Foto: Wherter Santana / Estadão
Luiz Eduardo Ramos 17 de junho de 2019 | 12:54

Novo ministro de Bolsonaro, general Ramos tem relação próxima com PT e PSOL

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Mais novo ministro de Jair Bolsonaro, o general Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), conhecido como uma espécie de relações públicas do Exército e também do presidente, carrega algo tido como incomum, e às vezes até inaceitável, para o atual governo: tem proximidade com políticos da esquerda, do PT ao PSOL. Na última semana, Bolsonaro fez duras manifestações contra os então presidentes dos Correios, general Juarez Aparecido de Paula Cunha, e o do BNDES, Joaquim Levy, por ligação com petistas. Levy pediu deixou o cargo neste domingo (16), e Cunha está de aviso prévio no governo. Durante a campanha, enquanto o comando das Forças Armadas pedia discrição, Ramos nunca escondeu de que lado estava. Além de visitas ao hospital para ver Bolsonaro, após o episódio da facada, ele intermediou entrevistas e fez postagens em redes sociais para defender o amigo. Desde antes de se confirmar o resultado da eleição, as pessoas mais próximas já cravavam: o general teria algum cargo no governo. Seis meses depois, o general chega nesta segunda-feira (17) para integrar o ministério do presidente. De acordo com relatos de aliados de Bolsonaro, o presidente já tratava Ramos como um ministro havia algum tempo. Tanto que, na terça-feira (11), levou o general num jantar promovido pelo presidente da Fiesp, Paulo Skaf, com 45 empresários de diferentes setores da economia. Segundo participantes do encontro, o comandante militar do Sudeste já circulava e posava para fotografias como futuro ministro ao lado de nomes como Abílio Diniz, Lázaro Brandão, Carlos Zarlenga e Rubens Ometto. Próximo de políticos, em março, Ramos causou surpresa em parlamentares da bancada paulista do PSL. Por seu convite, houve um almoço de deputados na sede do Comando Militar do Sudeste, em São Paulo, do qual era chefe antes ser promovido ministro. O objetivo do encontro era falar sobre a reforma da Previdência. O general reservou ao seu lado três lugares, para Arlindo Chinaglia (PT-SP), Ivan Valente (PSOL-SP) e Paulinho da Força (SD-SP), causando perplexidade em Alexandre Frota (PSL-SP) e Carla Zambelli (PSL-SP). Mais do que o gesto, Ramos fez questão de falar sobre a relação próxima que mantém com os deputados das siglas de esquerda. A conversa foi além da proposta de reestruturação da carreira e de mudanças na aposentadoria. Falou-se da inexperiência do presidente Jair Bolsonaro na articulação política, do papel do vice, o também general Hamilton Mourão, e da crise na Venezuela. Naquele mesmo dia, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) havia defendido no Chile o uso da força para tirar o ditador Nicolás Maduro do poder. “Como profissionais da guerra, defendemos a paz”, disse Ramos, sem constrangimento em contrariar o filho do presidente na frente de seus correligionários de partido. A disposição ao diálogo, mesmo com aqueles que estão em campo oposto a seu posicionamento político-ideológico, é apontada como sua principal característica. O bom trânsito entre políticos foi construído quando integrou a assessoria parlamentar do Exército no Congresso. Em 2006, por exemplo, o deputado Ivan Valente (PSOL) foi convidado pelos militares para uma missão na Amazônia. A viagem de cerca de uma semana acabou aproximando o parlamentar do general. “Se eu fosse ele, não iria para o ninho de cobras do bolsonarismo. Ficaria em São Paulo. Aqui o diálogo rola mais solto. Vou dizer isso a ele se me consultar”, afirmou Ivan Valente à reportagem.

Folha de S. Paulo
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