Adriano Peixoto

Relações de Trabalho

Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.

Gestão dos Afetos

Não há nenhuma duvida de que o objetivo primário de toda organização é o de atingir, ou mesmo superar, os resultados esperados, seja lá como for que eles são definidos. No campo da gestão essa importância se expressa na grande ênfase que se dá tanto na definição do seja desempenho, quanto nas formas de mensurá-lo. Para os não iniciados, esse pode parecer um debate escolástico, mas acreditem, não o é. O resultado financeiro de uma organização nos parece ser uma expressão bastante razoável e óbvia do que seja desempenho, mas essa clareza se dissipa quando voltamos nosso olhar para o trabalhador e fazemos a mesma pergunta: o que é desempenho?  A definição mais comum aponta para comportamentos ou ações que impactam diretamente o processo de transformação de insumos e materias-primas em bens ou serviços. Ou posto de outra forma, desempenho é realizar aquilo para o qual você foi contratado para fazer.

Entretanto, existe um aspecto do desempenho que recebe comparativamente pouca atenção, mas que a cada dia mais acredito que ele seja fundamental para realização dos objetivos organizacionais, independentemente do setor da economia e da atividade sendo realizada. É aquilo que chamamos de desempenho contextual, um conjunto de comportamentos discricionários do trabalhador, ele faz se quiser, ele não foi contratado ou é remunerado por isso, mas que contribuem para a criação e manutenção de um ambiente de trabalho mais agradável e saudável do ponto de vista social e psicológico. Ele se refere a coisas como tratar colegas com simpatia e atenção, ser educado na relação com os demais, demonstrar entusiasmo na realização de suas tarefas, seguir normas e regras de comportamento, ter espírito esportivo, levar as coisas na boa e com tranquilidade.

Olhando de perto, estas dimensões do desempenho contextual tem seu foco principal no indivíduo. Elas podem ser utilizadas como insumo para guiar o processo de seleção ou de desenvolvimento de pessoas na organizacião, mas isso não responde à questão fundamental para todo gestor: como posso lidar com isso no meu dia a dia? Qual seria o caminho para construir e desenvolver um ambiente de trabalho que tenha tais caracerísitcas e que dessa forma impulsione o desempenho no trabalho? Creio que nessa hora é que entra em questão a gestão do afeto.

Quando colocamos nossa atenção sobre o afeto no ambiente de trabalho, isso significa que prestamos atenção no link entre elementos internos do indivíduo, tais como cognições, emoções e estados mentais, e a forma como ele reage a eventos do ambiente de tabalho. A conclusão aqui é simples, somos serem emocionais e não apenas racionais como pressuposto da maioria das teorias tardicionais de gestão. Esse destaque ao afeto pode ser percebido de diversas formas como, por exemplo, na satisfação no trabalho, conceituado por alguns autores como uma reação afetiva a uma comparação feita pelo trabalhador entre o resulado obtido pelo seu trabalho e aquele desejado.

Gerir afetos signifca cuidar das pessoas. Prestar atenção aos seus sentimentos, às suas idéias. Gerir afetos signifca ouvir a opinião do outro na reunião, signifca dar um feedback honesto e sincero sobre um trabalho realizado, signifca que as relações de trabalho não precisam ser de amizade, mas precisam ser humanas. Cuidar dos afetos signica solidariedade. Signifca que as trocas no trabalho não devem ser diretamente contabilizadas e pesadas onde só dou se tiver recebido exatamente o mesmo que dei. Gerir afetos signifca construir um ambiente de trabalho saudável, agradável. Gerir afetos significa que as competência de relacionamento interpessoal são as mais importantes para o gestor. Afinal, passamos boa parte de nossos dias no trabalho e aquilo que ai acontece impacta diretamente sobre nossas vidas, sobre a forma como nos relacionamos com outras pessoas e sobre a forma como desempenhamos nossas atividades de trabalho.

Não estou dizendo que gerir afetos é algo simples, muito menos que sei como fazer isso. Contudo, a experiência vai mostrando que o caminho é por aí.

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