14 dezembro 2024
Presidente do PDT de Salvador, o deputado federal Leo Prates tem um plano bem definido: ser candidato a prefeito da capital em 2028. Questionado se não está muito longe para traçar tal objetivo, pois ainda há duas eleições no caminho, o pedetista, ao contrário, diz que está cada vez mais perto, pois o sonho é antigo. Aliados fortes ele tem, a exemplo do ex-prefeito ACM Neto (União), de quem sempre foi muito próximo.
Nesta entrevista exclusiva ao Política Livre, Leo fala sobre o futuro, mas também relembra o passado, desde os tempos em que, ao lado do atual prefeito Bruno Reis (União), ocupava a assessoria parlamentar de ACM Neto na Câmara Federal. Ele garante que nunca houve disputa por espaço com Bruno, e, com o peso de quem teve 88 mil votos na cidade em 2022, assegura que dará o máximo para reeleger o aliado em 2024.
Leo afirma ainda que o caminho natural do PDT é apoiar a permanência da vice-prefeita Ana Paula Matos, filiada à legenda, na chapa de Bruno Reis, mas frisa que isso não é automático. Ainda sobre 2024, ele ressalta que haverá uma reunião com o presidente estadual do PDT, deputado federal Félix Mendonça Júnior, para tratar da montagem da chapa proporcional da sigla. Uma das decisões que será tomada é se o partido vai aceitar o ingresso de vereadores de mandato.
Sobre 2026, o deputado declara que o candidato natural ao governo da Bahia pela oposição é ACM Neto. Confira abaixo a íntegra da entrevista.
Política Livre – O senhor começou na política como assessor do então deputado federal ACM Neto (União), em 2003, assim como o atual prefeito de Salvador, Bruno Reis (União). Só que Bruno disputou a primeira eleição antes, em 2010, sendo eleito deputado estadual – o senhor conquistou a cadeira na Câmara Municipal dois anos depois. Havia nos tempos de assessoria algum tipo de competitividade entre os dois?
Não, olha, é muito pelo contrário. Tenho orgulho dessa passagem e nunca houve concorrência. Você me dá a oportunidade de fazer um reconhecimento histórico. Eu não pensava em disputar a política eleitoral, até porque a minha formação é na área de exatas e sempre me colocava como um técnico. Tanto que a ideia era que eu fosse para o governo do Estado, após as eleições de 2006, e Bruno seguisse carreira política eleitoral. Mas o nosso grupo perdeu aquela eleição de 2006 de forma inesperada e inviabilizou isso. Continuei na assessoria de Neto e a gente sempre botou como meta eleger um vereador ligado ao, na época, deputado federal. Em 2008, pensamos nisso, mas achamos que não era o momento porque poderia tumultuar, já que Neto foi candidato a prefeito. O nome era o de Bruno. Mas foi acordado que, em 2010, Bruno seria candidato a deputado estadual e ele acabou sendo e se elegendo. Nos unimos em torno daquela campanha de Bruno, como sempre fizemos quando uma decisão do nosso grupo é tomada. Bruno sempre foi, de nós, aquele que manifestou o desejo por ter uma carreira eleitoral.
Bruno Reis foi importante para sua primeira eleição de vereador, em 2012?
Sim, numa eleição em que a gente estava totalmente na oposição Bruno me deu os meus primeiros dois mil votos para me eleger vereador. Ele foi fundamental, assim como dona Rosário Magalhães, a mãe de ACM Neto. Os dois foram os principais incentivadores da minha candidatura a vereador em 2012. Bruno queria eleger um vereador em Salvador, e aí ele começou a estimular isso. Eu tinha, e ainda tenho, uma ligação muito forte com o movimento dos direitos das pessoas com deficiência, uma relação forte com a cidade, e isso acabou me favorecendo a ser candidato a vereador. Foi o destino mesmo, e a consequência do trabalho, porque havia esse espaço vazio. Eu tinha acesso às lideranças da cidade, uma militância no movimento estudantil, a amizade com Bruno e Neto. Então, todas essas situações me levaram a disputar a eleição de vereador.
