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Cláudio Tinoco, que está no terceiro mandato como vereador, confia plenamente na reeleição do prefeito, sem “salto alto” 08 de janeiro de 2024 | 09:01

Entrevista – Cláudio Tinoco: “Acho difícil a militância do PT se engajar com Geraldo Jr.”

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O líder do União Brasil na Câmara Municipal de Salvador, Cláudio Tinoco, considera que, embora seja o adversário mais difícil para o prefeito Bruno Reis (União) no pleito deste ano, o vice-governador Geraldo Júnior (MDB) terá dificuldades na própria base na disputa pelo Palácio Thomé de Souza. A maior delas, segundo o edil, será obter o apoio da militância petista.

Independentemente do time adversário, Tinoco, que está no terceiro mandato como vereador, confia plenamente na reeleição do prefeito, sem “salto alto”. Nessa entrevista exclusiva ao Política Livre, ele destaca a liderança e a humildade do gestor, que, frisou, também atuará na montagem dos partidos para a disputa por cadeiras na Câmara. O edil, inclusive, não descarta deixar o União Brasil para concorrer à reeleição, se for um entendimento também de Bruno Reis.

Tinoco, que já foi secretário estadual de Infrestrutura e Educacão e comandou, no município, a pasta da Cultura e do Turismo e a presidência da Saltur, acredita que a vice-prefeita Ana Paula Matos (PDT) leva vantagem na concorrência para ser a companheira de chapa do prefeito, mas não declara apoio à pedetista. Além disso, ele revela apoio a um segundo mandato do vereador Carlos Muniz (PSDB) como presidente da Câmara.

Na entrevista, o líder do União Brasil também faz críticas ao governo Jerônimo Rodrigues (PT), fala da volta das barracas de praia de Salvador e do Carnaval. Confira abaixo a íntegra da entrevista.

A Câmara Municipal teve um 2023 mais tranquilo do que o de 2022, quando tivemos o rompimento do então presidente da Casa e hoje vice-governador, Geraldo Júnior (MDB), com o prefeito Bruno Reis (União), e toda aquela intensa disputa política e jurídica. Esse foi o ano da pacificação e da produtividade?

Foi um ano muito positivo, sobretudo pela estabilidade das relações partidárias. Isso, claro, tem um reflexo no desempenho dos mandatos individuais. Eu diria que isso foi fruto do perfil da gestão do presidente da Casa, Carlos Muniz (PSDB), que deu espaço para as comissões trabalharem, respeitando o posicionamento das bancadas e que cada um pudesse se movimentar como desejava, produzindo. Tanto que tivemos aí três ou quatro votações conjuntas de projetos de lei de autoria de vereadores. Lembro que tivemos muitos projetos de lei de 2022 vetados pelo prefeito porque não passaram pelo crivo das comissões da Câmara, o que foi diferente este ano, tanto que os vetos caíram. No caso do nosso mandato em particular, eu pude, além de apresentar projetos que viraram lei, como a leitura nos ônibus, destacado em coletiva de final de ano pelo próprio Carlos Muniz, também fizemos mobilizações junto à sociedade em debates importantes. Destaco dois desses momentos: quando tratamos da problemática do VLT, ao qual cobramos mais transparência para a sociedade em um contrato que acabou por ser cancelado pelo governo do Estado; e quando, mais recentemente, realizamos uma audiência pública para discutir o comércio nas praias de Salvador.

“Eu diria que no verão de 2024 a gente possa resolver toda essa parte do regramento, transferindo competências, para que possamos planejar e voltar a ter as estruturas fixas com melhor infraestrutura e serviços nas praias”

Quando Salvador voltará a ter uma estrutura de barracas organizada na orla?

O nosso primeiro objetivo é justamente tirar esse tema das ocupações da praia de Salvador do ostracismo, eu diria. Porque nós vivemos desde 2010, quando houve a retirada desses equipamentos, a demolição das barracas por determinação da Justiça Federal, um momento de inquietação. Isso aconteceu para os trabalhadores, os permissionários, os barraqueiros, para o trade turístico e o soteropolitano de uma forma geral. Durante a pandemia, na gestão de Bruno Reis, esse assunto ficou meio de lado porque as praias estavam fechadas. Houve aí algumas iniciativas envolvendo quiosques, distribuição de kits permitidos pela Justiça Federal, mas acabamos ficando meio numa situação de acomodação, e o nosso primeiro objetivo com essa audiência foi modificar isso, porque Salvador merece mais. Precisamos sair da situação de sermos a única capital do país que está impedida de implantar e instalar estruturas fixas nas praias. Para isso, fizemos a defesa de que Salvador tenha um plano municipal de gerenciamento costeiro. O prefeito Bruno Reis está disposto a fazer isso e já delegou parte da sua equipe a trabalhar nisso em parceria com a Câmara. Outro ponto que devemos tratar é a legislação federal, que admite a transferência do domínio da faixa de areia para o município. Uma das condicionantes para isso é que a cidade tenha sem plano de gestão integrada, e vamos trabalhar nisso. Eu diria que no verão de 2024 a gente possa resolver toda essa parte do regramento, transferindo competências, para que possamos planejar e voltar a ter as estruturas fixas com melhor infraestrutura e serviços nas praias.

