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David Lynch, cineasta do surreal e diretor de 'Twin Peaks', morre aos 78 anos

David Lynch, cineasta do surreal e diretor de 'Twin Peaks', morre aos 78 anos

Por Leonardo Sanchez/Folhapress

16/01/2025 às 19:55

Foto: Divulgação

David Lynch, diretor conhecido por obras como "Twin Peaks" e "Cidade dos Sonhos", morreu aos 78 anos

David Lynch, diretor conhecido por obras como "Twin Peaks" e "Cidade dos Sonhos", morreu aos 78 anos, informou sua família nesta quinta-feira (16), numa publicação no Facebook, devido a complicações causadas por um enfisema pulmonar.

"É com profundo pesar que nós, sua família, anunciamos a morte do homem e do artista, David Lynch. Agradeceríamos se pudessem nos dar um pouco de privacidade neste momento", escreveram na rede social. "Há um grande vazio no mundo agora que ele não está mais entre nós. Mas, como ele diria: 'Mantenha os olhos no donut, e não no buraco.' É um dia lindo, com sol dourado e céu azul por toda parte."

Lynch é pai da série de televisão "Twin Peaks", grande sucesso dos anos 1990 e um marco cultural tão forte que, mais tarde, seria recuperada em novas temporadas e nos filmes "Os Últimos Dias de Laura Palmer", de 1992, e "O Mistério", de 2014.

Muito antes, porém, Lynch já havia se firmado como um dos cineastas mais inventivos e únicos de Hollywood. Com um gosto especial pelo surreal e o perturbador, sua obra não se restringiu a gêneros cinematográficos, o que o ajudou a acumular uma legião fiel de fãs em todo o mundo.

Já em seu primeiro longa-metragem, "Eraserhead", de 1977, Lynch foi identificado como uma das vozes mais promissoras a surgir naquela indústria americana tomada pela revolução estética e de temas provocada pela nova Hollywood. O movimento privilegiava diretores autorais e independentes, que desviavam das normas então em vigor nos grandes estúdios.

Uma fantasia calcada no humor ácido e no body horror, tipo de horror feito a partir da violação gráfica do corpo humano, o longa acompanha um pai que se vê sozinho com um bebê prematuro, depois que sua mulher os abandona devido à natureza monstruosa da criança.

Na sequência, com "O Homem Elefante", alcançou o prestígio absoluto ao ver a obra ser indicada a oito estatuetas do Oscar, incluindo melhor filme e direção. Mesmo sem vencer os prêmios, o longa sobre a relação de um cirurgião e um homem desfigurado foi um dos mais importantes a surgir na farta safra cinematográfica dos anos 1980. Anthony Hopkins e John Hurt compunham o elenco.

Veio, então, a primeira adaptação cinematográfica da obra de Frank Herbert, "Duna". Décadas antes da megafranquia estrelada por Timothée Chalamet, em 1984, Lynch levou a ópera espacial para as telas ancorado em visuais mirabolantes e efeitos sonoros e especiais ainda raros no cinema.

Da ficção científica, passou para o thriller erótico de "Veludo Azul", em que abraça de vez o mistério nonsense que se tornaria a marca de sua filmografia. Com Isabella Rossellini e Laura Dern, que se tornaria sua grande musa, o filme misturava crime, suspense psicológico e drama para narrar a investigação de um homem que descobre uma orelha decepada que o leva a um grupo de gângsteres.

Em 1990, venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes com "Coração Selvagem", sobre um casal que foge dos homens contratados pela mãe da moça para matar seu namorado. Nicolas Cage, Laura Dern e Willem Dafoe protagonizaram a trama.

"Estrada Perdida", "Uma História Real", "Cidade dos Sonhos", que lhe deu o prêmio de direção em Cannes, e "Império dos Sonhos" vieram na sequência, antecipando um longo período em que Lynch se dedicaria a curtas e clipes musicais, como os das bandas Nine Inch Nails, Inerpol e Duran Duran.

"Twin Peaks" foi a única história a fazê-lo voltar a assumir projetos de grandes proporções, depois de finalizar "Império dos Sonhos", em 2006. Há seis anos, venceu um Oscar honorário pelo conjunto da obra e deu à premiação um dos discursos mais curtos da história do Governors Awards, ala do prêmio que acontece em paralelo à seção competitiva.

"Muito obrigado à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Obrigado por esta honraria, e obrigado a todas as pessoas que me ajudaram ao longo da estrada. Parabéns às outras pessoas sendo homenageadas e que todos tenham uma boa noite. Vocês todos têm rostos ótimos. Boa Noite", disse ele, simplesmente.

Ele acumula ainda outros prêmios, em especial honorários, em festivais como o de Veneza. Lynch viu sete de seus filmes serem reconhecidos pela revista francesa Cahiers du Cinéma, que anualmente divulga uma prestigiosa lista das melhores produções cinematográficas lançadas.

Já na revista britânica Sight and Sound, aparece quatro vezes na cobiçada lista dos maiores filmes de todos os tempos, com "Cidade dos Sonhos", em oitavo lugar, "Veludo Azul", na posição 85, a temporada "Twin Peaks: O Retorno", em 152, e "Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer", em 211.

Em agosto do ano passado, David Lynch disse à mesma revista que tinha enfisema e, por causa da doença, não poderia mais dirigir filmes presencialmente, em sets de filmagem. Ele afirmou que sua condição de saúde, uma doença que atinge o pulmão, foi causada pelo cigarro.

"Por isso, estou preso em casa, goste ou não. Não posso sair. E só consigo caminhar uma curta distância que já fico sem oxigênio", disse à época. "Fumar era algo que eu adorava, mas no final me incomodou. Fazia parte da vida artística para mim —o tabaco e o cheiro dele, e acender coisas e fumar e voltar e sentar e fumar e olhar para o seu trabalho, ou pensar sobre as coisas. Nada neste mundo é tão bonito. Ao mesmo tempo, está me matando. Então tive que parar."

Na ocasião, Lynch chegou a dizer que era improvável que ele voltasse a dirigir um longa-metragem novamente. Se o fizesse, porém, não seria presencialmente, em especial devido ao risco de contrair Covid-19. "Tentaria fazer isso de maneira remota, se for o caso, mas acho que eu não gostaria tanto assim."

David Lynch deixa a mulher, Emily Stofle, atriz com quem era casado desde 2009 e que apareceu na temporada de 2017 de "Twin Peaks", e três filhos, Jennifer, Austin Jack e Riley Lynch, que seguiram os passos do pai no mundo artístico.

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