23 novembro 2024
Uma nova briga do governo com o Congresso pode atrasar a votação da reforma da Previdência. Agora, deputados da Comissão Especial da Câmara que analisa a proposta de mudança na aposentadoria ameaçam esvaziar a sessão marcada para hoje em represália a críticas do ministro da Economia, Paulo Guedes – que teria usado o termo “máquina de corrupção” para se referir ao Congresso –, e também ao atraso na liberação de emendas parlamentares. A estratégia conta com o apoio do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e inviabiliza a leitura do voto do deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), relator da reforma. A irritação ocorreu porque os deputados ficaram sabendo que, na noite de terça-feira, Guedes tinha atacado o Legislativo em conversa com o governador do Ceará, Camilo Santana (PT). Contrariado com “provocações” de Maia (DEM-RJ), que definiu o governo como “uma usina de crises”, Guedes teria afirmado que “o Congresso é uma máquina de corrupção.” O ministro negou que tenha usado a expressão nesse contexto. Já o governador disse que Guedes “nunca fez esse comentário na reunião”. Depois de subir à tribuna para dizer que “é inaceitável que sejamos chamados de máquina de corrupção”, o deputado Alexandre Frota (PSL-SP) voltou atrás e tentou conter a rebelião no plenário depois de conversar com o ministro por WhatsApp. “Eu disse que temos de trabalhar juntos e não cairia na provocação de reagir à acusação de usina de crises”, escreveu o Guedes ao deputado. Pouco antes dessa polêmica, o Congresso já demonstrava impaciência com a falta de articulação política do governo. Tanto Maia como o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, receberam governadores do Norte e Nordeste que querem incluir Estados e municípios na reforma da Previdência. As reuniões terminaram em impasse. Pouco antes, deputados já se queixavam de que o Palácio do Planalto não cumpre acordos. Líderes de vários partidos – do Centrão e da oposição – confirmaram ao Estado que o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, prometeu liberar neste ano R$ 20 milhões em emendas, para cada parlamentar, e outros R$ 20 milhões em 2020, antes das eleições municipais. A primeira leva seria paga em duas parcelas: R$ 10 milhões após o voto favorável à reforma na comissão especial e outros R$ 10 milhões depois da aprovação da proposta no plenário. A Casa Civil nega o acordo. “As emendas não estão sendo pagas e há uma justa reivindicação”, disse o líder do PL, deputado Wellington Roberto (PB). “Não é um toma lá, dá cá, mas esperamos que o governo cumpra o que a lei manda.”
Estadão