete aqueles que estão no poder e que se materializa no já clássico nuncanatesnahistóriadestepaíz. De qualquer forma, existem outras manifestações similares como, por exemplo, a saúde de primeiro mundo, a melhor copa de todos os tempos, as inúmeras e intermináveis liberações de verba que nunca chegam ao seu destino ou os números grandiosos que não se materializam. Quem não se lembra das 6 mil creches em quatro anos?

Um quarto sintoma que não deve ser desprezado os claros sinais de infantilização do comportamento. O governo atual ao invés de olhar para frente e para o mundo que nos cerca passa o tempo todo se comparando com o governo anterior que nem menino birrento: meu resultado é maior do que o dele; ele fez três nós fizemos quatro! O problema é que nesse meio tempo o resto do mundo faz 30, 40, 50…

Se existe remédio para este tipo de problema? Não sei. Parece que a tradicional combinação haldol, tegretol e gardenal não funciona nesses casos…. O jeito é torcer para que a vergonha que sentiremos quando todos os olhares do mundo se voltarem para o país durante a Copa seja tão grande, mas tão grande, que o embalo do futebol desperte em nós uma incontrolável vontade de dar com o pé na bunda dos políticos postes, dos corruptos e dos incompetentes. De bicuda!

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