Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados/Arquivo
Ministro Sérgio Moro, verdadeiro e talvez único defensor da agenda contra a corrupção e impunidade no governo 13 de fevereiro de 2020 | 07:32

Moro e a resposta que os petistas não gostaram de ouvir, por Raul Monteiro*

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O ministro da Justiça, Sérgio Moro, cravou ontem uma frase ao participar de uma audiência no Congresso que deve ficar para a história. Pelo menos a do PT. Ele disse que o miliciano foragido Adriano da Nóbrega foi “assassinado” pela “polícia de um Estado administrado pelo Partido dos Trabalhadores”. Moro respondia a acusações de que, dias antes, tinha tirado o próprio Adriano da lista de mais procurados pela polícia, dirigida a ele por petistas furiosos que, exatamente como aqueles macacos que se negam a olhar para o próprio rabo, haviam esquecido, tudo indica que por conveniência, exatamente o que acabaram ouvindo do ministro.

Aliás, ainda respondendo aos parlamentares do PT, ao lamentar o episódio de morte do ex-capitão e cobrar da polícia baiana uma explicação para a ocorrência, Moro parece que se aproximou do ex-presidente Lula, seu maior, porém não único, inimigo na classe política, onde, de uma ponta a outra do espectro ideológico, se localiza o maior entrave para o avanço da cruzada de combate à corrupção e a impunidade que o ministro vitoriosamente deflagrou por meio da Operação Lava Jato. Segundo deputados do PT da Bahia, o líder petista também teria ficado uma arara ao tomar conhecimento de que Adriano da Nóbrega fora morto pela polícia baiana.

Lula teria feito uma análise rápida. Vivo, o miliciano não era apenas um arquivo, mas, em sua avaliação, que não deve diferir da de Moro, um verdadeiro tesouro contra o presidente Jair Bolsonaro e sua família por ter sido relacionado na investigação que apura a prática de “rachadinha” por parte do senador Flávio Bolsonaro, quando ele era deputado pelo Rio de Janeiro. Em seu gabinete, Flávio empregou não apenas a ex-mulher como a mãe do miliciano por meio de uma figura prosaica chamada Fabrício Queiroz, também foragido e possivelmente hoje sob o mesmo risco que o ex-capitão morto na Bahia.

Não deve ter sido por acaso que, seguindo na mesma linha de provocação ao ministro, os parlamentares do PT cobraram dele que Queiroz fosse colocado imediatamente no programa de proteção a testemunhas, medida que, depois da morte de Adriano, se tornou, além de oportuna, necessária para que se proceda a devida apuração sobre as denúncias de envolvimento dos Bolsonaros com a milícia carioca. Se a pronta resposta do ministro às críticas sobre sua atuação no caso de Adriano impuseram aos petistas algum constrangimento, hoje não deve ser pequeno o seu mesmo por participar de um governo com agenda cada vez mais dúbia em relação a ele e à sua pasta.

Depois de perder o Coaf, que virou UIF, órgão essencial às investigações sobre corrupção, para o Banco Central, e uma batalha pela indicação do chefe da Polícia Federal no Rio de Janeiro, reduto bolsonarista, Moro só não lhe viu escapar das mãos o controle sobre toda a PF porque ameaçou deixar o ministério, levando com ele a popularidade de Bolsonaro. O episódio, no entanto, deixou cristalino quem, no governo, brande verdadeiramente a agenda contra a corrupção e a impunidade que, a partir do histórico trabalho da Lava Jato, com seus exageros, mas fundamentalmente seus acertos, foi definitivamente abraçada pela maioria dos brasileiros.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

Raul Monteiro*
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