Foto: Divulgação/Arquivo pessoal
Carballal, Vovô do Ilê e Bruno: parceria e convite a vice que resultou, inclusive, em vaias ao pré-candidato do DEM 10 de fevereiro de 2020 | 15:17

Bruno fura cordão esquerdista do Ilê, leva vaias e amplia embaraço de Arany

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A polêmica passagem no sábado à noite do pré-candidato do DEM a prefeito, Bruno Reis, pela sede do Ilê Ayê, um tradicional reduto esquerdista, onde foi vaiado, abriu uma crise entre a entidade e o governo do Estado que colocou em posição de mais fragilidade a secretária estadual de Cultura, Arany Santana.

Da diretoria do mais famoso e antigo bloco afro baiano, ela já vinha sendo alvo de ataques porque a secretaria teria imposto exigências à entidade e ao Olodum para liberar o patrocínio do governo, o que abriu mais espaço para uma aproximação entre os blocos e a gestão de ACM Neto (DEM) e seu candidato.

Exigências não cumpridas pelas entidades colocadas por um edital estadual que garantiria a transferência de recursos para a participação no Carnaval estariam na base do conflito, aprofundado com o fato de a festa para a escolha da beleza negra do Curuzu ter recebido recursos também da Prefeitura.

A situação teria levado a tensão entre Arany, os blocos e o governo ao máximo, obrigando a que ela marcasse um encontro de emergência com representantes de ambos para hoje à noite a fim de tentar reverter o imbróglio e buscar uma alternativa de financiamento aos blocos, a duas semanas do Carnaval.

O problema é que, enquanto isso, Bruno correu por fora, conseguiu articular ajuda da Prefeitura e, com o auxílio do vereador Henrique Carballal (PV), recursos privados junto a amigos para o Ilê, ganhou trânsito na entidade e acabou sendo convidado para membro do juri que escolheu a nova beleza negra, oportunidade em que foi vaiado.

A aproximação com Vovô o levou a convidá-lo para ser seu vice, proposta que o fundador do bloco recusou, por enquanto. Antes do anúncio de seu nome, porém, Bruno circulou à vontade no grande salão e junto à cúpula que comanda a Senzala do Barro Preto, onde chegou à noitinha, acompanhado apenas de  Carballal (PV).

Criado na Liberdade, o vereador é um dos responsáveis por entrosar o vice-prefeito com o bloco. A major Denice Santiago, da PM, que o governador Rui Costa planeja filiar ao PT para disputar a Prefeitura de Salvador, a deputada estadual Olívia Santana,  nome do PCdoB para a sucessão, e as pré-candidatas petistas Vilma Reis e Fabya Reis também foram à festa.

Mas o que mais indignou setores do governo foi, conforme contou hoje um secretário estadual, Arany não ter alertado ninguém sobre a aproximação de Bruno com o Ilê. Ele lembrou da reforma que, na gestão de José Sérgio Gabrielli, a Petrobras promoveu no espaço e de todo o dinheiro liberado pelas gestões petistas para a entidade.

“Não tinha o menor cabimento permitir que o bloco pudesse se aproximar de gente que, na nossa visão, é, além de  inimiga política, contrária aos interesses do povo negro de Salvador”, declarou, dizendo que o governador saberá avaliar o papel de Arany nesta “desfeita”.

As vaias a Bruno foram comemoradas pelo presidente do PT municipal, Ademário Costa, que enviou release à imprensa na manhã de domingo sobre a ocorrência. “As vaias são uma demonstração de que a elite colonial que domina salvador há 470 anos não pode mais comandar a cidade como antes”, festejou.

Carballal preferiu ver os apupos como uma reação das esquerdas que sempre dominaram o pedaço ao fato de Bruno ter furado o cerco que mantinham historicamente sobre o bloco. E desafiou o governador Rui Costa a enfrentar o ambiente a que Bruno foi: “Bruno teve coragem, foi lá, se expôs. O governador iria? Não foi.”

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