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Deputado estadual Alan Sanches (União), líder da oposição na Assembleia 03 de junho de 2024 | 10:18

Entrevista – Alan Sanches: “Ana Paula é uma escolha natural para a vice e não imposição de Bruno”

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Líder da oposição na Assembleia Legislativa pelo segundo ano consecutivo, o deputado Alan Sanches (União Brasil) busca o jogo de cintura para fazer valer as posições partidárias e coletivas e, ao mesmo tempo, respeitar as individualidades e os interesses políticos de uma bancada formada por 20 parlamentares, alguns deles próximos do governo Jerônimo Rodrigues (PT).

Nesta entrevista ao Política Livre, Alan, que está no quarto mandato como deputado estadual, fala sobre as articulações recentes da oposição e também, ao ser provocado, faz uma análise sobre as dificuldades que a base governista tem tido para garantir quórum na Casa.

O líder trata ainda de temas como a disputa antecipada pelo comando da Assembleia e a relação com o governador Jerônimo Rodrigues (PT), a quem faz elogios no campo pessoal, mas críticas duras na área política e administrativa.

Sobre as eleições municipais deste ano, Alan, que tem uma base política sólida em Salvador, defende a escolha da atual vice-prefeita Ana Paula Matos (PDT) na chapa do prefeito Bruno Reis (Uniào) e diz que a oposição precisará de um nome competitivo para se manter coesa na disputa pelo governo em 2026.

Alan afirma ainda que não há como retroagir da candidatura a uma cadeira na Câmara Federal em 2026 e admite que pode deixar o União Brasil. Confira!

O governo Jerônimo Rodrigues (PT) aprovou na semana passada na Assembleia mais um empréstimo, desta vez de R$2 bilhões. Por que a oposição votou contra esse tipo de operação, que também costuma ser solicitada pelo prefeito de Salvador, Bruno Reis (União), seu aliado, na Câmara Municipal?

Inicialmente, porque o governador não traz a transparência e não mostra o direcionamento objetivo sobre o que será feito com os recursos. Quando ele faz uma solicitação de empréstimo, parece que não tem, digamos assim, a responsabilidade de demonstrar à Assembleia a destinação dos valores. Ele faz um projeto com três linhas explicativas e não há onde o recurso será aplicado. Fica querendo cheque em branco para engordar os cofres e usar da forma que quiser. Já chegamos ao sétimo empréstimo, com R$6 bilhões no total em operações, em um ano e meio de governo. E você não vê investimento, não vê um projeto novo em execução e tem empréstimo usado até para custeio. Foi demonstrado no balancete do primeiro quadrimestre do governo, agora, que o governo tem, inclusive, superávit nas contas de R$5,57 bilhões. Quando comparamos essa situação aos pedidos de empréstimos enviados por Bruno Reis à Câmara, se nota a diferença. Ele tomou agora quase R$600 milhões explicando objetivamente onde serão gastos.

“Não percebi nenhuma rusga entre Elmar e ACM Neto. São amigos pessoais. Os dois sempre têm se tratado dessa forma. Mas é notório e inegável o crescimento de Elmar”

Em uma decisão polêmica, a Executiva estadual do União Brasil fechou questão contra o empréstimo de R$2 bilhões, mas dois colegas seus, Marcinho Oliveira e Júnior Nascimento, ficaram contrariados e cogitaram não seguir a decisão, mesmo com a ameaça do corte do fundo eleitoral. No entanto, eles, que já haviam se posicionado a favor de outra operação de crédito, acabaram não aparecendo para votar. Sinal de que recuaram?

Olhe, eu acho que o União Brasil, por ser o maior partido da oposição e também o partido do maior líder oposicionista no nosso Estado, o ex-prefeito ACM Neto, tem que tomar um posicionamento diferente na Assembleia. Você tem que mostrar o que você pensa. Você tem que mostrar que o nosso programa seria diferente do programa colocado pelo PT. Para isso, temos que andar juntos. O pensamento não é só de um deputado, é de um partido, dentro de um contexto local, da Bahia. Alguns deputados estavam insatisfeitos com o posicionamento do partido, então aí a gente resolveu colocar o assunto na pauta da reunião da Executiva e foi votado esse posicionamento, sem imposições, porque todos os presentes concordaram. Foi algo coletivo. Na sessão, votamos contra o empréstimo. Dois deputados não foram e não votaram, assim como aconteceu em outros partidos, o que é normal.

O partido pretende fechar questão sobre outros posicionamentos na Assembleia?