Mas não havia, como em 2008, a preocupação de que uma candidatura a vereador de alguém tão próximo a ACM Neto, novamente concorrente à Prefeitura em 2012, gerasse ciúmes e prejudicasse as articulações tanto da chapa majoritária quanto proporcional?
Havia, sim. Mas acabou que prevaleceu a tese de Bruno Reis e de dona Rosário de que era importante haver uma candidatura a vereador do nosso grupo. Acho que também não houve ciúmes porque minhas candidaturas foram, além da estrutura montada pelo nosso grupo, sempre muito reflexo também do meu trabalho, como essa primeira de vereador, a reeleição na Câmara, a vitória para deputado estadual e, por fim, federal, ano passado.
Calma, vamos chegar lá. No seu segundo mandato de vereador veio a eleição para a presidência da Câmara…
Essa foi uma situação muito rara, porque normalmente se é presidente da Câmara com mais experiência. Eu estava apenas no segundo mandato e era muito jovem. Eu tinha, naquela época, 36, 37 anos de idade. Mas eu até interrompi a pergunta para lembrar que antes disso eu tinha sido vice-líder do governo e presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) daquela Casa, e, para isso, recebi o apoio fundamental do então vereador e ex-governador Waldir Pires e do atual vereador Edvaldo Brito (PSD), que eram da oposição, além do então presidente do Legislativo municipal, Paulo Câmara (PSDB). Acho que fizemos um diálogo produtivo na Câmara, tanto com membros do governo como da oposição. Conseguimos aprovar todos os projetos enviados pelo prefeito ACM Neto. E a presidência da Câmara Municipal foi um momento de upgrade em minha trajetória política, em minha percepção da política.
O senhor falou aí da relação boa que tinha com a oposição. As especulações, ou maldades, de que essa sua postura poderia sinalizar uma mudança de lado incomodavam?
Eu ouço isso até hoje, mas a minha biografia responde. Mas eu sempre digo que eu tenho um lado, e não um muro. Tanto que essa minha relação ajudou com que aprovássemos todas as matérias enviadas pelo Executivo à Câmara Municipal. Eu acho que foi a legislatura que menos teve parecer em plenário, ou seja, discutimos e aperfeiçoávamos os projetos nas comissões, respeitando todos os vereadores. Contribui para aperfeiçoar o processo legislativo, e esse talvez tenha sido o meu grande legado. Veja que eu também implantei essa parte da votação digital. Tudo isso fortalece a democracia, e respeitar a oposição também é da democracia. Outros pontos marcantes da minha gestão na Câmara, que eu considero, foram a Escola do Legislativo Péricles Gusmão Régis e o novo sistema de comunicação da Câmara.
Em 2018 o senhor venceu a eleição para deputado estadual, mas praticamente não assumiu a cadeira e nem teve o gostinho de ser oposição, pois logo virou secretário municipal em Salvador. Sente falta de ter ocupado a cadeira na Assembleia?
Acho que são as coisas do destino, as missões que aparecem na vida da gente. Eu acho que ACM Neto já queria, antes mesmo da minha eleição de deputado estadual, me dar um desafio administrativo. Sabendo das minhas ligações com os movimentos sociais da cidade, especialmente o das pessoas com deficiência, ele me convidou para ser secretário de Promoção Social e Combate à Pobreza. Aceitei na hora. Depois veio a Secretaria de Saúde, que foi uma missão desafiadora, sobretudo por conta da pandemia da Covid-19.
A sua passagem pela Secretaria de Saúde foi o que credenciou o senhor a ser o deputado federal mais bem votado de Salvador em 2022?
