Adriano Peixoto

Relações de Trabalho

Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.

O Vento Levou

Só recorrendo à Roberto Carlos para expressar adequadamente o espírito que anima essas últimas semanas: são tantas emoções! Começando como o assassinato do governo, o Delcídio, e finalizando com o Lula acompanhando o japonês da federal, nuncaantesnahistoriadessepaíz tivemos um momento como esse. Podem até ter havido períodos similares, mas iguais, nunca!

Entretanto, o espírito de Ba-Vi e o excesso de marketing que contaminam a ação política nos dias atuais se erguem como um véu que distorce a visão e não permitem que enxerguemos as coisas como elas são. Mais uma vez, o que importa é a construção de uma versão que seja útil ao grupo que a utiliza, mesmo que para isso seja necessário abandonar a lógica e o bom senso.

Isso pode ser percebido de forma clara e cristalina quando prestamos atenção nas falas sobre a colaboração do Senador Delcídio do Amaral com as investigações em curso na operação Lava a Jato. Chama atenção a linha de argumento que o governo utilizou para desqualifica-la, construída ao redor de três aspectos principais: sua existência, a motivação e as características da personalidade do seu autor.

No campo da existência, o argumento se desenvolve em torno da sua homologação (ou não) pelo Ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal. A ideia é tão simples como sem sentido. Como o STF (ainda) não homologou a delação, ela não existiria ou não produziria efeito. Ora, o efeito da homologação se volta à obtenção de benefício para o colaborador que pode pleitear, caso sua delação seja aceita pelo juiz (nesse caso o ministro do STF), o perdão judicial. Ou seja, a não homologação não faz desaparecer as informações prestadas ou mesmo as torna inúteis, apenas sinaliza que ela não atende os objetivos – identificação de coautores e participantes, revelação de estrutura da ORCRIM, prevenção de infrações futuras, localização de vítima – ou seus requisitos legais. Assim, não é porque a delação do Senador Delcídio não foi homologada que ela não existe ou que os fatos nela narrados não são graves.

No campo da motivação, o governo desenvolve o argumento de que a delação foi feita porque o Senador estaria querendo se vingar do governo que não o defendeu quando ele foi preso. Aqui a ofensa à razão se agrava. Se a delação não existe, como afirma o governo, como o Senador estaria se vingando? Entretanto, isso é apenas manobra diversionista, não é esse o elemento central. Da perspectiva da justiça e do bem comum, as motivações do delator são secundárias. Cumpre avaliar se elas são verdadeiras ou não. Isso me faz lembrar o ex-prefeito de São Paulo, Celso Pitta, preso de pijamas na porta de sua casa às seis horas da manhã, denunciado por sua mulher que queria vingança por ter sido traída. Assim, a pergunta a ser feita é: as informações prestadas são verdadeiras ou não?

E por fim, no campo da personalidade do Senador temos dois aspectos relevantes. Quem melhor que um bandido para denunciar seus comparsas? Por outro lado, ele é Senador pelo PT desde 2002 e foi indicado para líder do Governo pela presidente Dilma em 2015. Se ele é um falastrão, se ele é um desqualificado, temos então um sério problema com o governo atual que não sabe escolher seus membros, o que não deixa de ser verdade, mas que em nada melhora a sua situação.

Essa é mais uma daquelas situações onde a ação foi substituída pela narração. O problema é que as palavras, o vento leva e a realidade fica.

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