Sobre o VLT, o senhor acha que, com a nova licitação, essa obra finalmente vai sair do papel?

É o que a população, sobretudo do Subúrbio, prejudicada desde que o governo do estado paralisou os trens, espera. Eu particularmente acho que o governador tem todas as condições para fazer essa obra ocorrer sobretudo por conta do alinhamento com o governo Lula. Inclusive tem lá recursos do PAC que podem ajudar a acontecer, até para que o VLT não se transforme em uma nova ponte Salvador-Itaparica, que nunca passou de promessa. Veja que já foi até um avanço Jerônimo reconhecer que aquele contrato anterior era inviável. Ou seja, apesar de ser do mesmo partido, um governo de continuidade, ao cancelar o contrato Jerônimo passou o recibo ao apadrinhado Rui Costa (PT), ex-governador e hoje ministro da Casa Civil, mostrando que o antecessor construiu esse processo de forma equivocada, inclusive a mudança do modal VLT para monotrilho e até a contratação do consórcio chinês.

O senhor, que já foi presidente da Saltur e secretário municipal de Cultura e Turismo, assumiu recentemente a presidência da Frente Parlamentar em Defesa do Carnaval na Câmara. O que essa comissão pretende apresentar de sugestões para a festa deste ano?

Primeiro, vamos deixar muito claro que nós assumimos já muito próximo da festa, praticamente em outubro de 2023, em virtude da saída do vereador Henrique Carballal (PDT), que comandava o colegiado e foi para a CBPM (Companhia Baiana de Pesquisa Mineral). Então, até pela experiência que acumulei de organizar oito carnavais, sei que não teremos tempo de fazer grandes intervenções do ponto de vista legislativo. Nesse Carnaval de 2024, a nossa frente vai trabalhar muito mais no sentido do observatório, a partir do qual produziremos um relatório. Não queremos ainda mais polêmicas do que aquelas que costumam surgir pouco antes do início do Carnaval, a exemplo das recomendações de dezembro do Ministério Público sobre a folia no Santo Antônio Além do Carmo. O Carnaval precisa de planejamento. Agora é claro que estamos participando de discussões como o fortalecimento do Carnaval no Centro, um movimento que ganhou força em 2023. E nesse sentido a gente apresentou uma indicação ao prefeito de criar um diferencial tributário para os artistas que se apresentam nessa região, por meio da redução do ISS. Isso vai ajudar até a renovar as atrações no Centro.

No início do governo Jerônimo, em uma articulação do vice-governador Geraldo Júnior (MDB), os vereadores de Salvador, inclusive os da base do prefeito Bruno Reis (União), foram convidados para um café para discutir pautas da cidade. Depois não houve mais essa aproximação. O senhor acha isso que se deve à decisão do presidente da Câmara, Carlos Muniz (PSDB), de declarar apoio a Bruno em 2024?

Eu acho que esse movimento inicial foi influenciado por Geraldo Júnior. E sem dúvida nenhuma, as declarações e a posição que Muniz assumiu a partir de agosto, isso afastou de alguma forma essa, eu diria, abordagem de Geraldo de estar aproximando o governo da Câmara Municipal. Agora também acho que houve um movimento semelhante do governador em relação a outros atores políticos, inclusive da base dele, como aconteceu com o MDB antes do anúncio de que Geraldo Júnior seria o candidato a prefeito. Também já soube que há secretários se queixando de que o governador tem demorado muito a despachar assuntos administrativos, que demorava muito de se reunir com presidentes de empresas como a Embasa, mesmo com assuntos pendentes importantes relacionados à concessão em Salvador. Então, talvez essa não continuidade de umaaproximação com a Câmara também tenha a ver com uma falta de planejamento que observamos no governo, a falta do estabelecimento de metas para as secretarias do Estado, com cobrança de prazos e entrega de resultados. É um governo com mais deficiências do que qualidades, e que tem feito entregas que ainda são fruto da gestão passada.

