Foto: Ag. Brasil/Arquivo
Procurador federal Carlos Fernando dos Santos Lima concede entrevista à Folha 28 de julho de 2017 | 08:40

Procurador admite que acordo com Joesley foi ruim para imagem da Lava Jato

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Em entrevista concedida à Folha de S. Paulo, o procurador federal Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos principais integrantes da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, admite que o acordo celebrado pela Procuradoria Geral da República que livrou o empresário Joesley Batista e os executivos da JBS da cadeia, prejudicou a imagem da maior operação contra a corrupção do mundo. “Temos dois fenômenos: a partir do momento em que as investigações passaram para o PMDB, as pessoas perguntaram: espera aí, não é só o PT? Começamos a explicar que não é uma questão partidária, é uma questão de crime. E segundo, a JBS, que realmente em termos de comunicação foi muito complicado para o Ministério Público. O acordo é muito mal compreendido pela população. Isso é um erro nosso. Seja porque o benefício talvez tenha sido deferido de uma forma muito leniente, seja porque [o MP] não se preparou adequadamente para comunicar”, disse Lima, o primeiro procurador a se manifestar publicamente sobre o polêmico acordo com o controlador da JBS, rejeitado por mais de 70% da população, segundo pesquisa DataFolha. Apesar de afirmar que tem respeito pela mesa de negociadores da PGR, ele diz que faltou uma percepção clara de como a população avalia os fatos envolvendo a operação, como no caso da liberação da viagem de Joesley para os Estados Unidos logo depois da divulgação dos grampos que fez do presidente Michel Temer (PMDB). “Faltou um pouco disso. E depois ter uma percepção clara de como a população encaras as coisas. Você [Joesley] vai para Nova York? Não, você não vai. Desculpe, você não vai ser filmado”, declarou o procurador, confirmando o dano à imagem da Lava Jato. “Houve um dano de imagem a toda a investigação, que contamina tudo. De repente, aqui no Paraná, nos vimos tendo que responder sobre isso”, afirmou, admitindo que outro ponto polêmico da delação da JBS foi o fato de o procurador Marcelo Miller, muito ligado ao procurador geral da República, Rodrigo Janot, ter sido contratado pelo escritório de advocacia que representa a JBS. “Até onde eu sei ele não participou do acordo. Mas realmente é outro problema que deveria ter sido percebido. […] Esse era um caso para que houvesse esse tipo de questionamento, e não era conveniente que ele participasse. Teria sido uma decisão acertada se ele tivesse se negado a fazer”.

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