22 novembro 2024
Eduardo Salles é engenheiro agrônomo com mestrado em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais. Está no seu terceiro mandato de deputado estadual e preside a Comissão de Infraestrutura, Desenvolvimento Econômico e Turismo, além da Frente Parlamentar em Defesa do Setor Produtivo. É ex-secretário estadual de Agricultura e ex-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Agricultura (CONSEAGRI). Foi presidente da Associação de Produtores de Café da Bahia e da Câmara de Comércio Brasil/Portugal. Há 20 anos é diretor da Associação Comercial da Bahia. Ele escreve neste Política Livre mensalmente.
Qual país no mundo não gostaria de ter o potencial agropecuário brasileiro aliado ao empreendedorismo de nossos produtores rurais? A resposta é óbvia e não precisa de muita complementação. Mas por aqui, apesar das divisas que resultam no saldo positivo da balança comercial e os milhões de empregos gerados, ainda há quem escolha este setor como grande vilão de todas as seculares mazelas nacionais.
Apesar de discordar, consigo entender a lógica de países rivais ao nosso e que disputam mercados internacionais quando tentam impor no mundo a pecha de que a agropecuária nacional é responsável por uma série de crimes ambientais, mas, sinceramente, gostaria de descobrir qual é a lógica dos ataques feitos por agentes internos.
A recente campanha de uma instituição financeira fomentando o não consumo de carne é de uma irresponsabilidade sem precedentes. Erra ao culpar a pecuária nacional por ser responsável pelo excesso de emissão de carbono e também ao propor boicote a uma importante mola da economia brasileira.
A instituição, diga-se, em poucas horas percebeu o equívoco, tirou a campanha do ar e pediu desculpas por meio de nota. Mas, independentemente de estar arrependida ou não pela produção do material, fica claro a falta de cuidado e a forma preconceituosa como a agropecuária nacional ainda é vista por uma parte da sociedade.
Fugirei da ideologização de qualquer debate, pois entendo que esse nunca foi o caminho mais adequado para encontrar caminhos e esclarecer a população. Não é minha intenção atacar ou defender qualquer bandeira partidária quando trato do futuro da agropecuária nacional, principalmente em um ano de eleição presidencial.
Mas jamais me furtarei, por ter uma vida inteira ligada à agropecuária, de refutar a disseminação de informações falsas e que reduzam o produtor rural a vilão da crise climática.
Como engenheiro agrônomo que por mais de duas décadas foi diretor de multinacionais do setor agropecuário, ex-secretário de Agricultura da Bahia e atualmente no segundo mandato de deputado estadual, conheço a importância das políticas públicas com produção sustentável, mas não podemos ser inocentes e acreditar que os países adversários do Brasil por mercado externo fazem tanto barulho preocupados apenas com o meio ambiente.
O Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo e quando uma instituição financeira renomada abre o flanco para críticas infundadas à produção nacional, estamos, literalmente, jogando contra os interesses nacionais.
Temos um código florestal, a Lei 12.651/2012, que é um dos mais respeitados do mundo. Temos uma das legislações ambientais mais rígidas do mundo que obrigam o produtor rural a preservar áreas de reserva legal nas propriedades privadas que variam de 20% a 80%, a depender do bioma, além de áreas de proteção permanente como nascentes de rios, margens e topo de morros.
Um estudo da EMBRAPA feito em 2017 mostra que dos 850.280.588 hectares que compões o território nacional, apenas 39% são usados pela agricultura (8%) e pecuária (19,7).
Outros 11% são de área de vegetação nativa em propriedades rurais, como as de reserva legal e de proteção permanente; 17% são de vegetação nativa em unidades de conservação; 13% são de vegetação nativa em terras indígenas; 20% de vegetação nativa em terras devolutas, relevos, águas interiores e etc, o que somado dá 61%.
Assim como em qualquer área, não podemos confundir discursos radicais e atitudes erradas de uma minoria como prática do setor. A agropecuária nacional é um ativo do Brasil, e não podemos atacá-la sobre pena de perdermos nossa galinha dos ovos de ouro.