Foto: Marcos Arcoverde/Estadão
O presidente afastado do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), Aloysio Neves 03 de abril de 2018 | 20:30

Ex-presidente do TCE-RJ pediu entrega de propina ‘com cuidado’

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O presidente afastado do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), Aloysio Neves, pediu a um empresário supostamente encarregado de lhe entregar suborno que tivesse cuidado nessa ação, em diálogo registrado em gravação anexa à denúncia do Ministério Público Federal (MPF) contra conselheiros do órgão, acusados de corrupção. O áudio foi gravado às escondidas pelo executivo Marcos Andrade Barbosa Silva, da empreiteira União Norte Fluminense Engenharia, no apartamento de Neves, em 13 de dezembro de 2017, depois que a Polícia Federal começou a desmantelar o esquema. O empresário entregou o material gravado ao MPF, como parte de acordo de delação premiada, agora parte do processo. Silva foi até ao local para entregar R$ 150 mil a Neves, mas ao chegar disse ao ex-conselheiro que só tinha R$ 80 mil do dinheiro acordado, por receio de ser descoberto. No mesmo dia, o então presidente do órgão, Jonas Lopes de Carvalho Júnior, havia sido alvo de uma condução coercitiva, o que, supostamente, alertou os envolvidos no esquema. Ao chegar ao apartamento do conselheiro afastado, Silva explica, no diálogo cuja gravação foi entregue à Justiça, ter pedido ao motorista para deixá-lo em rua próxima e caminhando até a residência de Neves. Era uma suposta medida de segurança. Afirmou também que, devido à ação policial, não usou mochila para levar as cédulas: escondeu o dinheiro nas roupas. “Eu vou vir assim, aí, aqui ó”, diz no áudio o empresário, que dividiu o valor da propina entre os bolsos da calça e do blazer. “Eu imaginei que tava aí”, retruca o conselheiro, rindo. “Aqui tem sessenta, tem mais dez aqui e dez aqui, oitenta”, diz o empresário. “Tá”, responde Neves, na gravação. Silva também afirma que só foi ao encontro de Neves porque sabia que ele “estava precisando muito”. O conselheiro lhe pede que continue tocando o esquema, mas com cuidado. “Tem que ser com cuidado. No dia-a-dia. Quando sentir dificuldade, fala para o André (operador do conselheiro) que ele pode passar num lugar e pegar”, recomenda Neves. “Quando for véspera de Natal, posso voltar aqui para te dar um abraço e trago, como vim hoje, assim e blazer”, sugere o empresário dizendo que a sua mulher e família também estão com medo. “Lá em casa está todo mundo apavorado, você imagina. A gente fica apavorado, mas tem que ser sangue-frio. Mas as pessoas que estão em volta da gente não têm”, diz. “Mas mulher não tem sangue-frio, a preocupação que você tem é a que eu tenho. Eu acho que eles vão me lincar (sic)”, diz Neves referindo-se à sua ligação com o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), de quem foi assessor na presidência da Assembleia Legislativa do Rio. Leia mais no Estadão.

Estadão Conteúdo
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