Adriano Peixoto

Relações de Trabalho

Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.

Entre a teoria e a prática

Uma das principais características do tal mundo acadêmico é o uso constante de modelos teóricos como base para a compreensão dos fenômenos do mundo real. Modelos são representações, aproximações mais ou menos exatas e completas da realidade. Eles permitem que relações, proporções e associações entre variáveis sejam exploradas, simuladas e testadas de forma mais simples do que seria possível, já que nem todos os objetos estão disponíveis para investigação direta.

A atividade científica tem uma linguagem própria, segue regras claramente definidas e tem limites estreitos para a aceitação de conclusões derivadas de observações ou experimentos. Em última análise são princípios e regras que se baseiam em um pensamento racional e em largas doses de bom senso.

Quando nos voltamos para o mundo do trabalho no geral, e para as organizações no particular, temos a impressão de que ele existe em uma dimensão paralela, em um universo completamente distinto daquele descrito pelos acadêmicos. A lógica que preside as ações humanas parece se sustentar sobre diferentes alicerces. Aqui imperam o erro, o ciúme, o ego e a vaidade humana. Muitas vezes temos a impressão de que decisões são propositalmente tomadas de modo a serem as mais irracionais possíveis. Mas também encontramos o comprometimento, a satisfação com o trabalho bem feito, o esforço desinteressado, o desprendimento para a realização do bem comum. O mundo do trabalho é quente, pulsa ao ritmo das paixões, dos desejos e dos valores humanos. O mundo da teoria normalmente é frio e distante.

Esse quadro de linguagens, lógicas e práticas tão distintas nos fornece o pano de fundo para um dos maiores desafios que enfrentamos na nos dias atuais: como estabelecer um diálogo aberto e prolífico entre a universidade e o mundo trabalho? Como transferir conhecimentos que são produzidos em um contexto para o outro? Mais ainda, como incorporar o conhecimento científico de nível internacional na prática cotidiana dos gestores de nossas organizações de modo a ampliar o nível de competitividade e produtividade das organizações e simultaneamente ampliar o bem estar geral da sociedade?

De um lado temos a necessidade de expandir o treinamento de base científica de nossos gestores, que precisam aprender a ler e a avaliara a qualidade das pesquisas produzidas. Por outro lado, aqueles que produzem conhecimento precisam aprender a escrever seus resultados em uma linguagem mais simples e acessível ao passo que suas pesquisas precisam enfrentar questões reais e concretas do mundo do trabalho.

O problema é que a resposta para este tipo de pergunta é paradoxal: seus termos são simples e conhecidos, mas sua implementação é complexa e de difícil execução.

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