Foto: Dida Sampaio / Estadão
Marina Silva 17 de agosto de 2018 | 07:05

Marina recupera bandeira ambiental nas eleições 2018

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Candidata à Presidência da República pela terceira vez, a ex-ministra Marina Silva (Rede) se reaproximou nas eleições 2018 de antigos aliados do movimento ambientalista que estiveram ao seu lado nas eleições de 2010, mas se distanciaram em 2014. Segundo lideranças do setor, Marina voltou a colocar em primeiro plano bandeiras ambientais que foram coadjuvantes na campanha de quatro anos atrás, quando presidenciável teve de substituir Eduardo Campos (PSB), morto num acidente aéreo, na reta final da disputa. “Em 2014 não houve uma aproximação ampla do movimento com Marina devido ao contexto conturbado da eleição. Esse ano, a identidade dela com o movimento está muito maior”, disse o ambientalista Mário Mantovani, diretor da ONG S.O.S. Mata Atlântica. A aproximação ganhou impulso após o candidato do PDT, Ciro Gomes, escolher como vice em sua chapa a senadora Kátia Abreu (TO), que foi presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), enquanto o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin chamou para o cargo a senadora Ana Amélia (PP-RS), que é ligada ao agronegócio. Mantovani afirmou que entre as bandeiras ambientais que ganharam destaque nas falas de Marina neste ano está o combate à chamada “Lei do Veneno” – como é conhecida entre ambientalistas o Projeto de Lei 6299/02, que trata de um pacote de mudanças na fiscalização e controle de agrotóxicos no Brasil. O projeto, em tramitação na Câmara, garante autonomia ao Ministério da Agricultura para registrar novos agrotóxicos, tirando da Anvisa e do Ibama poder de veto sobre o tema. A candidata da Rede também se comprometeu com as metas do Acordo de Paris estabelecido em 2015. O documento determina que os 195 países signatários se esforcem para conter o aquecimento global. A indicação do ex-deputado Eduardo Jorge (PV) como vice reforçou ainda mais os laços com os verdes e restabeleceu a aliança de Marina com seu antigo partido, com quem estava rompida desde 2011. A coordenadora de campanha da Rede, Andrea Gouvea, afirmou que “a aproximação é sobretudo programática”. “Acolhemos várias propostas dos ambientalistas no programa de governo. Inclusive pautas bastante avançadas, como o desmatamento zero, que não era consenso nem entre nós, e a descarbonização da economia”, afirmou Andrea, numa referência à adoção de políticas para adoção de energia limpa e renovável. Outra chapa que tem a simpatia de ambientalistas é a de Guilherme Boulos (PSOL), mas neste caso o apoio se deve mais por sua vice, a indígena e ambientalista Sonia Guajajara. O problema é que, além de ela não estar na cabeça de chapa, a dupla teria poucas chances eleitorais, ao passo que Marina Silva lidera as pesquisas de intenção de voto, ao lado do deputado Jair Bolsonaro (PSL) nos cenários sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Adriana Ramos, do Instituto Socioambiental, põe Marina e Sonia como as campanhas que trazem o ambientalismo para o debate eleitoral. “As temáticas socioambientais ainda não apareceram fortemente como deveriam. As que trazem um compromisso maior com isso são as candidaturas da Marina e a de Guajajara, como vice.” O distanciamento das pautas verdes do debate também foi sentido pelo ex-deputado Fábio Feldmann, um dos principais nomes da agenda política ambiental nas eleições anteriores. “Estou muito dividido mesmo entre Marina e (Geraldo) Alckmin”, disse ele ao Estado. Amigo pessoal do ex-governador de São Paulo e presidenciável tucano, Feldmann afirma que a aliança entre o tucano e o Centrão pode comprometer pautas de caráter ambientalista. “Há toda uma sinalização, o comentário do Geraldo sobre a lei dos pesticidas (o ex-governador elogiou o projeto, que chamou de ‘lei do remédio’), o licenciamento ambiental, que sempre que surge é na defensiva, sem discutir muito qual o melhor caminho. Mesmo a Marina, fala na defensiva: ‘eu licenciei tal, tal, tal”, disse ele. Em 2010, Feldmann deixou o PSDB para se filiar ao PV e concorrer ao governo de São Paulo para que Marina tivesse um palanque no Estado. Quatro anos depois, ajudou Aécio Neves (PSDB) em seu programa de governo à Presidência. Feldmann, porém, diz que isso só aconteceu porque, até então, Marina era vice de Eduardo Campos. Neste ano, ele teme que ambientalismo tenha virado um palavrão. “Estar associado ao ambientalismo está criando um desconforto”, disse. Um interlocutor afirmou que uma parte do movimento ambiental, mais identificada com a centro-esquerda, acabou se afastando de Marina em 2014 não por suas pautas ambientais – que mantém coerência ao longo dos anos –, mas por seu posicionamento sobre outros temas. Uma ecologista citou o fato de Marina ser evangélica e contra o aborto como um dos principais problemas, outro lembrou do apoio a Aécio Neves no segundo turno. Há ainda uma crítica ao fato de a Rede não ter formado uma bancada para se contrapor aos ruralistas no Congresso. A recente aliança com o PV, contudo, passou por negociação para criar um bloco de parlamentares no próximo ano.

Estadão
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