27 novembro 2024
Por Raul Monteiro
O pito público que o presidente Lula deu em João Henrique (PMDB) na inauguração do Complexo Viário 2 de Julho, na última segunda-feira, foi tão combinado com Jaques Wagner quanto o vazamento que o governador autorizou sua assessoria a fazer ontem à noite de que teria rompido politicamente com o prefeito de Salvador.
Com o microfone em punho, Lula cobrou de João Henrique a conclusão das obras do metrô, jogando exclusivamente nas costas do prefeito toda a responsabilidade pelo empreendimento público mais polêmico do estado. Com um transbordante bom humor, o presidente chegou ao local da inauguração acompanhado do governador Jaques Wagner, que era só sorrisos.
Mas antes de subir ao espaço reservado às autoridades, Lula distanciou-se de deputados e ministros, pegou o governador pelo braço e, de forma a exibí-lo ao distinto público, levou-o para o receptivo próximo ao palanque, de onde só sairia cerca de uma hora depois para fazer o discurso que deixaria o prefeito João Henrique e auxiliares atônitos.
A esta altura, o presidente tomou conhecimento de que João Henrique defendera uma aproximação com o DEM para 2010 e chamara de novo o PT baiano de “traíra”, deixando o governador irritado. “Cheguei ao meu limite”, teria dito Wagner minutos antes de encontrar-se com Lula a um assessor, ao tomar conhecimento da declaração do prefeito.
A última edição da revista Veja, em que o ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional) concedeu uma entrevista às cobiçadas páginas amarelas, também teria apimentado a conversa do presidente com “o galego”, como Lula chama Wagner. Na presença do governador, Lula teria sido instado por um “companheiro” a comentá-la, mas não deu palavra.
Não foi o que aconteceu com deputados petistas baianos, doidos por um arranca-rabo entre o presidente e o ministro. Para eles, Geddel cometeu um erro estratégico na reportagem: não defendeu o presidente nem o seu partido, o PMDB. Outro “escorregão”: disse ter apoiado Lula porque o presidente deu seguimento à política econômica de Fernando Henrique.
A leitura é de um petista que acompanhou de perto a maioria dos lances que o presidente protagonizaria no palanque de segunda, quando o governador citou nominalmente os presentes, mas “se passou” na hora que a lista de autoridades bateu no prefeito da capital. Definitivamente, segunda não foi o dia de João Henrique. Aliás, …nem terça.