22 novembro 2024
Empresário do ramo da mineração, João Carlos Cavalcanti é um milionário com 60 anos de idade que adora exibir sua riqueza. Em seu patrimônio de aproximadamente R$ 2 bilhões estão mais de 40 carros de luxo, entre eles Ferraris e Porsches, dois aviões e cerca de dez casas. No final do ano passado, JC, como é conhecido, anunciou a pretensão de ingressar na política. Gostaria de ser candidato a vice-governador da Bahia na chapa peemedebista encabeçada pelo ex-ministro Geddel Vieira Lima. Chegou inclusive a apresentar um slogan de campanha: “Não preciso roubar. Sou rico desde os 26 anos.” Como não conseguiu viabilizar a candidatura a vice, JC tentou obter legenda para disputar uma vaga no Senado e depois cogitou ser candidato a deputado federal. Em maio, abdicou de seus projetos políticos. “Empresários americanos exigiram que eu retirasse minha candidatura para ingressar em um projeto que cria um fundo mundial de commodities de mineração”, disse JC. “Além disso, meus sócios brasileiros e meus familiares não aprovaram a ideia de uma carreira política”, completou. É provável que entre os argumentos que desmotivaram a candidatura do empresário estivesse a tentativa de preservar sua biografia. JC está com problemas na Justiça e na polícia e já tem uma parcela de seu patrimônio bloqueada por decisão judicial. Somada a parte dele e as de outros três sócios, o valor dos bens bloqueados supera R$ 150 milhões.
Os problemas que colocam JC e seus sócios em apuros são relacionados à Mineração Santa Maria da Vitória, no oeste do rio São Francisco. Em 1989, o Desenbanco (Banco de Desenvolvimento da Bahia) aprovou empréstimo para a constituição da mineradora, visando à produção de 150 mil toneladas por ano de calcário corretivo e 12 mil de brita calcária. O dinheiro seria destinado para investimentos em edificações, instalações elétricas e hidráulicas, além de máquinas e equipamentos. Mas o empréstimo não foi pago e em dezembro de 1992, depois de decisão judicial, o Desenbanco entrou com processo de execução da dívida, que atualmente ultrapassa R$ 50 milhões. O processo se arrastou por cinco anos e em novembro de 1997 o banco pediu autorização judicial para uma busca e apreensão na mineradora, a fim de arrestar os equipamentos da Santa Maria da Vitória como garantia de pagamento. Dois anos depois, quando obteve vitória judicial, o banco constatou que os equipamentos dados como garantia do empréstimo tinham sido retirados da sede da empresa. Por causa disso, o empréstimo não pago virou um caso de polícia. Até a semana passada, a polícia da Bahia não havia localizado as máquinas. “É claro que tudo isso ocorreu porque os acusados são pessoas influentes e tiveram tempo suficiente para esconder o maquinário”, disse à ISTOÉ dois juízes que trabalharam no caso.
Como não foram localizados os equipamentos da empresa, novos processos visando à apreensão do patrimônio dos sócios foram movidos pelo Desenbanco. JC alega que em 2003 deixou a sociedade, mas a Justiça entende que ele continuou avalista do empréstimo não pago. “O empresário Cavalcanti é parte do processo e estamos buscando também em seu patrimônio as garantias para que o banco não seja prejudicado”, afirma o advogado do Desenbanco, Max Coelho Machado. (Istoé)