Foto: Fernanda Chagas / Política Livre
Sessão ocorre em meio a protestos 06 de novembro de 2019 | 15:23

Vazamento de acordo e pressão de motoristas leva Câmara a suspender apreciação de vetos a projeto de aplicativos

salvador

Numa sessão que já começou extremamente tensa, com protestos de uberistas e taxistas na Praça Municipal e nas galerias, o presidente da Câmara de Salvador, Geraldo Jr. (SD), anunciou há pouco que a votação dos vetos do prefeito ACM Neto (DEM) ao projeto que regulamenta o transporte por aplicativos na cidade foi suspensa, só voltando à ordem do dia quando o Executivo municipal apresentar uma proposta formal à Casa.

“Quando ocorrer formalmente um encaminhamento de uma proposta para que possamos atender os anseios da sociedade civil, que não se resume a uberistas e taxistas, votaremos os vetos do prefeito ao projeto”, assegurou. Conforme ele, até lá a pauta continua sobrestada, o que impede os vereadores de votarem qualquer tema na Casa. “E não faço nenhuma previsão de votação, pois não há nenhum tema em nossa pauta que seja mais importante que esse”, disse.

Antes, porém, ele acusou o Colégio de Líderes da Casa de ser manipulado. O líder da oposição, vereador Sidninho (Podemos) lhe chamou a atenção para o fato de que ele teria esquecido de citar que se trata de mais uma estratégia das “forças ocultas”. “Mas peço que o senhor reconsidere, pois trata-se de um projeto maculado e armado para que caísse em nosso colo, cujo desgaste quem mais tem sofrido somos nós”, protestou o oposicionista.

Na verdade, o presidente da Câmara decidiu suspender a sessão para votar os vetos depois que um grande mal estar tomou conta da Câmara no momento em que os vereadores tomaram conhecimento da existência de um áudio atribuído à vereadora Lorena Brandão (PSC), que se encontra no exterior, alertando a liderança dos motoristas de aplicativos para um acordo que permitiria que os vetos do prefeito ao projeto fossem mantidos em votação marcada para hoje.

Na mensagem, Lorena atribui ao líder do governo na Câmara, vereador Paulo Magalhães Jr., a informação de que haveria um acordo entre os vereadores para manter os vetos do prefeito. O entendimento, na verdade, foi fechado durante uma reunião do Colégio de Líderes, ontem, na qual os vereadores decidiram que votariam os vetos sem grande estardalhaço. Fez parte do acordo, inclusive, a bancada de oposição, que ficou revoltada com o vazamento da informação.

O alerta de Lorena mobilizou rapidamente a categoria dos motoristas, que marcharam para a porta da Câmara Municipal desde o final da manhã, onde fizeram protesto pela derrubada dos vetos. Num grupo que os vereadores mantém no WhatsApp, o vereador Toinho Carolino (Podemos) fez um forte protesto contra o vazamento da informação para Lorena sem citar, no entanto, diretamente Magalhães.

“Ontem, no Colégio de Líderes, fizemos um acordo de Cavalheiros. Significa empenho da palavra. E só quem tem caráter sabe o que isso significa isso. Mas infelizmente um entre nós vazou, avisou para um dos pares que está ausente do país a fim de criar e nos colocar em situação difícil com a cidade e a classe interessada na derrubada do veto. Essa pessoa não merece mais a confiança dos vereadores que estavam presentes ontem no acordo de líderes”, declarou.

Outros vereadores entraram na discussão condenando o procedimento de Magalhães, que ficou em situação ainda mais delicada para lutar pela própria manutenção na liderança do governo, já que no áudio atribuído a Lorena a vereadora deixa claro que foi avisada por ele da manobra que os vereadores fariam a partir do que ficou acertado no Colégio de Líderes. Um vereador da base governista procurou este Política Livre para afirmar que o áudio de Lorena é uma prova de que o líder do governo conspirou contra o prefeito ACM Neto (DEM).

Fernanda Chagas
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