Eu diria que em alguns temas mais espinhosos podemos fechar questão, sim. Como foi o caso desse empréstimo, mais um. Pode ser que tenhamos vencedores e vencidos, mas isso faz parte, não tem jeito. A maioria tem que seguir a tese vencedora, não é? Quando se toma uma decisão coletiva, ela deve ser respeitada.

O deputado federal Elmar Nascimento, líder de Marcinho e Júnior Nascimento, criticou a decisão do União Brasil sobre o corte do fundo eleitoral. Essa manifestação, feita no Política Livre, foi vista como mais um sinal de uma disputa que estaria ocorrendo dentro do partido entre ele e ACM Neto. Há de fato esse clima de competição?

Elmar vem crescendo politicamente já há algum tempo no cenário nacional, pois ele conseguiu utilizar os espaços que apareceram para ele, estando no lugar certo e na hora certa. E é um deputado extremamente habilidoso. Fui deputado com ele na Assembleia, e ele sempre foi de tomar posições fortes e independentes, e, às vezes, isso leva a questionamentos da imprensa sobre se independência é briga ou não. Mas não percebi nenhuma rusga entre Elmar e ACM Neto. São amigos pessoais. Os dois sempre têm se tratado dessa forma. Mas é notório e inegável o crescimento de Elmar.

O senhor tem feito críticas frequentes ao governo Jerônimo pelo não pagamento das emendas impositivas. Recentemente, a oposição até denunciou isso ao Tribunal de Contas do Estado (TCE). Mas há parlamentares da base do Palácio de Ondina dizendo que tem oposicionista sendo tratado de forma até mais generosa do que alguns governistas…

Eu posso falar por mim. Da minha parte, e inclusive isso foi publicado no Política Livre, continuo sendo o deputado que menos conseguiu executar as emendas. Eu era o último da lista dos 63 no último levantamento, há 15 dias. Eu tenho R$10 milhões em emendas ainda que não foram executadas. Veja, o que nós queremos é apenas o cumprimento da lei. A lei não é, ou deveria ser, para todos os 63 deputados da Assembleia? Agora, o que acontece com relação a alguns deputados, sobretudo da base do governo, ou aqueles que costumam mostrar mais fidelidade ao governo, é que a emenda deles acaba sendo embolada com alguma solicitação do prefeito que eles atendem. E aí o governo faz um investimento às vezes muito maior naquele município do que a emenda prevê. Pode ser que os deputados do governo não queiram que outros da oposição tenham isso também, não sei, porque aí é um entendimento deles lá. Da nossa parte, queremos que a lei seja cumprida.

O governador chegou a sentar com o senhor e com a oposição e prometeu tratar todos os deputados como iguais e pagar em dia as emendas, como prevê a Constituição. Acha, então, que a relação é mais parecida com aquela estabelecida pelo antecessor, o atual ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), que não honrava esse compromisso?

Eu acho que a gente não precisa estar solicitando se vai liberar uma ambulância, se vai liberar um ônibus escolar. Eu acho que a gente tem que conseguir fazer a liberação no orçamento daquilo que foi aprovado no orçamento. Mas isso não acontecia e não acontece. Então, o que nós buscamos quando tentamos, em janeiro do ano passado, dialogar com o governador, quando sentamos na Governadoria, foi justamente sobre isso. Cobramos um cronograma de execução das emendas, independentemente do processo legislativo. Lembrando que a emenda não vai para o deputado, pois ela se converte em obras e ações que são entregues, muitas vezes, pelo próprio governador, que também capitaliza politicamente. Infelizmente, isso não está acontecendo.

“Jerônimo dá um tratamento infinitamente melhor no relacionamento do que o de Rui, superior. É mais parecido com o do atual senador Jaques Wagner (PT)”

Igual a Rui? Alguns prefeitos da base têm se queixado da falta de atendimento às vésperas do período eleitoral e começam a fazer a comparação. Em relação aos da oposição, o tratamento tem sido bom?

O próprio governador já deixou claro, em entrevistas, que vai tratar melhor os prefeitos que caminharam com ele em 2022. Veja que até hoje ele não recebeu em audiência o prefeito de Salvador, que é adversário político dele, mas isso deveria ser deixado de lado nas questões administrativas. Bruno já disse que fez a solicitação de audiência. Agora, eu acho que é inegável que Jerônimo tem um tratamento melhor como ser humano, como pessoa. Jerônimo realmente é diferenciado nesse aspecto. É uma pessoa de bom trato, educada, que procura considerar o ser humano. Jerônimo dá um tratamento infinitamente melhor no relacionamento do que Rui. É superior. É mais parecido com o do atual senador Jaques Wagner (PT), ex-governador.

