Obra de Miguel Cordeiro (acervo do articulista) 06 de maio de 2015 | 16:19

BAIANADA: 70 anos de Raul e 35 do Camisa, por Pacheco Maia

bahia

Eu não curto Olodum, Ilê Aiyê, Carlinhos Brown, Ivete Sangalo, Chiclete com Banana, Luiz Caldas, pagode, arrocha… Eu sou um chato. Mas nasci na Bahia, terra também de Raul Seixas, Marcelo Nova e o Camisa de Vênus. Me identifico mais com a música e as ideias dessa turma aqui. Então, sem hipocrisia, falarei deles.

Pra começo de conversa, 2015 marca os 70 anos de nascimento de Raul Seixas e também os 35 anos do Camisa de Vênus. Desconheço qualquer movimentação concreta dos tais poderes públicos em promover algum tipo de homenagem ao Maluco Beleza. É até previsível. Raul nunca foi de ficar exaltando a farsa da baianidade. Muito pelo contrário.

Mas, a meu ver, até por isso, pela sua arte sincera e crítica, Raulzito deveria ser homenageado sempre, numa prova de que nem só de carnaval, mandingas e salamaleques se reduz a Bahia. Esses poderes públicos, que promovem tanta porcaria alienante, deveriam trabalhar pela ampliação do universo cultural baiano. Os 70 anos de Raul poderia ser um bom começo.

Uma sugestão ao pessoal do turismo. Aproveitem os 70 anos e coloquem uma estátua do Maluco Beleza no calçadão da Barra. Em tempos de selfies, seria uma atração para a localidade que carece ainda de atrativos que estimulem a visitação. Atualmente a roda gigante existente, ao lado do Farol, funciona mais como outdoor da marca que lhe banca do que como opção de lazer para os que lá aparecem.

E o Camisa de Vênus? Eles estão vivos. Marcelo Nova e Robério resolveram comemorar os 35 anos da banda. Estão com uma excursão nacional programada, que começa neste sábado, no Rio de Janeiro. Na semana passada, ocuparam uma página no caderno cultural de O Globo.

Em tempo de tantas aberrações petistas, Marceleza lembrou que lá atrás, quando o PT ainda era considerado a esperança nacional, ele já destilava seu irônico niilismo realista na canção “O Adventista”: “Eu acredito no Partido Trabalhista/Eu acredito, Eu acredito/Não vai haver amor/Neste mundo nunca mais”.

Assim como Raul Seixas, a sincera e crítica arte do Camisa de Vênus, pelo jeito, também não é bem-vinda à Bahia. Salvador até agora está fora da excursão, que, além do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, passa por Recife e Fortaleza. Como não se cansa de dizer o sábio Miguel Cordeiro: “Pacheco, Salvador é pirão perdido”. “Triste Bahia, ô quão dessemelhante”, em outras palavras profetizava Gregório de Mattos há 400 anos.

* Pacheco Maia é jornalista.

Pacheco Maia*
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