Geraldo Júnior é de fato o adversário mais difícil para Bruno Reis?

Acho que ele é o nome mais competitivo da oposição ao prefeito por alguns motivos. Teve quatro mandatos de vereador, foi presidente da Câmara, foi secretário no município. Então, ele tem um conhecimento melhor da cidade do que os demais concorrentes da base do governador que se apresentaram. Isso garante a ele, ao menos, um início de campanha melhor, até por ser mais conhecido. O pré-candidato do PT, o deputado estadual Robinson Almeida, por exemplo, certamente tem mais conhecimento e é mais conhecido em Santo Antônio de Jesus do que em Salvador. Mas confio plenamente no trabalho do prefeito, que tem o reconhecimento da cidade. Embora a gente respeite os adversários, estamos confiantes de que a população de Salvador não vai querer retroceder depois de tantos anos de avanço com o nosso projeto.

“Bruno tem muito pé no chão e confiança e é um líder, tanto que terá um papel importante de construção também dos partidos que estarão ao lado dele nas eleições para vereador”

Por falar em PT, o senhor acha que o partido vai vestir a camisa de Geraldo Júnior?

Claro que eu prefiro falar do meu time, e não do adversário, mas não vou deixar de responder o que eu penso. Eu acho que não, sobretudo por conta dos desdobramentos dessa decisão. Está evidenciado que se abriu uma ferida. Pode até que venha a cicatrizar, mas é algo que vai ser sempre lembrado, entendeu? Acho difícil a militância do PT se engajar com Geraldo Jr. como faria se o candidato fosse do partido. Dessa forma, acredito que o vice-governador terá dificuldades nesse relacionamento.

O senhor também está entre os vereadores que defendem que a atual vice-prefeita Ana Paula Matos (PDT) continue na chapa de Bruno Reis em 2024?

Não, eu não defendo nome. Porque se tivesse que defender, eu defenderia o meu.

Quer ir para a majoritária?

Agora não, agora não. Eu sou candidato à reeleição de vereador e estou firme nesse propósito de viabilizar esse projeto, se isso for possível e entendido pelos eleitorais. Mas sobre a vice, não defendo nomes. Todos sabem da minha proximidade e da relação com o meu tio, Eraldo Tinoco, que foi vice-governador da Bahia. Eu acompanhei nos bastidores, em determinados momentos, tanto quando ele foi escolhido vice e ganhou a eleição quando foi chamado para a mesma posição de Paulo Souto e perdeu, em 2006, e sei que essa é uma questão que não depende muito das vontades e nem das características pessoais de cada um. É uma questão de construção. Eu acho que isso da chapa só vai ser tratado a partir de março, até porque Bruno Reis ainda nem disse oficialmente que é candidato à reeleição, pois está focado na gestão.

E sobre Ana Paula?

Acho que ela reúne todas as condições de ser vice pelo mérito que construiu. Ela também tem a confiança do prefeito, tanto que foi convidada para ser secretária de Saúde. Tem qualidades técnicas e políticas. Isso até a coloca em vantagem, mas acho que caberá ao prefeito analisar e decidir sobre isso no momento adequado, até porque temos vários partidos e aliados na base que também precisarão ser ouvidos.

O senhor teme que o favoritismo de Bruno Reis possa se transformar em um tipo de “salto alto” na campanha, como alguns aliados dizem que houve no primeiro turno do pleito de 2022, na campanha do ex-prefeito ACM Neto (União) ao governo da Bahia?

Não acho que vai haver e nem que tenha ocorrido em 2022. Houve, sim, um sentimento de confiança grande na vitória. Todos os indicativos apontavam para isso, a exemplo das pesquisas, o sentimento nas ruas. Não foi uma questão de salto alto, mas sim de acreditar mesmo, de confiança. Eu já perdi votos, por exemplo, com as pessoas dizendo que eu já estava eleito e que por isso votariam em outro. Por outro lado, eu gostaria de destacar a figura de Bruno, que não é de andar de salto alto. Veja que principalmente no segundo turno de 2022, Bruno exerceu uma grande liderança na disputa em Salvador e demonstrou toda a força que tem com a humildade de sempre. Com a mesma humildade que lhe é característica, ele fará o mesmo agora em 2024, com a enorme capacidade de articulação política que tem, e com o gigantesco trabalho que tem feito por Salvador, com o reconhecimento popular. Bruno tem muito pé no chão e confiança e é um líder, tanto que terá um papel importante de construção também dos partidos que estarão ao lado dele nas eleições para vereador.

