Adriano Peixoto

Relações de Trabalho

Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.

Qual é o legado?

Faltando menos de cem dias para a abertura dos jogos da Copa já é possível fazer um balanço do legado que a competição deixará para a cidade. Como não existe tempo hábil para que novos projetos sejam iniciados e concluídos antes da abertura dos jogos, o legado é aquilo que já está pronto ou bem encaminhado. A forma mais simples de avaliarmos o impacto para a cidade é olhando para a Matriz de Responsabilidades, documento assinado pela União, Estado e Município, que apresenta as áreas prioritárias para as obras de infraestrutura estabelecendo valores e responsabilidades de financiamento. A ideia básica do legado consiste na realização de obras necessárias às cidades que são antecipadas em função da copa.

Na primeira versão da Matriz (Janeiro de 2010) constam apenas duas obras: a reconstrução da Fonte Nova (pronto) e o BRT ligando o aeroporto ao estádio. Em Julho de 2010 um aditivo é assinado onde duas novas obras são incluídas: a torre de controle do aeroporto de Salvador e o terminal marítimo de passageiros, ambas em andamento. Já em maio de 2012, o BRT foi excluído e foram adicionados: a ampliação do pátio e reforma do terminal de passageiros no aeroporto (este já foi suspenso, pois não ficaria pronto até junho); e uma tal modernização de infraestrutura de suporte à competição que envolve uma série de ações que facilitam a instalação dos equipamentos de comunicação que serão usados pela imprensa. E pronto, c´est fini!

Procurando um pouco mais, achamos algumas ações que são fruto de financiamentos e programas outros que vão sendo incorporados e tratados como parte da preparação da cidade para a copa. Em algum momento o governo fala na ampliação da infraestrutura turística com a construção de catorze novos hotéis em Salvador e região metropolitana. Entretanto, o que temos é a ampliação de alguns estabelecimentos, reforma em outros, implantação de alguns albergues e de uma meia dúzia de três ou quatro hotéis, de fato, sendo que a reabertura do Hotel da Bahia (agora como Sheraton) entra nesta conta. Ah, a reforma da orla da Barra também faz parte deste bolo. Mas nada de significativo para a cidade que possa ser associado, de fato, à realização da Copa. Por exemplo, o caos aéreo de 2006 e de 2010 são sinais claros de que a reforma dos aeroportos é uma necessidade urgente do passado que não guarda relação com nenhuma com os jogos, mas nem isso estará pronto à tempo!

Não restam dúvidas de que a copa é uma grande festa, muito bonita e emocionante. Poder participar de um evento como este é uma oportunidade única! Agora, quando olhamos para toda a propaganda que foi feita pelo governo dos benefícios que viriam associados à realização dos jogos e que não se materializarão; quando constatamos que mesmo o básico ainda não está pronto; quando vemos que se multiplicam as matérias negativas sobre o país na imprensa internacional (violência, turismo sexual, sequestros e por ai vai…); quando nos deparamos com a inflação de preços em função dos jogos; e quando percebemos que a multiplicação dos custos já faz desta a copa mais cara de todos os tempos, ficamos com a impressão de que fomos enganados. Não há nenhum legado para a cidade. Não há nenhuma melhoria importante sendo feita. Contudo, com o Brazil jogando em Salvador, com a cerveja liberada na ARENA e com um segundo carnaval no ano, quem se importa com o legado?

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