23 novembro 2024
A Caixa Econômica Federal afastou o gerente da agência da praça do Relógio de São Pedro, centro de Salvador, onde o microempresário Crispim Terral, 34, foi imobilizado por policiais militares da Bahia e retirado à força há cerca de uma semana. Em nota enviada nesta quarta-feira (27), a Caixa informou que, além de afastar um funcionário, abriu uma sindicância interna para apurar o caso e vai realizar um treinamento com toda sua rede para reforçar sua política de relacionamento com clientes. “A Caixa prima pelo respeito à diversidade de raça, origem, etnia, gênero, cor, idade, classe social ou qualquer tipo de diferença entre as pessoas”, informou o banco em nota, que destaca ainda que a Caixa segue uma política de “atendimento com zelo, presteza e prontidão aos clientes e usuários, de forma justa e equitativa”. Em uma nota anterior, enviada nesta terça-feira (26), o banco havia informado que não tinha identificado “por parte de nenhum dos seus empregados ou colaboradores, qualquer atitude de cunho discriminatório”. O caso envolvendo Crispim Terral aconteceu na última terça-feira (19), quando Terral foi a uma agência da Caixa no centro da capital baiana para resolver uma pendência acompanhado de sua filha, de 15 anos. Ele afirma ter sido tratado com indiferença pelos funcionários do banco e que ficou por mais de quatro horas sentado na mesa do gerente da sua conta aguardando para ser atendido. Depois da espera, ele dirigiu-se ao gerente-geral da agência para questionar a falta de atendimento. O gerente, contudo, acionou a polícia para retirá-lo à força do banco. Ele afirma que os policiais o trataram educadamente e convidaram ele e o gerente a resolver o problema na delegacia. O gerente, contudo, teria se recusado a acompanhar os policiais. Em um vídeo gravado pela filha de Crispim, já na presença dos policiais, o gerente do banco afirma que só iria à delegacia se o cliente fosse algemado e que não negociaria “com esse tipo de gente”. Os policiais, então, imobilizaram Crispim com uma “gravata” —golpe no qual a pessoa é imobilizada pelo pescoço— e o levaram para fora da agência bancária. Em uma postagem em uma rede social, Crispim criticou a atitude do banco e dos policiais. Disse que foi tratado de forma ríspida e alvo de preconceito racial. “Em nenhum momento eu fui mal-educado, grosseiro ou deselegante dentro daquela a agência bancária, mas fui tratado como um bandido”, disse Crispim. A repercussão do caso fez com que a agência bancária fosse alvo de um protesto com cerca de 50 pessoas nesta terça-feira. Entidades do movimento negro vão ingressar com uma representação no Ministério Público do Estado da Bahia nesta quarta. Em nota, a Polícia Militar da Bahia afirmou que “houve necessidade de empregar força desproporcional” porque o empresário se recusou a sair do banco. “Os policiais relataram que o cidadão começou a se exaltar e dizer que não sairia da agência sem ter a sua demanda atendida, contrariando a recomendação das autoridades que intervieram no conflito”, informou a nota. A PM ainda informou que será instaurada uma sindicância para apurar as circunstâncias da intervenção policial. O empresário registrou uma queixa na Corregedoria da Polícia Militar da Bahia.
Folha de S. Paulo