Foto: JF Diorio/Estadão
22 de agosto de 2019 | 06:39

Suíça revela as contas secretas de Ferro, cunhado de Marcelo, genro de Emílio Odebrecht

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Documentos compartilhados por autoridades da Suíça com a Operação Lava Jato mostram que o chefão da área jurídica da Odebrecht Maurício Ferro usou o Setor de Operações Estruturadas – a máquina de fazer propinas do grupo – para enviar dinheiro para o exterior. São milhões de dólares em contas na Suíça e nos Estados Unidos que estão na mira da força-tarefa do Ministério Público Federal, em Curitiba, que deflagrou junto com a Polícia Federal nesta quarta-feira, 21, a fase 63 da Lava Jato, batizada de Carbonara Chimica.

A Justiça Federal mandou prender Maurício Ferro, ex-vice-presidente Jurídico da Odebrecht, o advogado Nilton Serson e Bernardo Gradin, ex-presidente da Braskem. Ferro foi preso pela Polícia Federal. Serson é procurado. Gradin foi alvo de buscas. A nova etapa da Lava Jato foi deflagrada por ordem do juiz Luiz Antonio Bonat, da 13.ª Vara Criminal Federal de Curitiba. Os investigadores miram o papel de Ferro e suposto crime de lavagem de dinheiro relacionados à propinas milionárias aos ex-ministros Antônio Palocci e Guido Mantega (Fazenda/Governos Lula e Dilma) em troca da edição de Medidas Provisórias (MPs). As MPs 470/2009 e 472/2009, no Governo Lula, instituiriam um novo refinanciamento de dívidas fiscais e permitiriam a utilização de prejuízos fiscais das empresas como forma de pagamento (Refis da Crise).

O MPF chegou a pedir a prisão de Mantega, que já havia sido detido e depois foi solto, mas Bonat negou e determinou o uso de tornozeleira eletrônica e o impedimento de deixar o País ou movimentar contas no exterior. Mantega responde já ação penal por corrupção e lavagem de dinheiro no caso. Ferro também é réu nessa caso por seu envolvimento com corrupção. Maurício Roberto de Carvalho Ferro, apesar de ser executivo da empreiteira, não fechou acordo de delação premiada com a Lava Jato. Ele é casado com Mônica Odebrecht, filha de Emílio e irmã de Marcelo Odebrecht, que também é advogada. Ao todo, 77 executivos da empreiteira decidiram colaborar com a Justiça e revelaram uma rotina de pagamentos de propinas a políticos e agentes públicos.

No final de março, a força-tarefa pediu a Bonat que fosse acrescida nova acusação de crimes contra Maurício Ferro no processo que tem como alvos Mantega, Palocci, executivos da Odebrecht, no âmbito da corrupção na edição da MP 470, o “Refis da Crise”. Foram acrescidas imputações de lavagem de dinheiro pelo genro de Emílio. O pedido de inclusão de Ferro e dos dados contra ele no caso considerou documentos recebidos do Departamento Federal de Polícia e Justiça da Suíça, que supostamente indicaram que Mauricio Ferro possuía contas offshore na Suíça que teriam sido utilizadas para receber US$ 8 milhões via Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht. Assim, foram acrescidas imputações de lavagem de dinheiro contra ele.

A Suíça comunicou a identificação de oito transferências de US$1 milhão cada para conta em nome da empresa offshore Art Escrow Limited S.A., que teria Mauricio Ferro como beneficiário. Os valores saíram da conta da offshore Innovation Research Engineering and Development Ltd., que fazia parte da estrutura de contas secretas da Odebrecht usada pelo setor de propinas. Uma investigação interna da Braskem S.A. – braço petroquímica da Odebrecht, que tem como sócia a Petrobrás -, no âmbito do acordo de leniência celebrado com o Ministério Público Federal, também apontou novos elementos contra Ferro. O documento da apuração foi encaminhado à força-tarefa em Curitiba em junho e anexado à ação penal contra Guido e Palocci sobre as MPs. Nela Ferro já era réu, mas houve um pedido de acréscimo, em que foram imputados novos crimes a ele.

Estadão
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