Foto: Reprodução Facebook
Deputado federal Jean Willys decidiu se auto-exilar por medo de morrer 25 de janeiro de 2019 | 19:17

As ameaças que levaram Jean Wyllys a sair do Brasil: ‘Vou te matar com explosivos’, ‘quebrar seu pescoço’

brasil

BRASÍLIA – “Vou te matar com explosivos”, “já pensou em ver seus familiares estuprados e sem cabeça?”, “vou quebrar seu pescoço”, “aquelas câmeras de segurança que você colocou não fazem diferença”. Nos últimos dois anos, o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) viveu uma rotina semanal de ameaças de morte. Disparadas pelas redes sociais, no e-mail e telefone do gabinete em Brasília, ou no e-mail pessoal do próprio deputado, os textos levaram a Polícia Federal a abrir cinco investigações sobre as ameaças e obrigaram o deputado a andar com escolta policial desde março do ano passado. Ele era acompanhado o tempo todo por três agentes e transportado com o suporte de dois carros blindados. O GLOBO teve acesso nesta sexta-feira ao conteúdo de dezenas de ameaças contra Wyllys. Marcadas por declarações de ódio e de preconceito, elas se avolumaram ao ponto de fazer o parlamentar desistir de assumir o terceiro mandato como deputado federal, para o qual havia sido eleito em outubro passado com pouco mais de 24 mil votos. Na tarde de ontem, por volta das 14h30, Wyllys pegou até mesmo os assessores do seu gabinete de Brasília de surpresa ao anunciar a decisão de renunciar ao mandato e se mudar para o exterior. O clima de luto tomou conta do local. — Ele estava cada vez mais abalado pela situação e sempre falava que se sentia como se estivesse em cárcere privado sem ter cometido nenhum crime— disse um dos assistentes sobre a última vinda de Wyllys a Brasília, no início do mês. Desde o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), em março, Wyllys pouco saía de casa e limitava sua vida a compromissos de trabalho. O endereço onde mora, no Rio, era tratado como um segredo e compartilhado apenas com poucos amigos e familiares mais próximos. Segundo assessores, a campanha para se reeleger em 2018 foi feita basicamente via redes sociais, sem agendas de Wyllys na rua. A renúncia do deputado repercutiu rapidamente nas redes sociais e nos portais de notícias, mas não livrou o parlamentar das mensagens de seus algozes. Por volta de 16h45 de quinta, duas horas depois da entrevista concedida por ele ser publicada, um novo e-mail, enviado de um endereço apócrifo chegou aos assessores do deputado. “Nossa dívida está paga. Não vamos mais atrás de você e sua família, como prometido. Mesmo após quase dois anos, estamos aqui atrás de você e a polícia não pôde fazer para nos parar”. Esse foi apenas o desfecho de um longo período de “terrorismo psicológico”, como definiu o parlamentar. Em novembro do ano passado, Wyllys afirmou ao GLOBO que “a campanha de fake news montada pelos inimigos da democracia que agora chegam ao poder (sobretudo a mentira do inexistente “kit gay”)” o transformaram “num pária para os eleitores desse maldito”, referindo-se a Bolsonaro. Disse ainda que esses grupos invadiam diariamente suas redes “com dezenas de milhares de xingamentos e ameaças, e colocou minha vida em risco em quase todos os lugares do Brasil”.

Jornal O Globo
Comentários