Adriano Peixoto

Relações de Trabalho

Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.

No popular…

Com muita frequência, o comportamento humano desafia nossa compreensão. Ainda que desde a virada do século vinte os aspectos irracionais da nossa constituição já fossem dados como certos, ainda prevalece, em muitos círculos intelectuais e no pensamento popular, um modelo de compreensão baseado no que chamamos de racionalidade econômica. Ou seja, é comum assumirmos que as pessoas agem de maneira racional, fazem balanços de perdas e ganhos antes de tomar determinadas decisões e que escolhem cursos de ação que maximizam ganhos e minimizam perdas.

Entretanto, se esse modelo de comportamento fosse inteiramente válido, como explicar a insistência de pessoas que frequentemente mantêm padrões de comportamento e escolhas nitidamente equivocados, mesmo quando todos os sinais de que algo errado está acontecendo estão presentes e piscam freneticamente à sua frente? Mais intrigante ainda, como, mesmo diante do caos, um grupo de significativo de pessoas permanece leal e segue na defesa de uma causa como se nada demais estivesse acontecendo, ao mesmo tempo em que outras pessoas se mantêm indiferentes ou até mesmo manifestam comportamentos violentamente antagônicos a essa mesma causa?

Foi com base em um conjunto de perguntas mais ou menos parecido com estas que cientistas sociais vêm se dedicando, desde a década de sessenta, a compreender a natureza do vínculo que o indivíduo estabelece com a organização. Ainda que a transposição de um fenômeno psicológico que se desenvolve no âmbito organizacional para o contexto político não seja sem problemas, creio que, por analogia, ele pode fornecer pistas interessantes para a compreensão de alguns problemas que hoje enfrentamos no campo político. E assim é que entra em cena o conceito de comprometimento.

Em uma primeira formulação, o comprometimento foi definido como resultado de uma linha consistente de ação, algo do tipo: se você toma um conjunto de decisões em uma determinada direção você se sente constrangido pela necessidade de consistência com ações anteriores (pelos custos – emocionais, morais e financeiros- envolvidos nessa ação) a manter o padrão de comportamento em momentos subsequentes.

Em formulações mais recentes, perece haver certa convergência de que esse vínculo se constitui a partir de: uma forte crença e aceitação de valores e objetivos da organização (oi grupo social/político); uma forte disposição de exercer um considerável esforço em nome da organização; e um desejo de ser parte dessa organização. Ou seja, um processo de identificação desencadeia um conjunto de ações voluntárias que ajudam a construir e a manter um vínculo.

Assim, poderíamos dizer que, de uma perspectiva psicológica, quando um governante insiste no erro isso poderia ser compreendido como uma dificuldade em contradizer comportamentos e posições historicamente assumidas, ainda que elas sejam flagrantemente equivocadas. Por outro lado, a defesa “intransigente” de um grupo/organização reflete, muitas vezes, crenças profundas e identificação de valores. Isso ajuda a compreender o porquê das pessoas não conseguirem se desvencilhar de alguns tipos de afiliação, mesmo quando essas crenças e valores se perderam pelo caminho. Isso mexe fundo naquilo que elas acreditam sobre elas mesmas.

Agora, parece óbvio que este tipo de explicação não exprime de forma adequada o que acontece na nossa política atual. Assim, parece fazer mais sentido recorrer às alternativas populares e jurídicas a essa explicação proposta pela psicologia: errar é humano e insistir no erro é burrice; formação de quadrilha!

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