01 de setembro de 2011 | 23:37

As novas obrigações da imprensa

“O espaço político contemporâneo transferiu-se para os veículos de comunicação. Esta frase cunhada pelo sociólogo espanhol Manuel Castells já é quase um lugar comum entre os eleitores, mas a imprensa faz de conta que não tem nada a ver com a questão. Não há mais política sem os veículos de comunicação em massa, que foram transformados no ambiente preferencial para a definição do poder. As hegemonias não se decidem mais no Parlamento, mas nas manchetes de jornais e dos telejornais.  

Esta constatação já é corrente entre os pesquisadores da política contemporânea, mas ainda questionada pelos parlamentares e pela imprensa por causa de interesses corporativos. Deputados e senadores resistem a admitir que as sessões do Parlamento deixaram de ser relevantes como ambiente para a produção de atos políticos para se transformarem em cenário para protagonismos cênicos voltados mais para as câmeras e microfones do que para o plenário.

Já a imprensa acredita que continua sendo uma observadora isenta, quando de fato está fornecendo a matéria prima para que os marqueteiros formatem as mensagens que chegarão até nós, os consumidores de informações.

O tema parece complicado porque vai contra ideias, valores e comportamentos estabelecidos há tempos. Mas é quase óbvio. A midiatização da política, ou o que Castells chama de “política informacional”, é o resultado de um processo bem antigo e que no fundo está diretamente ligado a um fenômeno conhecido por todos nós – o crescimento demográfico e a democratização do acesso à informação.

Quando poucas pessoas estavam habilitadas a participar da política, votando ou não, e quando os canais de comunicação eram escassos, a política acontecia de forma direta, sem a necessidade de intermediários com a imprensa.

Mas, na medida em que a população do planeta cresceu, os veículos de comunicação de massa foram se tornando cada vez mais necessários para intermediar a relação não apenas entre as pessoas comuns, mas entre elas e os tomadores de decisões e os governantes.

O avanço da tecnologia também contribuiu, e muito, para que essa intermediação se tornasse cada vez mais complexa e generalizada. Como era inevitável, a intermediação gerou uma indústria altamente lucrativa no segmento da informação e do entretenimento. Não houve nenhum maquiavelismo premeditado no desenvolvimento da grande aldeia global prevista por Marshall McLuhan.

O problema surge quando os políticos e os executivos da indústria da comunicação ignoram ou minimizam as mudanças ocorridas na esfera da comunicação provocadas pelo surgimento da digitalização, da computação e da internet.

Os políticos fazem de conta que a política ainda é decidida nos parlamentos e nas urnas porque este é o ambiente que eles conhecem e controlam. Por sua vez, os executivos da indústria da informação e entretenimento, hoje cada vez mais entrelaçadas (infotainment), agarram-se ao discurso construído em torno a uma imprensa que já não existe mais, aquela em que a notícia era isenta de interesses políticos e onde as empresas eram movidas pela mais genuína preocupação com o público.”

Leia a íntegra em As novas obrigações da imprensa

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