27 de fevereiro de 2009 | 07:40

O enigma da secretaria de Cultura

É fato: a presunção, mais do que a eventual incompetência, de Márcio Meirelles está concorrendo para colocá-lo no panteão dos piores secretários do governo Jaques Wagner, cuja imagem tem sido constantemente golpeada pelos flancos que o representante oficial da pasta da Cultura se encarrega de abrir.

Agora, se não vier a público explicar devidamente o motivo porque resolveu patrocinar na festa de maior visibilidade do Estado, com dinheiro público, atrações completamente estrangeiras à folia, inclusive por seu caráter elitista, Meirelles vai acabar tendo que engolir as acusações de que fez uma “ação entre amigos” neste Carnaval.

Afinal, qual é o propósito de colocar na avenida gente como Otto, Arto Lindsay, Galerinha e um punhado de artistas cujo valor estético e conceitual pode até não se discutir, mas que tiveram, em alguns casos, desempenho melancólico sobre o palco andante dos trios pagos pelo ‘governo de todos nós’?

Quer o secretário, que ganhou o apelido de Macbeth da Província, proporcionar ideologicamente uma reinvenção do Carnaval baiano através de “lições” ao folião ou aos artistas locais de uma forma grotescamente inorgânica? Ou projeta simplesmente “universalizar” com a festa seu gostinho particular com dinheiro coletivo?

Nem pelos poderes de Grace-Skol!
 
Ajudaria muito a Meirelles se ele compreendesse que, como gestor, tem a obrigação de atuar com transparência e respeito ao que é público, participando adequadamente à sociedade os fundamentos de como deseja servi-la. Não se fala aqui dos interesses que sua administração contrariou, em alguns casos, de forma justificável.

Mas da necessidade de explicitar seu projeto para a cultura baiana, cujo conteúdo ninguém conhece, ninguém viu nem vê, mas sobre o qual se ouve a conversa fiada de que planeja interiorizar as ações públicas no setor. Exatamente. Convenhamos que, em sendo este seu projeto, é muito pouco para ficar onde está.

Pelo visto, se deixarem o secretário assim solto, tentando travestir de popular propostas que estão longe de agradar os excluídos dos camarotes, dos blocos e até da avenida, daqui a pouco Meirelles vai inventar de encenar uma peça de William Shakespeare no próximo domingo de Carnaval em pleno Campo Grande.

Pensando bem, seria até bom para ver se tem talento suficiente para incorporar o Macbeth da Província com que pichou-lhe, pelo visto, até o fim dos tempos, a boca do inferno de Aninha Franco. O problema é que, pelo que já se percebeu há muito, o secretário parece não gostar muito de atuar. Quando muito, dirige!

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