Mas ACM Neto já disse que, na opinião dele, Jerônimo faz um governo pior do que o de Rui e o de Wagner…

Falei que era melhor do que o antecessor no trato pessoal. Mas um dos maiores exemplos de que o governo não avança na área administrativa, da gestão, ocorre na saúde. A regulação é o pior serviço que temos e o governo ainda não consegue pensar diferente. Jerônimo prometeu que ia zerar a fila da regulação e acordamos todos os dias com o mesmo problema. Só em Salvador, amanhecemos diariamente com 360 pessoas na fila da regulação, que não anda. Pelo contrário: o número, que era em torno de 250, aumentou. Veja que em Feira de Santana 370 pessoas morreram na fila da regulação, e isso é uma anomalia. E temos 18 anos de um mesmo governo, do PT. Eles estão construindo hospitais, e isso é maravilhoso, mas acabam inativando outros. Eu posso falar isso do novo Hospital Ortopédico, inaugurado sem a capacidade total de atendimento, mas fecharam a parte de ortopedia do Hospital Manoel Vitorino. O Hospital Metropolitano está passando pela terceira gestão agora em tão pouco tempo de aberto. Existem andares lá fechados, sem atendimento. Enfim, o governo Jerônimo precisa pensar fora da caixa na saúde.

Nas últimas semanas, o governo teve dificuldades em garantir quórum em algumas votações, diante de insatisfações em setores da base aliada. Diante desse cenário, o líder do governo, Rosemberg Pinto (PT), chegou a derrubar uma sessão e apelar aos acordos com a oposição. Olhando de fora, mas ao mesmo tempo ali perto, o senhor acha que isso se deve a que?

Como você bem disse, eu sou da oposição. Mas, para não deixar de responder a sua pergunta, acho que é a mesma dificuldade que o governo federal tem tido. Só que lá no Congresso Nacional o problema se dá nas pautas de costume, nas pautas ideológicas. E aqui isso acontece porque a base do governador Jerônimo está desarrumada. Isso é opinião minha e sei que não tenho de ficar dando palpite no outro time. Mas o que nós percebemos dos colegas são queixas sobre o atendimento do governo. As pessoas estão falando que foram feitos alguns acordos que não estariam sendo cumpridos.

Mas a oposição também tem tido os seus problemas, como deputados votando a favor do governo e contrariando a bancada, subindo em palanque com Jerônimo no interior…

Eu sempre entendo que faz parte da sobrevivência de cada um. Eu acho que cada um escolhe o seu caminho, se quer ficar mais próximo do governo ou mais distante. Como líder da oposição, sempre busco fazer os meus questionamentos, manter a distância regulamentar necessária, mas nem por isso trato absolutamente ninguém mal. Não vou para a agressividade. Questiono as coisas para que possam evoluir mais. E ainda não evoluíram. Na oposição, somos 20 deputados. E todos são diferentes entre si. Cada um pode ter seus caminhos, suas necessidades, e respeito isso, mas as decisões partidárias que são coletivas exigem que marchemos juntos. Mas eu, como líder, não mando em ninguém. Apenas oriento. Cada um é livre no seu mandato. Mas, repito, devemos andar juntos nas decisões partidárias coletivas, como sempre tenho orientado.

“O que não podemos aceitar é um próximo presidente que faça da Assembleia um mero apêndice do governo do Estado”

A Assembleia aprovou no início deste ano, com seu apoio, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que permite a reeleição do atual presidente da Casa, Adolfo Menezes (PSD). Mas Rosemberg Pinto sempre demonstrou, nos bastidores, interesse de concorrer ao cargo. O senhor vê possibilidade de o PT assumir também o comando do Legislativo?

Esse assunto deve retornar depois das eleições municipais. Por enquanto, deixou de estar em primeiro plano. A PEC dá a possibilidade de Adolfo concorrer novamente e de estar no jogo. Ele não queria ficar fora do jogo. Sobre o PT, vai depender muito de quem será o candidato, dos acordos que sejam feitos, se a pessoal é de palavra, se vai ter autonomia. O que não podemos aceitar é um próximo presidente que faça da Assembleia um mero apêndice do governo do Estado. O governo tem maioria na Casa e a oposição por si só não consegue fazer um presidente, então temos que ver qual será a melhor alternativa.

Vamos falar das eleições. Mas começando por 2026: ACM Neto já confirmou aos deputados estaduais que vai disputar novamente o governo do Estado?