Rapaz, foi uma votação que surpreendeu a todos nós, inclusive eu. E quero expressar mais uma vez a minha gratidão ao povo de Salvador por isso. Veja, o ex-prefeito Antonio Imbassahy (PSDB) saiu da Prefeitura, sendo um grande prefeito da cidade, um dos melhores que Salvador já teve, e recebeu na melhor votação para deputado federal 82 mil votos. Eu ainda peguei um cenário em que o IBGE falava em redução do número de habitantes em Salvador e veja que, mesmo assim, tive 88 mil votos, sendo que nunca fui prefeito. Foi uma votação expressiva e que nos assustou, no bom sentido. Na melhor hipótese eu esperava ter 40 ou 50 mil votos em Salvador. Essa era a conta que estava na minha matemática. Eu calculava, no total, entre 90 e 100 mil votos e tive, graças a Salvador, 144 mil. Acho que isso tem a ver sim com a passagem pela Secretaria de Saúde, porque, mesmo sendo engenheiro, surpreendi muita gente com esse trabalho lá, e o resultado positivo só veio graças aos competentes profissionais que temos lá. Mas também contou a minha trajetória vinculada à cidade onde nasci, onde escolhi para criar os meus filhos, a terra que mais amo no mundo. Essa relação minha com Salvador é antiga. Por isso, não é uma trajetória meteórica, e isso fica demonstrado em minhas votações. Na minha primeira eleição tive 6,7 mil votos para vereador. Na segunda, 12,5 mi. Para estadual, tive 26 mil votos na cidade. Fui crescendo de degrau em degrau.
Está gostando do mandato de deputado federal?
Quem já tem uma experiência no legislativo como eu tive fica mais fácil se adaptar, inclusive ao ritmo de como as coisas acontecem. Mas há dois dificultadores. O primeiro é que eu sou uma pessoa muito informal, e na Câmara Federal não podemos ser assim, porque há uma estrutura muito hierarquizada, tem muito líder. Até por isso você tem muitas dificuldades de avançar em algumas coisas, porque é tudo muito feito em bloco. O outro elemento dificultador é ficar afastado da família durante boa parte da semana, coisa que eu não estava acostumado. Mas é tudo aprendizado.
O senhor foi eleito recentemente presidente da Comissão Especial de Prevenção e Auxílio a Vítimas de Desastres e Calamidades Naturais. De que forma esse colegiado vai atuar para prevenir os impactos das chuvas e da estiagem, que costumam atingir a Bahia?
Acho que a primeira coisa é desenvolver um trabalho de apoio aos mais necessitados. Além disso, precisamos criar um arcabouço legal que garanta, como você colocou muito bem, a prevenção, que garanta uma rápida resposta quando nós tivermos essas intempéries. Outro ponto importante é ajudar na reconstrução dos locais atingidos. Faremos um trabalho focado nas pessoas.
O PDT, presidido pelo senhor em Salvador, está na base do governo Lula (PT). O partido está satisfeito com o espaço ocupado pelo partido, que é o Ministério da Previdência?
Em relação a cargos, eu não faço política por cargos. Eu sou uma pessoa que procuro colaborar com o meu país, com a minha cidade. Na pandemia mostrei isso, dialogando com o então governo Rui Costa (PT). Acho que temos que buscar colaborar independentemente de ter cargos ou não, principalmente se for bom para a população. O que eu posso dizer é que o PDT está pronto para colaborar com o Brasil naquilo que o presidente entender que é necessário. Acho que o governo está tentando ainda organizar algumas áreas, principalmente a economia, que é a primeira. Veja que o próprio ACM Neto, entre 2023 e 2014, nos primeiros anos como prefeito, fez a organização fiscal e financeira de Salvador. Então, torço para que o Brasil possa se organizar para atrair investimentos.
O senhor falou que não tem apego a cargos, mas acabou de indicar o novo superintendente do Ibama na Bahia, o advogado Bruno Martinez Carneiro Ribeiro Neves, que é seu aliado…
Veja, eu estou colaborando no que posso com o governo há cerca de dez, 11 meses, e aí me foi ofertado esse espaço por conta da minha ligação com o movimento da causa animal. Foi solicitado que eu indicasse um quadro no Ibama, e indiquei o advogado Bruno Martínez. Trata-se de um quadro baiano, extremamente competente, que vai colaborar com o Brasil, com a minha Bahia. Foi algo que fiz com muita tranquilidade. Volto a dizer que o que eu quero é colaborar com o meu país, e torço para que ele dê certo.
O Senado aprovou na semana passada a proposta que limita as decisões monocráticas dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). O texto segue agora para a Câmara. Como o senhor viu as críticas que o senador Jaque Wagner (PT), com quem o senhor tem uma relação próxima, por ter votado a favor da iniciativa? E qual será sua posição sobre a proposta?