“A possibilidade de sair existe, até mesmo porque, no ano passado, eu tive primeiro uma conversa dentro do meu partido e depois com o PDT”

Quantos partidos estarão ao lado de Bruno?

Olha, eu acho que ele terá apoio aí de oito a nove partidos. Isso não só por uma questão de mudança de regras, a chegada das federações, das fusões, mas, sobretudo, uma reavaliação de estratégia, eu diria. Em 2020 havia uma base de mais de 14 partidos com Bruno, mas, como ACM Neto já chegou a dizer sobre 2022, quando ocorreu o mesmo, se tivesse que mudar alguma coisa ele não teria investido tanto em muitas candidaturas para concentrar mais naquelas com maior potencial. A gente aguarda a confirmação do apoio do PL e eu acho que teremos o apoio de seis grandes partidos e mais dois de médio ou pequeno porte para distribuir os vereadores com mandato, numa operação que terá a liderança de Bruno. Devemos ter algo em torno de 300 candidaturas a vereador apoiando a reeleição do prefeito.

Todos os partidos aliados ao prefeito terão vereadores com mandato? O PDT tem ameaçado fechar as portas…

Eu diria a você que é impossível isso não ocorrer, está bem? Caso contrário, não seria aliança.

O PDT, por sinal, chegou a ser cogitado como um destino para o senhor. Ainda pode sair do União Brasil para encaminhar a própria reeleição?

A possibilidade de sair existe, até mesmo porque, no ano passado, quando eu fui definir a minha candidatura para deputado estadual, eu tive primeiro uma conversa dentro do meu partido e depois com o PDT. Estive tratando do assunto com o presidente do partido, o deputado federal Félix Mendonça Júnior, sobre a possibilidade de sair candidato em 2022 pelo PDT. Então, essa conversa que foi construída lá. Mas sobre 2024 isso não foi tratado. Hoje não tenho conversa com nenhum outro partido e tenho 22 anos de filiação somente ao União Brasil. Me filiei em 2001 ao PFL, que hoje é o União Brasil. Tenho, nesse tempo, honrado os meus mandatos e o meu partido com a minha postura de dedicação. Já foi secretário tanto estadual quanto municipal como filiado ao partido. Há também toda a razão ideológica para eu estar onde estou, pois acredito na formação liberal que há no nosso programa. Agora em março, quando abre a janela partidária, vou ter um diálogo com Bruno, com ACM Neto, para a gente identificar se há ou não necessidade de mudar. Então, não posso descartar totalmente que isso possa ocorrer, mas, se ocorrer, será em entendimento com Bruno.

O União Brasil fechou as portas para o ingresso de vereadores de mandato, correto? Quantos vereadores a legenda deve eleger?

O próprio presidente municipal do partido, deputado estadual Luciano Simões, já declarou isso, inclusive ao Politica Livre. Sobre o desempenho do partido, eu acho que aprendi um pouco a fazer conta ao longo da minha vida pública e posso afirmar que o União vai ter um desempenho muito melhor e acredito que possamos eleger, sim, até nove vereadores. Essa é uma expectativa real. O presidente tem atuado firmemente para construir uma boa lista de candidatos.

“Eu já declaro, inclusive, se eu estiver na Câmara Municipal, que votarei na recondução de (Carlos) Muniz à presidência da Casa”

Caso Bruno Reis seja reeleito, o senhor acha que ele pode disputar uma eleição em 2026? O nome dele também é cogitado para concorrer ao Palácio de Ondina. Ou ACM Neto é o quadro natural para essa disputa?

Não dá não. Não farei esse exercício de futurologia. ACM Neto seria o nome natural para 2026, sem dúvida.

Ainda exercendo a futurologia, Carlos Muniz reeleito vereador será o nome natural para seguir na presidência da Câmara Municipal?

Muniz será, na minha opinião, o vereador mais votado de Salvador, como já foi em eleições passadas. Assim, ele pode projetar qual será o futuro dele. Eu já declaro, inclusive, se eu estiver na Câmara Municipal, que votarei na recondução de Muniz à presidência da Casa. É um líder e amigo. Tenho o maior carinho por ele. Tanto que apesar de todo o conflito que houve ano passado construímos um caminho que permitiu a Muniz seguir no comando do Legislativo. E ele seria nosso candidato se tivéssemos uma eleição, isso por tudo que tem correspondido, pelo trabalho desenvido e pelas relações construídas.

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