Adriano Peixoto

Relações de Trabalho

Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.

O paradoxo das filas

Por motivos bastante distintos as filas estiveram presentes no noticiário das ultimas semanas. Aqui em Salvador, uma pessoa morreu na fila para marcação de consulta no Centro Estadual de Oncologia. Na semana passada, no teatro Castro Alves, centenas de pessoas esperavam nas filas, em pé, debaixo do sol, para comprar um ingresso para o show de Betânia.No Rio do Janeiro milhares de pessoas se aglomeraram na fila do instituto do câncer que dava voltas no quarteirão em busca de uma senha para marcação de consultas para 2013.

Tem gente que acha que a fila é democrática. Os que assim pensam se baseiam na ideia de que a fila ordena, organiza o acesso da demanda à oferta não importando muito do que estejamos falando. A ideia básica é simples, ainda que seja ingênua: quem chega primeiro, é atendido em primeiro lugar, sem distinções. Isso funciona em lugares civilizados onde fila é coisa importante e deve ser respeitada. Existe até um ramo inteiro da matemática dedicado ao seu estudo.Existe até um ramo inteiro da matemática dedicado ao seu estudo.Furar fila é motivo de briga. Sob que direito e com base em que argumentos você passa na frente de alguém?

O respeito à fila expressa muito bem o caráter de um povo: os mais educados se arrumam de forma tranquila e espontânea. As filas permitem que elementos de solidariedade social , aqueles comportamentos que expressam o que há de melhor em nós, possam se manifestar: cedemos nosso lugarpara os mais velhos, deixamos a mulher grávida passar na frente; convidamos as pessoas que tem algum tipo de dificuldade para ….

Infelizmente nossas filas não têm essa natureza. Há um lado perverso nelas que expressa todoautoritarismo que se encontra entranhado emnossa sociedade. O autoritarismo submete, obriga, molda e conforma. Pessoas doentes que precisam de consultas e exames são obrigadas a acordar de madrugada para garantir um lugar na fila. A perversão se manifesta na falta de alternativa à fila que se combina com a dúvida que é imposta usuário/cliente/cidadão: serei atendido? Comprarei meu ingresso? Terei acesso ao serviço? Nesse contexto, aparecem as “soluções”: a pessoa que “guarda” o lugar na fila para vender para outro; o cambista que vende mais caro o ingresso que você não pode comprar porque ele já tinha acabado quando sua vez chegou; o amigo ou o funcionário que lhe faz aquele favorzão e facilita o seu atendimento no serviço lhe passando na frente de outras pessoas que estão na fila aguardando atendimento…
Em plena era da informação o que não faltam são soluções para as filas que estão disponíveis para quem as quiser utilizar.Nossas filas mostram de forma clara e inequívoca que o usuário não é importante, que o atendimento ao cidadão não é o foco da ação do serviço público eatestam, inequivocamente, que nossos gestores são incompetentes, para dizer o mínimo.

Mas não há de ser nada não. A COPA vem ai e tenho certeza que a solução para nossas filas será parte fundamental do legado que a competição deixará para nossa cidade, assim como a solução para a mobilidade urbano, o turismo, a saúde…

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