Jacó Lula da Silva

Economia

Mario Augusto de Almeida Neto (Jacó) é técnico em agroecologia. Nascido em Jacobina, aos 17 mudou-se para Irecê, onde fundou e coordenou o Centro de Assessoria do Assuruá (CAA) e a Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA). Como deputado estadual (2019-2022), defende as bandeiras do semiárido baiano, agricultura rural e movimentos sociais. Ao assumir a cadeira na Assembleia Legislativa da Bahia, incorporou o "Lula da Silva" ao seu nome, por reconhecer no ex-presidente o maior líder popular do País. Na Alba, é presidente da Comissão de Direitos Humanos e Segurança Pública e membro titular das Comissões de Saúde, Defesa do Consumidor, Agricultura e Política Rural e Promoção da Igualdade.

Novembro Negro Revolucionário

Faz 50 anos que o grande poeta e filósofo Oliveira Silveira, junto com o grupo Palmares, no Rio Grande do Sul, iniciou as comemorações do dia 20 de novembro em homenagem ao herói Zumbi dos Palmares. Segundo o filósofo, essa é a data de morte desse símbolo de resistência e inspiração a todo povo negro que luta por liberdade, igualdade e amor.

A data tornou-se patrimônio nacional em 1979, quando aprovada na Assembleia Nacional do Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial – MNUCDR, que instituiu o 20 de novembro como o Dia Nacional da Consciência Negra, em oposição ao 13 de maio (Lei Áurea), declaração de liberdade de negros e negras escravizados apenas no papel, condicionando-os ao abandono, sem qualquer ação de reparação ou assistência social.

Já no ano seguinte, em 1980, em Salvador, foi organizada a primeira manifestação da consciência negra, alvo das opressões da ditadura militar, e que culminou na expulsão dos manifestantes das escadarias do Teatro Castro Alves, dando origem à Marcha da Consciência Negra, há 41 anos ininterrupta e que, na sua 42ª edição, temos certeza, irá mais uma vez tomar as ruas ao lado de todos e todas que lutam por uma sociedade justa e igual.

A Caminhada da Liberdade, realizada pelo Fórum de Entidades, que sai do Curuzu, da sede do bloco afro Ilê Aiyê, até o Pelourinho, é a maior manifestação do dia 20 de novembro no Brasil. São destaques também a Caminhada do Povo de Terreiro, do Engenho Velho da Federação, e a Caminhada do Subúrbio.

Mas há tempos o Dia da Consciência Negra se tornou o mês, o “Novembro Negro”, que nos faz relembrar, exaltar e querer festejar várias datas importantes. A começar pelo 8 de Novembro, Dia Municipal em Memória dos Mártires da Revolta dos Búzios, em alusão ao 8 de novembro de 1799, quando quatros jovens foram enforcados e esquartejados na Praça da Piedade. São eles: João de Deus, Manuel Faustino dos Santos, Lucas Dantas e Luiz Gonzaga das Virgens. Apesar de ter sido envenenado na Cadeia Municipal, onde hoje funciona a Câmara Municipal, em agosto de 1798, Antônio José é considerado pelo Movimento Negro como o quinto Mártir.

Em novembro celebramos a Alvorada dos Ojás (Coletivo de Entidades Negras, CEN) e as atividades da Unegro na Estátua de Zumbi dos Palmares, na Praça da Sé; comemoramos o aniversário do Bloco Ilê Aiyê, fundado ao primeiro dia do mês, no ano de 1974; a independência de Angola, no dia 11; a fundação da Coordenação Nacional de Entidades Negra (Conen), o nascimento de Mestre Bimba e Luiz Gama; o Dia da Baiana do Acarajé; e lamentamos a morte de Carlos Marighella e do ator Mario Gusmão.

Nas últimas décadas, o Novembro Negro também tem sido a oportunidade para uma verdadeira aplicação da Lei 10.639/03, que procura garantir o ensino da história africana e afrobrasileira. Como diz a ex-ministra das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos Nilma Lino Gomes no livro “Movimento Negro Educador”, o movimento negro não só despertou seu povo para a consciência de não ser descendentes de escravos, mas de africanos, ajudando na autoestima, mas preocupou-se com a educação, influenciando universidades, políticas de governo e propagandas de empresas. Dessa forma, percebemos o quanto é importante comemorar o Novembro Negro, uma luta que não deve ser exclusiva do movimento negro, mas de todos aqueles e aquelas que acreditam em igualdade e liberdade.

Esta edição do Novembro Negro nos obriga ainda mais a estar vigilantes na luta pela vida, denunciando a necropolítica aplicada por este desgoverno genocida do presidente Bolsonaro, e a reverenciar a memória de Zumbi, ele que acolhia no Quilombo dos Palmares não somente os negros, negras e originais fugidos, mas homossexuais e brancos pobres expulsos da sociedade. Não podemos tampouco aceitar a política de guerra às drogas que condena os pretos ao extermínio, sejam eles traficantes ou policiais; que a cor da pele e a condição social sejam determinantes nas estatísticas dos 600 mil mortos pela COVID-19; que o gênero seja justificava para os baixos salários ou funções desqualificadas; ou que a identidade sexual seja motivo para alguém ser impedido de entrar em qualquer lugar.

Este Novembro Negro nos mostra como um negro pode ser perseguido até depois da morte. Carlos Marighella, baiano de Salvador, negro, filho de português e negra brasileira, filósofo e poeta, guerrilheiro e revolucionário, foi deputado federal e considerado inimigo número 1 do regime militar de 1964. Acabou morto pelos seus agentes em 4 de novembro de 1969, no Rio de Janeiro, em emboscada covarde sem direito a reação ou julgamento. Depois de 52 anos, o filme dirigido pelo ator Wagner Moura em sua homenagem, foi perseguido e boicotado pelo atual Governo Federal, que alem de não ajudar com a realização, ainda tentou de todas as formas impedir sua exibição no Brasil, mesmo depois de a obra ter ganhado vários prêmios internacionais e ser bem avaliada pela mídia especializada em todo o mundo. Mas como o revolucionário Marighella nos ensinou, “não tive tempo para ter medo”, e o filme estreou nos cinemas no dia 4 de novembro, com fortes chances de ser um sucesso de bilheteria.

Para além da homenagem, assistir ao filme é entender muito do que foi o regime militar no Brasil, entender a importância do engajamento na luta política e por que Marighella abdicou do convívio da família em nome da liberdade dos brasileiros. E não podemos aqui deixar de homenageá-la, pois mesmo depois da sua morte, continuou seu legado, através do filho, Carlos Marighella Filho, e de sua neta Maria Marighella, vereadora de Salvador.

Nosso mandato não poderia deixa de exaltar esse líder que foi Marighella, e, por isso, propusemos na Assembleia Legislativa da Bahia uma Moção de Aplausos ao ator-diretor Wagner Moura e um projeto de indicação para instalação de placa na casa onde ele nasceu em Salvador.

O nosso poeta Marighella, assim como Zumbi e Dandara dos Palmares, são uma inspiração eternamente presentes. Por fim, não poderíamos deixar de convocar toda a sociedade para fazer deste 20 de novembro um grande levante popular contra este desgoverno e essa elite do atraso, esses antes patriotas, que veneram mais os EUA do que seu próprio povo, que anda brigando por comida no lixo, enquanto eles riem em suas mesas fartas, viajam com aviões do governo sem sentir o valor dos combustíveis ou da cesta básica. Dia 20 de Novembro de 2021 é hora de colocar a consciência negra em suas bandeiras e ir às ruas lutar pela vida, educação, comida, vacinação, cultura e impeachment de Bolsonaro!

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