22 dezembro 2024
Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.
Estamos em lua de mel com o novo prefeito. Afinal, sua posse, nesta terça feira, marcou o início de um novo ciclo para nossa velha Salvador cansada de guerra e, como não podia deixar de ser, são muito grandes as expectativas. Por outro lado, há uma percepção de que o abacaxi que ele encontrou não é tão doce assim e que dará certo trabalho para descascar. Em um primeiro momento isso quer dizer apenas que ele tem alguns créditos extras a gastar nessa relação antes que a rotina e o desgaste se instalem. Também é certo que, nos próximos anos, seus atos e palavras serão escrutinados, pela população e pela oposição, com “olhos de sogra”, para utilizar uma expressão que uma amiga, pesquisadora da UnB, emprega toda vez que avalia um trabalho de seus alunos.
Neste contexto, não deixa de ser um bom sinal que o novo prefeito tenha apontado em seu discurso de posse que ele não será um mero síndico da cidade, um simples cumpridor de tarefas, que seu olhar e seu fazer irão além dos, absolutamente necessários, cuidados básicos e diários com a cidade nas áreas de saúde, limpeza urbana, educação uso e ocupação do solo. Diz ele que pretende projetar uma capital para o século XXI.
Não sei se de forma deliberada ou intencional, mas essa fala do prefeito reflete uma importante distinção que existe na literatura gerencial entre as funções e papéis do gestor e as do líder. O papel do gestor emerge da necessidade de organizar, controlar, dirigir, planejar e coordenar organizações de trabalho. Seu trabalho está relacionado, principalmente, com o adequado funcionamento diário das organizações. Não deixa de ser curioso observar que na medida em que subimos na hierarquia, o trabalho do gestor passa a se caracterizar, cada vez mais, como fragmentado, variado, voltado para interação com outros comumente se estendendo para além da jornada normal de trabalho. De qualquer forma, a medida de sucesso do bom gestor é a eficiência e a eficácia das suas ações. No nosso caso, uma cidade limpa, um trânsito organizado, serviços públicos atuantes.
Enquanto a gestão se orienta, fundamentalmente, para o presente, a liderança aponta para o futuro. O líder tem sua imagem e seus papéis associados à mudança e à transformação. Não é por outro motivo que, apesar das controvérsias, a liderança pode ser compreendida como um processo de influência através do qual pessoas são levadas a compreender e a concordar com aquilo o que precisa ser feito e com a maneira de fazê-lo. A liderança é ainda um processo de facilitação/coordenação dos esforços individuais e coletivos para a realização de objetivos compartilhados. Já a medida de sucesso do coletivo como um todo é a principal medida definidora da atuação de um líder.
A Salvador de hoje foi lentamente construída (e desconstruída) ao longo dos anos pelas ações e omissões de suas sucessivas gestões. Todos deram sua parcela de contribuição à situação que hoje enfrentamos. Durante algum tempo a cidade resistiu bravamente, mas cobrou seu preço. Não devemos ter ilusões de achar que a atual gestão trará e terá todas as soluções que buscamos e precisamos. Se Neto for um bom gestor, a cidade será um lugar melhor para todos. Oxalá Neto possa ser um verdadeiro líder, para que possamos sonhar com uma Cidade para nossos filhos e netos como ela o foi para nossos pais e avós. Agora, se Neto não conseguir apontar uma direção e inspirar um novo propósito para nossa cidade estaremos todos prestando atenção nele, com olhos de sogra…