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Marcelo Odebrecht 17 de abril de 2017 | 06:55

Caixa 2 era usado para evitar ‘referência’ alta para doações, diz Marcelo

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Em depoimento de delação premiada, Marcelo Odebrecht, ex-presidente do grupo que leva seu sobrenome, fala da doação de R$ 2 milhões ao governador do Acre, Tião Viana (PT), e explica o motivo que fez a empresa se valer de caixa dois para repassar a maior parte do montante combinado. Segundo ele, a doação não poderia ser oficial para que não se criasse uma ‘referência’ com relação ao apoio financeiro para campanha. “Não tem como a Odebrecht aparecer de doadora oficial de 2 milhões para o governador do Acre”, afirmou Marcelo Odebrecht. “Imagina doar dois milhões de reais para uma candidatura do governador do Acre. Imagina quanto criaria de expectativa para governador de São Paulo?”, explica Marcelo, sugerindo que uma doação alta seria vista pelos outros políticos, que passariam a exigir repasses ainda superiores. “Às vezes você até gostaria de doar mais oficial, mas e a referência que você cria?”, disse o delator. “Essa questão do caixa dois criou um ciclo vicioso que acabava alimentando. No caixa dois você não tem controle do que vai para campanha ou do que não vai para campanha. Esse processo tinha que ser rompido”, disse aos investigadores, durante depoimento de delação premiada. Ele explicou que a empreiteira doou R$ 500 mil de forma oficial e outro R$ 1,5 milhão em caixa dois. O pedido de doação à candidatura de Tião Viana foi feito pelo irmão do governador, senador Jorge Viana (PT), ainda de acordo com Marcelo. “Eu fui muito franco. Disse: ‘Jorge não tenho como doar R$ 2 milhões de reais que você está me pedindo para a campanha do governador do Acre. Isso foge de qualquer relativismo nosso interno. Por mais relação que eu tenha com você, não tem como eu fazer isso’”, conta o delator. Segundo o executivo, ele próprio sugeriu ao petista procurar o então ministro da Fazenda Antônio Palocci para que pedir que doação a Tião Viana fosse descontada da conta que a empreiteira possuía para pagamentos ao governo. “Aí sugeri a ele: ‘eu tenho, você sabe, um valor que eu acerto com o Palocci. Então se você conseguir de Palocci que eu desconte do valor que eu tenho alinhado com ele, tudo bem’”, contou Marcelo Odebrecht. Segundo o ex-presidente da empresa, a doação de R$ 2 milhões saiu da conta “planilha italiano”, que servia para fazer os pagamentos ao governo do PT. No relato, Marcelo Odebrecht conta que o PT tinha a “questão da arrecadação centralizada”, diferentemente de outros partidos – e cita o PSDB e o PMDB.

Estadão
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