Adriano Peixoto

Relações de Trabalho

Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.

Pasteurizados e homogeneizados

Pesquisadores suíços anunciaram esta semana terem desvendado um mistério que vinha lhes desafiando nos últimos quinze anos: a redução no tamanho e na quantidade de buracos dos queijos suíços! A ciência popular atribuía os buracos dos queijos a bolhas de gás carbônico formadas durante o processo de fermentação. Já as histórias infantis atribuíam os buracos aos camundongos. O fato é que queijo suíço sem buraco é como avião sem asa, fogueira sem brasa, queijo sem goiabada, circo sem palhaço!

A explicação para este fenômeno é relativamente simples: a sujeira dos baldes de ordenha. Ou seja, os buracos se formavam porque os recipientes onde o leite era coletado sofria a contaminação de partículas (microscópicas) de feno. Com o avanço das tecnologias de produção e a redução da contaminação verificada ao longo dos últimos anos, os buracos do queijo foram sumindo.

Essa história me lembrou outro fato curioso do mundo lácteo ocorrido quando da formação da União Europeia e da definição de suas regras sanitárias. Pelos acordos iniciais, os queijos franceses seriam proibidos de serem vendidos por que seus níveis de contaminação eram várias vezes superiores aos limites permitidos pela legislação da União. Os franceses ficaram e pé e foram taxativos: sem haveria lugar para a França em uma Europa unida que proibisse o camembert e o roquefort.

Isso me fez pensar: que sociedade é essa que acaba com os buracos do queijo suíço ou que cogita a possibilidade de banir os fedorentamente deliciosos (ou seria “os deliciosamente fedorentos”?) queijos franceses? Isso pode parecer um assunto irrelevante, mas no fundo ele fala muito diretamente sobre a natureza da sociedade que estamos construindo e na qual vivemos.

É nesta altura do texto que alguns devem estar pensando e outros até mesmo escrevendo: mas como você pensa em queijo suíço, queijo francês quando existem milhões de pessoas passando fome?´Pois é, somos cotidianamente pasteurizados e homogeneizados pela sociedade contemporânea do politicamente correto. Viva o queijo suíço cheio de buracos!

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