23 novembro 2024
O desequilíbrio entre a população dos Estados e suas bancadas no Congresso Nacional aumentou e passou a afetar 23 das 27 unidades federativas do Brasil nos últimos 25 anos. Em 1993, ano de criação da regra vigente, Estados como São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Rio Grande do Sul eram prejudicados pela distribuição por atingirem o teto de cadeiras estipuladas na Casa, enquanto os pouco populosos do Norte, Nordeste e Centro-Oeste inversamente levavam vantagem. Passados 25 anos, esse perfil mudou – dos quatro, apenas São Paulo continua prejudicado. Hoje, os outros três Estados mais populosos fizeram a “virada” e passam a integrar o grupo dos que levam vantagem. Já os mais prejudicados são Pará, Santa Catarina e o Amazonas, segundo levantamento feito pelo Estadão Dados. sso acontece porque a norma vigente estabelece que as bancadas dos Estados na Câmara devem ser proporcionais à sua população, levando em conta que nenhum Estado terá mais que 70 deputados e menos que oito, como é o caso de São Paulo e Roraima, respectivamente. Esses limites estão no centro do problema. A existência de um piso e um teto gera uma distorção porque a distribuição da população é desigual. Apesar disso, a distância entre os extremos entretanto diminuiu nas últimas décadas. De acordo com o diretor da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), Murilo Gaspardo, a atual estrutura existe para que a população tenha representação direta na Câmara, mas na prática provoca uma discrepância prejudicial ao sistema democrático. “A distorção é clara e seria fundamental rever essa regra, alterando a proporcionalidade. A atual organização dificulta tanto o processo eleitoral, quando um candidato precisa de mais votos que outros para eleger-se, quanto o equilíbrio de interesses regionais”, diz. Há 25 anos, era como se o peso do cidadão roraimense valesse o mesmo que o de 17 paulistas para eleger um deputado federal. Esse desequilíbrio caiu para nove vezes. Para se ter uma ideia, se hoje o critério fosse somente proporcional à população, São Paulo mereceria uma bancada de 112 deputados, enquanto Roraima teria apenas um. Fosse no passado, ela ficaria sem representação e ficaria de fora de toda e qualquer decisão nacional, desde a criação de uma simples data comemorativa até o voto em processo de impeachment. Esse fenômeno não atinge somente os extremos. Ele chegou a causar desequilíbrios políticos no sul do Brasil. O Paraná ultrapassou o Rio Grande do Sul como Estado mais populoso da região, mas os gaúchos continuam tendo peso político maior no País com um voto a mais. Já Maranhão e Santa Catarina são Estados com população equivalente, mas o primeiro tem dois votos a mais do que o segundo, ainda que a população deste último conte com 40 mil pessoas a mais. Outro caso ocorre entre Pará e Goiás: ambos têm os mesmos 17 votos na Câmara, mas 1,5 milhão de habitantes de diferença. O cientista político Eduardo Grin, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), comenta que exemplos como estes reforçam o quanto a regra atual distorce a realidade. “É um sistema que precisa ser revisto e não apenas com base em números, mas em termos equitativos. É importante considerar que o País possui problemas e necessidades diferentes em cada região, como o crescimento da população evoluiu, quais as taxas de mortalidade observadas nos Estados. Nosso critério atual é bem desigual”, diz.
Estadão