22 novembro 2024
Eduardo Salles é engenheiro agrônomo com mestrado em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais. Está no seu terceiro mandato de deputado estadual e preside a Comissão de Infraestrutura, Desenvolvimento Econômico e Turismo, além da Frente Parlamentar em Defesa do Setor Produtivo. É ex-secretário estadual de Agricultura e ex-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Agricultura (CONSEAGRI). Foi presidente da Associação de Produtores de Café da Bahia e da Câmara de Comércio Brasil/Portugal. Há 20 anos é diretor da Associação Comercial da Bahia. Ele escreve neste Política Livre mensalmente.
Não é de agora que países travam guerras, algumas vezes literalmente, para a abertura de novos mercados internacionais com a intenção de vender seus produtos. O Brasil está entre os maiores produtores e exportadores de alimentos do mundo e não passa incólume à pressão de outras nações para barrar nossas exportações.
A arma mais eficaz utilizada por outros países atualmente para combater as exportações da agropecuária brasileira é colar uma pecha no Brasil de que todos os nossos produtos vêm de áreas desmatadas ou possuem problemas sanitários. Uma grande mentira propagada apenas para criar barreiras às exportações nacionais.
Neste mês de novembro, a Associação de Produtores de Carne dos Estados Unidos e um projeto de lei do senador Jon Tester alegaram a ineficácia brasileira na notificação de casos da vaca louca com o único objetivo de fazer pressão no governo americano para suspender a compra da carne brasileira. As afirmações não se sustentam na realidade.
O Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo e comercializa o produto in natura para mais de 100 países, o que mostra o compromisso das autoridades e pecuaristas nacionais com as regras sanitárias estabelecidas.
A nota da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) emitida no último dia 19 de novembro esclarece que nosso país nunca teve casos atípicos da Encefalopatia Espongiforme Bovina, conhecida como vaca louca, e nos casos atípicos foi respeitado todos os trâmites exigidos pela OIE (Organização Mundial de Saúde Animal).
A CNA esclarece ainda que a legislação brasileira proíbe o uso de qualquer proteína animal para alimentação bovina, única causa de contaminação da doença pelos animais.
Outra contradição na acusação americana, apontada pela CNA, é que três casos típicos da doença surgiram nos Estados Unidos em 2003, 2005 e 2012 e a OIE nunca notificou o Brasil por ação irregular cometida por suas autoridades sanitárias.
A própria OIE concedeu nos últimos anos ao Brasil o status de zona livre de doenças como a febre aftosa e de risco insignificante para a vaca louca.
Os dados do Ministério da Economia mostram que, entre janeiro e outubro de 2021, o USA foi o quarto maior importador da carne bovina brasileira, com 3,9% do total vendido pelos pecuaristas nacionais. A China lidera esse mercado, respondendo por 56% de tudo o que vendemos neste setor.
O que está por traz da falsa acusação americana é que quando comparamos as exportações de carne bovina brasileira entre janeiro e outubro de 2021 com o mesmo período do ano anterior, percebemos que houve um aumento de 234,7% nas exportações, totalizando US$ 226 milhões.
Ou seja, a alegação dos americanos para barrar a entrada da carne bovina brasileira não tem nenhuma relação com a vaca louca, mas sim uma guerra comercial.
A decisão americana prejudicaria muito pouco nosso volume de vendas de carne bovina, mas pode afetar, a médio e longo prazo, caso consiga os Estados Unidos propagar a ideia de risco sanitário do nosso produto, a exportação a outros mercados internacionais.
As disputas comerciais no setor agropecuário entre os dois países não começaram agora. Em 2013 o Brasil obteve vitória na OMC (Organização Mundial do Comércio) de uma disputa de 10 anos na questão dos subsídios concedidos pelo governo americano aos seus produtores de algodão.
Os americanos têm uma cultura protecionista e nosso governo, associações e pecuaristas têm a missão de combater e travar essa batalha com os Estados Unidos. Eles querem competir por mercados em diversos setores, mas quando precisam disputar com a eficiência brasileira na produção de grãos, fruticultura e pecuária, alegam critérios mentirosos para retaliar os nossos produtos.
Como engenheiro agrônomo e parlamentar com uma vida dedicada à defesa da agropecuária brasileira, vou trabalhar para defender o setor junto com entidades, sindicatos, produtores e outros parlamentares. Acredito na capacidade da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, em conduzir esse caso da melhor forma possível.