Foto: CBN/Arquivo
Prefeito ACM Neto anda em love com população de Salvador 30 de dezembro de 2013 | 11:04

Desejos inversos de oposição e governo para ACM Neto

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Ao deixar o local em que anunciou, na semana passada, o pagamento do 14º salário e a entrega de um tablet para os professores da rede municipal, o prefeito ACM Neto (DEM) estava trêmulo. O relato foi feito por mais de uma pessoa que esteve com ele naquele exato momento. Perguntado sobre a razão da emoção, ele confessou pelo menos a uma das testemunhas que, ao encerrar o evento, tinha a certeza de que cumprira uma etapa importante das metas que havia se colocado pessoalmente para finalizar bem o ano de 2013.

As outras, que avaliou estar alcançando aos poucos, estariam no plano das intervenções físicas que iniciou no segundo semestre e objetivariam mostrar à população de Salvador que está, efetivamente, determinado a cuidar da cidade e mudar sua face. A intensidade da satisfação do prefeito com relação à rede municipal de ensino tem uma razão de ser. Ele começou a gestão em guerra com parcela significativa da categoria por ter imposto às escolas um sistema de alfabetização, o Alfa e Beto, alvo de muitos questionamentos, inclusive, didáticos.

E, apesar de ter vencido a primeira batalha para sua implantação, passou a ser olhado com certa desconfiança com relação ao seu real compromisso com os professores municipais, especialmente os mais radicais, que agora supõe, pelo menos inicialmente, superado. A iniciativa do prefeito com relação à categoria é inédita num Estado em que, como na maioria da Federação, a classe, lamentavelmente, não é há muito tempo tratada com o devido e necessário respeito, a despeito da nobre e importantíssima função que desempenha.

Aliás, foi a Bahia cenário recente de um embate entre os professores e o governo do Estado que sobrou para o partido governista, o PT, de maneira exemplar, ou melhor, didática. Avaliando a eventual estratégia de se diferenciar da gestão municipal anterior e daquela excutada pelo governo baiano, a qual os professores estaduais não perdoaram nas eleições municipais passadas – birra que têm tudo para levar diante, até 2014 -, pode-se considerar que ACM Neto foi muito bem sucedido. A bem da verdade, seu antecessor, João Henrique, não saiu tão mal assim com a rede municipal.

Graças ao seu último e mais duradouro secretário de Educação, o deputado estadual João Carlos Bacelar (PTN), que planejou e executou uma política de valorização do professorado, o ex-prefeito despediu-se, como se diz, “de boa” com os professores municipais. O prestígio de Bacelar com a categoria e a maneira de operar a máquina o transformariam, na eleição municipal passada, ganha por Neto, na figura mais cobiçada da sucessão de João Henrique. As juras de amor que lhe faziam todos os candidatos desfariam-se num passe de mágica no momento em que definiu-se pelo democrata e o ajudou, ostensivamente, a ganhar a eleição.

Por reconhecimento a Bacelar, o prefeito o colocou ao seu lado no ato em que anunciou as medidas em benefício dos professores municipais e vibrou com ele pelas palmas que recebeu quando o nome do ex-secretário foi citado. Ações positivas de políticos que estão no exercício do Executivo normalmente resultam em aumento de popularidade, um atributo de que o prefeito não tem do que se queixar neste primeiro ano de governo que está acabando. Por isso, os candidatos oposicionistas à sucessão de estadual andam tão desesperados para que ele coloque sua mão sobre seus ombros. E o governo, igualmente desesperado para que ele não assuma posição.

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia.

Raul Monteiro*
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