Adriano Peixoto

Relações de Trabalho

Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.

Rankings

A semana que passou trouxe a marca dos rankings, sendo o da FIFA, de longe, aquele que recebeu a maior atenção. A movimentação de pessoas, empresas e veículos de comunicação que estão mobilizados para a transmissão do sorteio das chaves da copa do mundo é impressionante. Estima-se que cerca de dois bilhões de pessoas estavam sintonizadas no evento que será transmitido ao vivo para todo o globo a partir de Costa do Sauípe. Contudo, a semana teve também a divulgação dos rankings do Teste Pisa, que avalia o desempenho escolar de adolescentes de 15 anos de idade em relação aos seus conhecimentos de matemática, ciências, leitura e resolução de problemas, uma ação desenvolvida pela OECD; e a divulgação de um ranking de específico de universidades dos BRICS e países em desenvolvimento produzido pelo suplemento de Educação Superior do Jornal britânico The Times. Não dá nem para comparar o padrão de atenção e discussão entre estes temas, mas eles excelente expressão do estado das coisas em nosso país.

É certo que todo ranking tem traz embutido uma boa dose de arbitrariedade na escolha de seus indicadores. Podemos sempre questionar se as medidas utilizadas são as mais indicadas para expressar as características principais e particulares daquilo que está sendo ranqueado. Assim, uma pequena mudança no critério pode levar a uma significativa alteração na posição ocupada. Também está claro que um ranking específico não pode e não deve ser utilizado como único elemento de avaliação uma vez que seus resultados serão sempre parciais. Entretanto, apesar dos problemas os rankings, quando construídos sobre bases sólidas, permitem comparações rápidas que espelham de forma bastante precisa as realidades observadas. Este é o caso do ranking das universidades e da qualidade da educação.

No caso do Pisa avalia-se a extensão da aquisição de conhecimentos e habilidades básicas necessárias à plena participação na vida das sociedades contemporâneas. Nos países que atingem os níveis mais altos de educação os estudantes demonstram que conseguem desenvolver e trabalhar com modelos para situações complexas, e trabalhar utilizando estratégias amplas e bem desenvolvidas de pensamento e raciocínio lógico. No caso do Brasil apenas 0,8% dos estudantes atingem este nível de conhecimento enquanto na China esse patamar é atingido por 55,4% dos estudantes. As implicações desses resultados são amplas, profundas e dramáticas.

O caso do ranking das universidades é expressão da mesma realidade. Ele foi composto com base em treze indicadores que respondem por missões básicas internacionalmente reconhecidas: ensino, pesquisa e transferência de conhecimento (extensão). No caso brasileiro precisamos ainda levar em conta a missão de inclusão social. De qualquer forma, e apesar dos grandes e significativos investimentos recebidos nos últimos anos, ainda estamos muito longe dos patamares alcançados pelos países com quem competimos diretamente no mercado internacional. A USP, nossa malho colocada, aparece apenas no 11° lugar com uma nota 33% menor do que a Universidade de Pequim que encabeça a relação. Aliás, a China emplaca 4 universidades nos primeiros lugares e a Turquia 3! Ora, sendo as universidades um dos principais motores de inovação na economia e na sociedade talvez estejamos precisando prestar mais atenção para os produtos e para o padrão de interação que a nossa universidade estabelece (ou não) à sociedade.

A soma das evidências de problemas na educação básica e as distâncias que precisam ser vencidas no ensino superior sugerem que ainda temos um longo caminho a percorrer e que a educação não é uma prioridade nacional, apesar de toda propaganda em contrário. Talvez a melhor explicação para esta situação seja aquela dada por Noam Chomsky, conhecido linguista e ativista político americano, ao sugerir que se as pessoas se mobilizassem para solução de seus problemas com a mesma paixão e dedicação com que elas enchem os estádios, o mundo seria um lugar totalmente diferente.

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