23 novembro 2024
Pesquisas de intenções de voto são, tradicionalmente, o maior motivo de estresse na classe política depois da campanha eleitoral e do dia de uma eleição. Quando a equipe de um instituto de pesquisa, seguindo critérios exclusivamente técnicos, vai às ruas, capta o sentimento do eleitorado e os números vêm a público, conjecturas e apostas no mais das vezes sem a menor sintonia com a realidade e discursos sobre a viabilidade eleitoral de determinadas candidaturas, alguns muito bem montados pelo candidato e seus apoiadores, vão por água abaixo.
Também não é demais dizer que no Brasil, em passado recente, pesquisas foram usadas para toda sorte de manipulação eleitoral, motivo porque o legislador brasileiro se cercou de alguns cuidados e exigências com relação à precisão de determinados procedimentos de sondagem e, em especial, para com a sua divulgação, principalmente em períodos próximos a sufrágios populares, quando o risco de estragos em projetos eleitorais é muito maior. Nestes momentos, se a sensibilidade do eleitorado fica grande, a do empresariado que financia campanhas vai à flor da pele, o que já explica metade da preocupação dos políticos.
Daí porque, mesmo que não exista nenhuma pesquisa comprovando a tese, muito comumente se diz que a divulgação de uma sondagem de intenção de voto, às vezes com algum exagero, outras com boa dose de razão, pode reverter uma eleição. No momento, como se distancia o processo eleitoral e abundam especulações sobre quem tem bala na agulha para disputar a próxima sucessão baiana, um grupo de deputados estaduais de oposição, depois de divulgar o interesse na iniciativa, muito oportunamente se cotizou e contratou uma pesquisa de opinião à Farani Consultoria e Pesquisa sobre as eleições de 2014.
Os números, que devem ser divulgados oficialmente esta ou na próxima semana, podem estar longe de definir o quadro com que o eleitorado vai se deparar no próximo ano, mas têm a vantagem de lançar alguma luz sobre alguns dos principais personagens que deliberadamente se colocam ou mesmo buscam estrategicamente se omitir com relação ao que vai acontecer na disputa do ano que vem. É o caso, por exemplo, do governador Jaques Wagner (PT) e do prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), que, por acaso, no último mês, passaram a andar quase de mãos dadas.
Segundo o levantamento, que ouviu 2.075 pessoas em todo o Estado, ambos aparecem espontaneamente citados para a sucessão de 2014, liderando as lembranças, com, respectivamente, 8,4% e 5,5% das intenções de votos para o governo, sendo seguidos, mais abaixo, também de forma espontânea, por gente como o ex-governador Paulo Souto (1,4%), do DEM, Geddel Vieira Lima, do PMDB, (0,7%), Marcelo Nilo, do PDT, (0,6%) e Otto Alencar, do PSD, (0,4%). Para a distância que vai de hoje até a campanha, não deixam de ser números a serem, pelo menos, considerados.
Na sondagem estimulada, o cenário que mais chama a atenção é aquele em que ACM Neto é apresentado como opção para o governo ao entrevistado, no qual o democrata crava 55% das intenções de voto, seguido de Geddel, com 8,5%, Lídice da Mata, do PSB, com 7,5%, Otto Alencar, com 3,7%, Rui Costa, do PT, com 1,3%, Marcelo Nilo, com 1,2% e João Gualberto, do PSDB, com 0,5%. Os números, naturalmente, despertaram reações diferentes, dependendo da performance exibida por cada um dos relacionados, independentemente de serem ou não candidatos.
Mas a pergunta que certamente mais chamou a atenção no levantamento é aquela em que é questionado ao entrevistado se ele preferiria um candidato apoiado pelo governador ou outro da oposição, bancado por ACM Neto. 47,9% dos ouvidos disseram preferir um candidato apoiado pelo democrata, ao passo que 32,2% disseram que prefeririam um nome apoiado por Wagner e outros 14,7% afirmaram que o envolvimento dos dois pouca diferença faz. No âmbito da análise eleitoral, a pergunta da pesquisa pode levar a uma outra mais interessante: se a boa performance de ACM Neto se confirmar em outros levantamentos, será que ele realmente se manterá firme e não disputará o governo?
* Artigo originalmente publicado na Tribuna da Bahia.
Raul Monteiro*