É cedo, e essa decisão depende do cenário nacional, como ele tem nos dito. Nós sabemos que a Bahia ainda sofre uma grande influência do cenário nacional, da Presidência. Eu acho que a gente tem que ver também o andamento daqui de Jerônimo, que, naturalmente, deve ser o candidato. Mas tem que ver as condições em que Jerônimo chega no final do governo e tem que ver também as condições em que o presidente Lula (PT) Lula chega no final governo. Eu acho que a partir daí, de 2025, a gente começa a ter um panorama melhor, mais desenhado. A oposição vai precisar de um candidato forte para que também possa crescer de forma coletiva.

O União Brasil decidiu lançar 90 pré-candidatos a prefeito entre os 417 municípios do Estado. A prioridade será a de apostar nas médias e grandes cidades, onde ACM Neto teve o melhor desempenho em 2022?

Teremos em torno de 80 a 90 candidatos próprios. Temos a possibilidade real de vitória nas quatro maiores cidades da Bahia: Salvador, com Bruno Reis; Feira de Santana, com José Ronaldo; Vitória da Conquista, com Sheila Lemos; e Camaçari, com Flávio Matos. Ainda temos outras candidaturas competitivas em cidades importantes da Região Metropolitana, a exemplo de Lauro de Freitas e Simões Filho. Vencer nessas cidades importantes de fato é importante para o futuro do partido. Vale lembrar que, em outros municípios importantes em que não teremos candidatos, estaremos apoiando nomes de partidos aliados, como é o caso de Santo Antônio de Jesus, com o prefeito Genival Deolino (PSDB), que tem feito um grande trabalho. Ele não era da política, mas hoje se tornou a principal figura política de Santo Antônio de Jesus. Hoje, a transformação que tem sido feita na cidade é notória. As pessoas que vão passar por lá agora no São João poderão ver o que está acontecendo com a cidade, com a nova iluminação em LED, os portais que estão sendo colocados, as obras de pavimentação e drenagem.

Em Salvador, o senhor defende também que a vice-prefeita Ana Paula Matos (PDT) siga na chapa de Bruno Reis?

Ana Paula construiu um caminho natural e dentro do círculo de confiança do prefeito Bruno Reis que acabou ganhando a confiança também dos soteropolitanos, porque ela construiu essa densidade eleitoral, seja pela forma de tratar, seja na forma de fazer política. Aliado a isso, ela mostrou a capacidade de gestão que ela tem. Ela tem feito um trabalho de transformação como secretária de Saúde, mesmo sendo vice-prefeita. Então, isso realmente credencia Ana Paula a estar e continuar na vice. Não é só aquela máxima de que em time que se ganha não se mexe. Ela cresceu politicamente, é inegável. Ana Paula hoje faz parte das lideranças políticas do nosso Estado e da nossa capital. Foi, inclusive, candidata a vice-presidente de um grande partido que é o dela, o PDT. Ela se credenciou. Ana Paula é uma escolha natural para a vice, pois pavimentou o caminho, e não imposição de Bruno. Ela se credenciou de uma forma natural.

O senhor já anunciou que será candidato a deputado federal em 2026. Como estão as costuras em suas bases para, digamos assim, essa mudança de nível?

Serei candidato a federal e não há possibilidade de retroagir, inclusive porque eu já tive dois mandatos de vereador em Salvador, fui presidente da Câmara Municipal e estou no meu quarto mandato de deputado estadual. Dei minha contribuição por onde passei. Acho que, agora, posso contribuir muito mais como deputado federal, principalmente na área da saúde. Veja os convênios estão fazendo com os associados. É de uma tristeza muito grande o sofrimento causado pelo rompimento unilateral dos planos de saúde. Essa será uma das minhas pautas, combater isso, e posso fazer melhor isso estando em Brasília. Como político e médico, sei que posso contribuir muito com esse debate. Sobre minhas bases, estamos conversando. Eu tive 80 mil votos na oposição na eleição passada e acho que posso crescer mais e fazer uma boa disputa em 2026.

A competição deve ser intensa no União Brasil. O senhor fica no partido na próxima disputa? Emendando a pergunta: seu filho, o vereador Duda Sanches (União), pode ser candidato a deputado estadual?

Não, Duda (Sanches, seu filho, que é vereador) tem uma ligação muito grande com Salvador e tem outros projetos. Ele já me disse que não será candidato a deputado estadual. Seria, inclusive, um desgaste psicológico e financeiro muito alto ter duas candidaturas. Vamos focar as energias na minha candidatura a federal em 2026. Sobre o partido, não está decidido que serei candidato em 2026 pelo União Brasil. Vou discutir isso com ACM Neto, fazer contas. Tem que analisar qual será a estrutura partidária, fazer contas para saber qual o melhor caminho a seguir.

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