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O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu 01 de abril de 2024 | 17:15

Netanyahu pressiona, e Parlamento aprova proibição da emissora Al Jazeera em Israel

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O Parlamento de Israel aprovou nesta segunda-feira (1º) uma lei que dá permissão para o governo proibir a transmissão no país do canal qatari Al Jazeera e outros veículos estrangeiros. O primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, afirmou que aplicará “imediatamente” a proibição, chamando a emissora de “terrorista”.

“O canal terrorista Al Jazeera deixará de transmitir em Israel. Pretendo agir imediatamente de acordo com a nova lei para encerrar as atividades do canal”, escreveu o premiê israelense no X.

Aprovada por 71 votos a favor e 10 contra, a lei permite que o ministro das Comunicações proíba a transmissão de conteúdos de canais estrangeiros e mande fechar seus respectivos escritórios em Israel se o gabinete do premiê avaliar que a emissora ameaça a segurança nacional. Medidas do tipo precisam da aprovação do governo ou do gabinete de segurança, segundo a imprensa local.

O Comitê para Proteção dos Jornalistas (CPJ) afirmou que a nova legislação é uma “ameaça significativa” à imprensa internacional. “[A lei] contribui para o clima de autocensura e hostilidade à imprensa, uma tendência que cresceu desde o início da guerra”, disse o comitê.

Também nesta segunda, um ataque aéreo contra a embaixada do Irã em Damasco, capital da Síria, matou ao menos cinco pessoas, incluindo um comandante da Guarda Revolucionária Iraniana, de acordo com a televisão estatal de Teerã, que atribuiu o bombardeio a Israel.

“O general de brigada Mohamad Reza Zahedi, um dos altos comandantes da Força Quds, foi martirizado em um ataque de combatentes do regime sionista contra o prédio do consulado da República Islâmica do Irã em Damasco”, disse a emissora em referência à elite da Guarda Revolucionária do Irã.

Israel acusou em janeiro dois jornalistas da Al Jazeera mortos em um bombardeio na Faixa de Gaza de serem “agentes terroristas”. Também afirmou que outro funcionário da emissora qatari, ferido em um ataque, era um “comandante adjunto de companhia” do Hamas, grupo terrorista com o qual está em guerra desde o dia 7 de outubro.

A Al Jazeera nega as acusações e afirma que Israel ataca sistematicamente seus funcionários na Faixa de Gaza.

O chefe do escritório no território palestino, Wael Dahdouh, foi ferido em um bombardeio israelense em dezembro, no qual morreu um cinegrafista da equipe. No mês seguinte, o filho de Dahdouh, Hamza, que era repórter da emissora, foi morto em outro ataque. Dahdouh já havia perdido outros dois filhos, a esposa e um neto em outro bombardeio nas primeiras semanas da guerra.

Um vídeo publicado após a morte do filho de Dahdouh em um canal do YouTube ligado à Al Jazeera mostra o jornalista chorando ao lado do corpo de seu filho e segurando sua mão. Mais tarde, após o enterro, ele disse em declarações televisionadas que os jornalistas em Gaza continuariam a fazer seu trabalho.

“A Hamza e a todos os mártires, digo que permaneceremos fiéis. Este é o caminho que escolhemos conscientemente. Oferecemos muito, oferecemos muito sangue, pois este é o nosso destino. Continuaremos”, disse Dahdouh em Rafah, cidade no sul do território.

Em dezembro, relatório do CPJ registrou 60 mortes de jornalistas e outros funcionários da mídia em Israel e nos territórios palestinos ocupados —Gaza e Cisjordânia— desde o início do conflito. Com esse número, a guerra matou mais que o dobro de profissionais de imprensa nos últimos 30 anos na região, período em que foram registrados 25 óbitos, de 1992 a 2022.

Os Estados Unidos, principais aliados de Israel apesar de discordâncias recentes entre Netanyahu e Joe Biden, classificaram relatos sobre a aprovação da lei de “preocupantes”.

“Acreditamos na liberdade de expressão. É algo crucial, e os EUA apoiam o trabalho essencial de jornalistas ao redor do mundo. Isso inclui os que estão reportando sobre o conflito em Gaza. Se esses relatos são verdadeiros, é algo preocupante para nós”, afirmou Karine Jean-Pierre, porta-voz da Casa Branca.

Não é a primeira vez que Netanyahu tenta suspender a transmissão da emissora no país. Em 2017, durante grandes protestos de árabes-israelenses, ele ameaçou fechar o canal qatari, afirmando que “incitava a violência” das manifestações.

O canal foi criado em 1996 pelo emir Hamad bin Khalifa Al Thani, pai do atual líder do Qatar. O pequeno país do Oriente Médio atua desde antes do atual conflito entre Israel e Hamas como mediador importante em negociações entre atores e inimigos da região.

Passaram por Doha os diálogos que obtiveram um cessar-fogo temporário na guerra em novembro. O país mantém um escritório do Hamas em seu território, a maior base militar de Washington no Oriente Médio e já recebeu representação do Taleban.

A Al Jazeera se popularizou no Ocidente com a cobertura, contrastante com a maioria dos veículos ocidentais, da Guerra do Iraque e da invasão do Afeganistão. No Iraque, o jornalista palestino Tareq Ayyoub foi morto após disparos de avião americano contra o escritório da emissora.

Em maio de 2022, outra repórter do canal foi morta em cobertura de conflitos, desta vez por forças israelenses. A palestino-americana Shireen Abu Akleh, 51, repórter veterana e popular que usava colete de imprensa durante operação de tropas israelenses na Cisjordânia, morreu após ser atingida com um tiro na cabeça na cidade de Jenin.

Guilherme Botacini/Folhapress
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