Adriano Peixoto

Relações de Trabalho

Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.

Utopia ou Distopia?

Neste final de semana levei uma sobrinha ao shopping para assistir um filme de ficção americano daqueles onde o final já se mostra visível logo nos primeiros minutos. Nada de mais. Enquanto os críticos e os mais sensíveis discutem se é a vida que imita a arte ou se é a arte que imita a vida, o filme chamou a minha atenção pelo contexto no qual a trama se desenvolve: uma sociedade qualquer em um futuro pós apocalipse. Este tipo de contexto para os enredos cinematográficos não é novo sem inusitado. Os exemplos abundam: Mad Max, Blade Runner, Inteligência Artificial, Matrix, Jogos Vorazes,… e é exatamente esta a questão! A representação do futuro é sempre caótica, uma distopia.

É possível que isso seja um eco ou mesmo a influência direta da nossa tradição cristã com o seu apocalipse redentor; podem ser também os resquícios da guerra fria e seu risco permanente de destruição nuclear mútua. Mas em um mundo onde são cada vez mais frequentes os, assim chamados, estados falidos e onde o risco de um desastre ambiental é cada vez mais presente, talvez seja o caso de olharmos para estas produções como mais um conjunto de sinais de que precisamos nos preocupar seriamente com o futuro.

O futuro como projeto, construção ou mesmo desejo não é um tema que faz parte de nossa agenda política e social apesar do governo ter uma secretaria, em tese, dedicada ao planejamento de longo prazo, a secretaria de assuntos estratégicos. É possível que os graves problemas cotidianos enfrentados, por parte significativa da população, tenham capturado nossa atenção de modo que dedicamos toda nossa energia à sua superação, afinal, se eles não forem enfrentados e vencidos não haverá futuro.

Se nos anos noventa a agenda política estava voltada para a estabilização da economia, nos anos dois mil a agenda se voltou para a inclusão social. Temas fundamentais, ainda válidos nos dias atuais, mas insuficientes para apontar um caminho para o futuro. Qual o nosso papel no conjunto das nações? Gilberto Freire dizia que, apesar de seus problemas, o Brasil tinha um modelo civilizatório a ensinar para o mundo. Mas em tempos onde o pensamento e a expressão de ideias são constrangidos pelo patrulhamento do politicamente correto, o pensamento do mestre de Apipucos, por exemplo, não serve como parâmetro.

Creio que precisamos debater e construir um projeto de nação que supere as tensões e polarizações dos partidos políticos e que forneça uma agenda ação para as gerações atuais e futuras. Um exemplo de uma agenda suprapartidária dessa natureza foi a construção do sistema de saúde britânico no pós guerra, que foi seguida tanto por conservadores quanto pelos trabalhistas. No nosso caso, e diante das nossas dificuldades, creio que precisamos de uma agenda mínima de longo prazo que se debruce sobre meio ambiente, saúde, educação, tecnologia e defesa. Posso estar sendo ingênuo, mas tenho certeza que o distanciamento das utopias nos aproxima perigosamente dos previsíveis finais dos filmes americanos.

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