Adriano Peixoto

Relações de Trabalho

Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.

Média ou mediocridade?

Tenho um fascínio pela etimologia das palavras, por conhecer as suas origens e compreender a evolução do seu emprego ao longo do tempo. Desvendar como uma palavra nasceu e se desenvolveu permite entender a polissemia de alguns conceitos, seus múltiplos significados, abrindo novas frentes de interpretação, compreensão e expressão de ideias. Isso vale tanto para palavras que expressam conceitos e ideia complexas de uso teórico como aquelas que se referem à coisas simples e uso cotidiano, como, por exemplo, a palavra média.

Pensei na média já que ela tem estado em evidência nestes últimos dias. Diante das chuvas torrenciais que caíram na semana que passou os jornais (e telejornais) e, principalmente, os políticos, atribuíram o desastre não à falta de planejamento e ação, mas às chuvas acima da média para o esperado no período.

Na sua origem latina a palavra média significa meio. Na estatística a média é considerada como a primeira forma de representação de um grupo, o valor em torno do qual se concentra a distribuição de um conjunto de números. Sendo o meio ou sendo uma tendência central da distribuição, me parece óbvio que a palavra traz implícita a noção de coletivo que tem elementos acima e abaixo dela (ou de um lado e outro, como queiram). É por este motivo que na estatística se reconhece as suas limitações (da média) e ela costuma vir sempre acompanhada de outra medida que indica a dispersão (variação) dos dados.

Saindo do campo das exatas em direção à humanidades, me lembrei de Ariano Suassuna para quem o gosto médio era considerado como mau gosto. Como uma lembrança puxa a outra, me recordo que outra palavra assumiu, durante muito tempo, esse mesmo sentido de médio: medíocre/mediocridade. Ainda que nos dias atuais tenha havido um afastamento destes usos no senso comum, vemos que na ação política permanece uma clara identidade entre a média e a mediocridade.

É curioso, pois, a cada chuva mais forte se diz que choveu mais do que a média esperada…, mas tem sido assim desde que eu me entendo por gente. Nosso padrão de “precipitação pluviométrica” não é constante nem homogêneo. Sempre tivemos dias de chuvas torrenciais onde tudo alaga, onde os barrancos desabam, onde as pessoas perdem seus bens e suas vidas. Qual a novidade nesse padrão? Não foi assim ano passado? E no ano anterior? Alguém se lembra de alguma vez que não tenha sido assim? Por um acaso alguém acha que será diferente no ano que vem?  Assim, como classificar o político que apresenta a média de chuvas como explicação para o desastre e a tragédia senão como medíocre?

Tem gente que ainda diz que as construções antigas são resistentes porque são feitas de pedra e óleo de baleia.  Quem sabe uma investigação mais detalhada não mostre que as cidades agora têm sido construídas com açúcar? Isso explicaria porque agora temos que ficar em casa quando chove. A cidade derrete na água. Mas construir uma cidade que não resiste à chuva em um lugar que chove sempre, desde que Tomé de Souza aqui chegou, pode ser incompetência! Ou será que é mediocridade mesmo?

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