Adriano Peixoto

Relações de Trabalho

Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.

Precisamos acabar com o trabalho ruim

Você já parou para pensar em como você se sentiria se passasse parte significativa de sua vida em uma caixa, de cerca de 2 m2, olhando para a parede e apertando um mesmo botão o tempo todo? Ou ainda, que tal ficar o dia inteiro de pé, parado, colocando produtos diversos dentro de uma sacola? Ou então, o que dizer de ficar sentado em uma mesa olhando para as pessoas que entram e saem de um prédio qualquer com um mínimo de interação?

Não, não estou querendo que você se submeta a nenhum tipo de tortura chinesa, mas sim que reflita sobre alguns tipos de trabalho que ainda são comumente encontrados em nossas cidades: ascensorista, empacotador e porteiro, apenas para nomear algumas das ocupações mais visíveis. Mas o que essas atividades têm em comum? Todas elas pressupõem uma mão de obra de baixíssima qualificação, atividades realizadas de maneira absolutamente monótona e repetitiva, caracterizando um trabalho que não oferece nenhuma possibilidade de crescimento e desenvolvimento pessoal e que apresentam níveis de produtividade absurdamente baixos.

Em outras palavras, são trabalhos muito ruins tanto da perspectiva do indivíduo quanto da sociedade e que, por estes motivos, deveríamos nos empenhar para acabar com eles, pura e simplesmente assim! O trabalho ainda ocupa um espaço tão central na nossa existência que não é difícil compreender os potenciais impactos negativos, nos indivíduos.Então, porque postos de trabalho ruins ainda persistem e pior, são largamente disseminados, já que as formas de acabar com esse tipo de atividade são largamente conhecidas e dominadas?

Sempre que faço essa pergunta costumo ouvir que precisamos desse tipo de trabalho para que possamos dar emprego a pessoas de baixa qualificação profissional que, de outra forma, não teriam competência para desempenhar outro tipo de atividade. Essa seria uma ótima resposta se não trouxesse embutida um gigantesco preconceito social, um ranço provinciano(queremos ser servidos, mas detestamos servir!)e se não fosse marca donosso grande fracasso social: a incapacidade de proporcionar uma educação de qualidadepara todos os seus membros.

Acabar com os empregos ruins significa avançar um pouco mais na direção de uma sociedade mais justa e igualitária. Assim, da próxima vez que você encontrar alguém realizando um trabalho ruim se pergunte: essa é a melhor forma de realizar esse trabalho? Ele precisa realmente ser feito?

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