22 novembro 2024
Economista do Ministério da Economia. Mestre em Economia e Doutor em Administração Pública pela UFBA. Autor de diversos trabalhos acadêmicos e científicos, dentre eles o livro Política, Economia e Questões Raciais publicado - A Conjuntura e os Pontos Fora da Curva, 2014 a 2016 (2017) e Dialogando com Celso Furtado - Ensaios Sobre a Questão da Mão de Obra, O Subdesenvolvimento e as Desigualdades Raciais na Formação Econômica do Brasil (2019). Foi Secretário Estadual de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi) e Diretor-presidente da Companhia de Processamento de Dados do Estado da Bahia (Prodeb), Subsecretário Municipal da Secretaria da Reparação de Salvador (Semur), Pesquisador Visitante do Departamento de Planejamento Urbano da Luskin Escola de Negócios Públicos da Universidade da Califó ;rnia em Los Angeles (UCLA), Professor Visitante do Mestrado em Políticas Públicas, Gestão do Conhecimento e Desenvolvimento Regional da Universidade do Estado da Bahia (Uneb). Professor, Coordenador do Curso de Ciências Econômicas e de Pesquisa e Pós-Graduação do Instituto de Educação Superior Unyahna de Salvador.
Finalmente chegamos ao final do primeiro semestre deste crítico ano de 2015. Se partirmos de uma perspectiva otimista, essa primeira metade do ano pode ter sido a parte vazia daquele copo que, para os mais otimistas, estará sempre meio cheio. No entanto, o sentimento que parece estar se generalizando de forma muito rápida em todo o país, e nos seus mais diversos seguimentos sociais, é que nada do que aconteceu nesse primeiro semestre sugere uma melhoria significativa para os próximos seis meses ou até mesmo nos próximos anos.
A verdade é que o ano de 2015 vem se desenhando como o primeiro ano de uma série de anos muitos difíceis que podem estar por vir e isso não se trata de pessimismo e muito menos de desesperança, mas é pelo fato de que o ambiente social, político e econômico brasileiro se encontra em um momento de tensão jamais visto após ditadura militar. Há um sentimento de crise pairando sobre nosso país numa dimensão muito maior, até o momento, do que os efeitos concretos da crise que vem se estruturando.
Uma das explicações plausíveis para tal argumentação são os mais de vinte anos, praticamente interruptos, de melhoria relativa de bem-estar social, que com a simples possibilidade de um momento de inflexão que traga algum prejuízo para esse bem-estar, por menor que seja, pode levar alguns atores sociais a ter uma perspectiva mais assustadora do que, de fato, vem ocorrendo no nosso dia a dia.
É obvio que não estamos alienados em relação aos problemas reais que vimos enfrentando, desde as questões ligadas a corrupção, exaustivamente divulgados pelos meios de comunicação e pela sociedade política, até os desdobramentos da crescente crise de confiança nos governos, na economia e, especialmente, na política, cujos efeitos deletérios nessas respectivas áreas da sociedade já vem sendo sentidos a olhos nus. No entanto, existe algo anterior a isso que pode não justificar, a priori, a crise, mas nos ajuda a entender uma possível supervalorização da sensação de crise, qual seja, parte significativa de nossa população, principalmente os jovens e os adultos jovens, nunca se depararam, individualmente, com instabilidade macropolítica e macroeconômica, nos termos que estamos observando hoje.
Se considerarmos o período de vinte e um anos em que a economia brasileira vem experimentando crescimento econômico moderado e estabilidade monetária, podemos inferir que pessoas que possuem hoje até cerca de trinta e cinco anos de idade, nunca experimentaram a sensação de estar desempregado, com a grana sempre mais curta do que os preços de mercado e uma política econômica em constante processo de desestabilização. Alguns podem até ter estudado e aprendido algo sobre essa questão, mas a verdade é que a grande maioria da população nessa faixa etária, talvez só ouviram falar – e mal – sobre tudo isso!
Por outro lado, não existe possibilidade razoável de que alguém que sentiu na pele esse processo naqueles momentos da economia brasileira possa ter algum sentimento saudosista. Ao contrário, para essas pessoas que estão chegando ou que chegaram a meia idade, a situação é até mais assustadora: ou estão temendo pela manutenção do nível de conforto e de renda de sua família adquirido nos últimos tempos; ou temendo por não ter mais a possibilidade de dar o salto qualitativo em sua própria vida e dos seus, por ter se atrasado no aproveitamento das oportunidades econômicas no período de vacas gordas que parece ter chegado ao fim – pelo menos no médio prazo – para nós brasileiros.
Mesmo considerando os fortes componentes políticos e econômicos da situação de desconforto generalizada que ora vivenciamos, o que nos parece existir de mais verdadeiro por trás de tudo isso é o esgotamento da confiança da sociedade brasileira nas lideranças de pensamento que sustentaram os projetos políticos em disputa no país a partir da redemocratização nos anos de 1980. A disputa de hegemonia que vinha, de certa forma, equilibrando a gestão da economia, da política e do aparelho de estado, mediada por uma sociedade civil cada vez mais organizada, parece ter chegado a um profundo ponto de inflexão, sem a projeção bem delineada de qual direção orientativa a ser seguida a partir de agora. Por isso, não nos surpreende a erupção de focos conservadores no ambiente socioeconômico e político, por parte de atores sociais e agentes políticos que, oportunisticamente, vem apresentando as suas respectivas visões de mundo no exercício da política, a partir de um vácuo de “poder” que a cada dia parece maior que o dia anterior. Fica a dica: Gramsci precisa urgentemente voltar a pauta dos debates políticos. A alternativa a isso pode sem bastante amarga para os atuais dirigentes da Política.