O senador Jaques Wagner tem o direito de votar conforme sua consciência. A bancada do governo, que ele lidera, liberou a votação e ele assim exerceu sua votação individual. Quanto à minha posição, eu vou seguir o que o PDT determinar. Nós vamos fazer esse debate internamente, entre os 18 deputados federais do partido. Ainda iremos nos aprofundar sobre o tema e não há, agora, como antecipar um posicionamento.
Vamos falar de eleição. O senhor, que cogitou uma candidatura ao Palácio Thomé de Souza em 2020, já se lançou pré-candidato a prefeito em 2028. Não está muito cedo?
Em 2020, priorizei o cuidado das pessoas, da vida das pessoas, naquele momento de pandemia e quando eu estava como secretário municipal de Saúde. Era a minha missão, o meu compromisso. Eu tenho o desejo de ser prefeito de Salvador desde que iniciei na vida pública, então, sendo assim, 2028 está mais perto do que longe. Mas a nossa principal missão agora, pelo bem de Salvador, é reeleger o prefeito Bruno Reis. Agora, eu fico muito feliz de ter ouvido as declarações do prefeito, do meu presidente Félix Mendonça Júnior (deputado federal e comandante do PDT da Bahia), do ex-prefeito ACM Neto de que meu nome é importante para 2028, e isso nos motiva a trabalhar muito em direção a esse objetivo.
O senhor vai apoiar a permanência de Ana Paula Matos, atual vice-prefeita, na chapa de Bruno Reis em 2024?
Olha, eu já externei a minha posição em relação a isso. Eu acho que o nome da vice-prefeita Ana Paula Matos é natural, mas não é automático. Nós estamos em conversas internas. Eu acho que nós vamos chegar a um bom termo, pode ter certeza disso. O PDT vai estar unido em torno da liderança do deputado Félix e do presidente nacional, Carlos Lupi (atual ministro da Previdência).
Sobre a chapa proporcional, o PDT vai manter no partido os atuais vereadores Anderson Ninho e Randerson Leal? O partido vai aceitar vereadores de mandato?
Eu e o deputado Félix fizemos um acordo de procedimento, bem como o presidente Lupi. O ingresso de qualquer pessoa no partido será consensuado entre nós, com a concordância de todos nós. Ainda não discutimos eventuais nomes que possam vir para o partido. O presidente Félix vai agendar uma reunião para tratarmos disso. O mesmo vale para a situação dos dois vereadores que estão filiados. Estou disciplinadamente aguardando e espero que essa reunião aconteça entre dezembro deste ano e janeiro de 2024. Eu, Félix, Ana Paula, Lupi, todos estamos trabalhando para resgatar o que o destino nos tirou. Na eleição passada estávamos com a conta para fazer três vereadores e, na véspera do prazo de filiação, um dos candidatos se desfiliou e exatamente a votação dele foi o que nos faltou para fazer a terceira vaga. Em 2024, vamos lugar para fazer três ou quatro vereadores, com toda certeza.
Antes de 2028, tem 2026. ACM Neto será novamente candidato a governador? A que você atribui o insucesso de 2022?
Eu acho que a eleição a gente ganha ou a gente perde. Eu acho que, quando você naturaliza isso, só há dois resultados possíveis. Não tem empate na eleição. Perdemos, e pronto. Não há motivos para ficarmos procurando culpados e nem desculpas. Mas também foi o melhor resultado que nós tivemos nos últimos anos, mesmo com a derrota. Desde 2006, foi quem mais se aproximou de ganhar a eleição para o governo da Bahia. Na minha modesta opinião, Neto é o único nome da oposição para fazer frente em 2026.
Bruno Reis não seria uma alternativa para 2026?
Eu acho que, sendo reeleito, Bruno Reis deveria concluir o mandato dele, como ACM Neto fez. Temos exemplos muito ruins pelo país de prefeitos que fizeram isso e depois tiveram prejuízo político. Bruno é jovem, talentoso, competente, tem sido um excelente gestor e tem tempo de sobra para tentar voos mais altos.
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